Be Bold. Seja corajoso, na tradução para o português. Mentalidade que, independentemente do idioma, move o dia a dia da Vtex, plataforma global nascida no Brasil que busca oferecer uma solução completa de digital commerce com base numa experiência omnicanal para o cliente. Fundada em 2000, a empresa tem apostado em soluções para expandir as operações no País e pelo mundo, projeção que a levou a abrir capital na bolsa de valores de Nova York, em 2021, na qual está avaliada em US$ 1 bilhão. “Foi [o IPO] muito importante para nos posicionarmos como marca global, que é o que somos hoje”, afirmou à DINHEIRO a general manager, Rafaela Rezende. “E muito importante para ganharmos visibilidade, para ganharmos notoriedade, para passarmos a confiança de que a gente precisava.”

A Vtex prevê crescimento de 15% a 19% na receita este ano, após faturar US$ 157,6 milhões em 2022, além de transacionar US$ 12,7 bilhões em volume bruto de mercadorias em sua plataforma de e-commerce, o que representa um crescimento anual de 31,3%.

Segundo Rafaela Rezende, que assumiu o posto há quase dois meses, após liderar a área de Vendas e Atendimento ao cliente, 45% da receita já é proveniente da operação internacional, composta por 19 escritórios em 38 países. “O Brasil ainda é o nosso mercado majoritário, mas não somos mais uma empresa puramente local. Somos uma empresa global”, disse a carioca, há três anos na companhia.

Foco em vários mercados

Como parte do processo de internacionalização, a Vtex visa ampliar a atuação pelos EUA e Europa. “A expansão começa agora. Estamos germinando as primeiras sementes. Queremos muito mais”, afirmou a executiva.

A investida da empresa ao exterior começou em 2013, na Argentina, e já cruzou o planeta. “Recentemente, o Casino [grupo francês de varejo] tornou-se nosso cliente, o que nos dá maior visibilidade internacional.”

Apesar da busca por mercados globais, a Vtex tem concentrado os investimentos em inovação no Brasil. Em 2022, foram R$ 260 milhões.

Para este ano, entre os projetos em desenvolvimento está o que envolve a utilização da inteligência artificial como facilitador na jornada de compra.

“Imagina você pegar uma lista de supermercado e jogá-la no WhatsApp. Aí, por meio da inteligência artificial, eu monto um carrinho para o cliente, que poderá finalizar a compra em menos de dois minutos.”
Rafaela Rezende, general manager da Vtex

A estratégia de negócios da empresa é voltada ao digital commerce, mais abrangente do que o e-commerce. “Vai muito além de uma tela de computador ou de um celular”, afirmou, ao destacar que a Vtex quer ser o backbone do digital commerce, com capacidade de interligar tudo da loja.

A empresa conecta todo o estoque dos clientes em diferentes canais de venda, seja WhatsApp, loja física ou live shopping. Segundo ela, ao possibilitar uma experiência omnicanal para o cliente, o vendedor também desempenha papel fundamental, como um personal shopper. E se torna chave na jornada.

Por exemplo, para melhorar a conversão, ou permitir acesso a produtos para aqueles que não conseguem comprá-los exclusivamente pelo comércio eletrônico.

O crescimento da Vtex durante os 23 anos de atuação fica evidente no potencial dos clientes da plataforma. São mais de 2,6 mil B2C, B2B e B2B2C, tendo mais de 3,8 mil lojas on-line ativas pelo mundo.

O trabalho da plataforma é baseado em soluções e produtos. Cinco deles foram apresentados no Vtex Day, evento de varejo, negócios e inovação digital realizado anualmente pela bandeira e que reúne pessoas e empresas interessadas em tecnologia, negócios e empreendedorismo. Na última edição, a principal palestrante foi a top model Gisele Bündchen.

Desafios

Apesar do crescimento anual, a Vtex está suscetível às adversidades globais, principalmente econômicas. E a escassez de caixa é vista como um dos principais desafios na atualidade.

Diante da situação, que resultou em um processo de reestruturação da empresa desde o ano passado, inclusive com corte de pessoal — hoje são 1,3 mil pelo mundo (eram pouco mais de 1,7 mil) —, Rezende disse que é hora de fazer bem o básico.

“Dinheiro é um desafio. É preciso usá-lo da forma mais inteligente”, afirmou. “Não só olhando o custo da solução, mas todo o custo de se operar uma solução.”

Na visão da executiva, as empresas precisam vencer a vaidade e o medo apresentado principalmente em relação à tecnologia. Muitas organizações, segundo ela, ainda acreditam que ter poder é sinônimo de ter tudo na mão, de possuir times grandes. “O mundo está mudando. Não adianta você ter um time de 2 mil pessoas e no fim a sua empresa quebrar”, disse. “Poder é longevidade.”

A estratégia de negócios da plataforma é vista com bons olhos por Eduardo Tomiya, fundador da TM20 Branding. O especialista aprova o processo de internacionalização da companhia, mas cobra atenção pelo ritmo de crescimento.

“Além da necessidade de capital forte, a empresa precisa ter atendimento”, afirmou. E, apesar do risco natural de toda investida, Tomiya acredita que o plano da Vtex está alinhado às tendências de longo prazo, a um novo tipo de consumidor.

“Eles [da Vtex] têm de fazer com que seja uma estratégia que chamamos de ‘glocal’ – internacional, mas com um ponto local muito forte”, afirmou. “Mas é fato que a receita proveniente do exterior já é bastante relevante.”