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Consumo em alta: nos próximos cinco anos, o mercado de luxo crescerá a uma média de 35% ao ano

O mercado chinês de produtos de alto padrão movimentou US $ 8,6 bilhões no ano de 2008

Por muito tempo os japoneses foram considerados os consumidores de luxo mais frenéticos do mundo. Era muito comum ver filas intermináveis na porta de lojas de grifes na ocasião do lançamento de algum produto e consumidores que colecionavam modelitos de uma determinada marca. Cenas como essa serão cada vez mais raras.

O país, antes visto como o celeiro do universo do bem viver, foi um dos mais afetados pela crise financeira e a voracidade do consumo de bens de luxo não é mais a mesma. Em 2008, as vendas das grifes no país caíram 10% e, para 2009, as previsões são alarmantes. Estudos do FMI apontam para uma queda de 5,4% no PIB. É a pior recessão desde a Segunda Guerra Mundial. As marcas, porém, já descobriram um novo mercado que pode vir a ter a mesma rentabilidade que o japonês.

Trata-se da China, que desponta como o novo destino de investimentos das grifes. Apesar de o mercado de luxo japonês ainda movimentar mais que o chinês – são US $ 15 bilhões contra US $ 8,6 bilhões -, estudos mostram que isso está para mudar. Uma pesquisa realizada pela consultoria americana McKinsey aponta que, até 2015, o mercado chinês de luxo se igualará ao japonês e, sem seguida, o ultrapassará. Se a economia japonesa continuar caindo, então, os chineses os ultrapassarão bem antes. Não faltam indícios para comprovar essa tese.

Neste ano, segundo o Banco Central da China, o PIB do país deverá crescer 8%. No mercado de luxo, o salto é ainda maior. De acordo com a consultoria americana Bain & Company, o segmento crescerá de 20% a 35%, anualmente, nos próximos cinco anos. O grupo LVMH, por exemplo, dono de marcas como Dior e Louis Vuitton, planeja investir USUS$ 500 milhões na construção de shopping centers e na abertura de novos pontos de venda na terra de Mao.

Detalhe: só a Louis Vuitton já possui cerca de 27 lojas na China. Ao mesmo tempo que pretende investir pesado no mercado chinês, a marca vai abandonando projetos no Japão. Tanto é que desistiu de abrir uma nova loja em Tóquio. A joalheria Cartier, outro ícone do consumo classe A, também enfrenta dificuldades no Japão e mira os olhos para a China. A grife, que atualmente possui 32 lojas no país, quer dobrar de número nos próximos cinco anos.

Essas tomadas de decisão derivam dos excelentes resultados que as marcas estão tendo no mercado chinês. A BMW, por exemplo, apresentou queda de 19% em suas vendas globais nos primeiros sete meses do ano. Na China, entretanto, as vendas subiram 26%. Ainda por lá, a Mercedes vendeu 44,3 mil carros desde o início do ano – 52% a mais do que no mesmo período de 2008.

Os números favoráveis, é verdade, também são puxados pelo crescimento do número de milionários e de bilionários. Segundo o relatório Hurun, que lista os homens mais ricos da China, o número de bilionários no país chegou a 130 em 2009. Foi o suficiente para pôr a China na segunda colocação entre os países com o maior número de ultraricos, atrás apenas dos Estados Unidos.

“A crise foi uma bênção disfarçada para a China”, afirma Charles Tang, presidente binacional da Câmara de Comércio e Indústria Brasil China. “Temos juros civilizados e câmbio favorável. Assim o país está recebendo investimentos maciços, as pessoas estão enriquecendo e a economia está crescendo”, completa Tang. O governo estima que cerca de 170 milhões de pessoas, 13% da população, têm condições de adquirir bens de luxo.

E esse número subirá para 250 milhões de pessoas em 2010, de acordo com a consultoria China Association of Branding Strategy. Na Terra do Sol Nascente, porém, as novidades não são tão animadoras. As vendas do grupo LVMH caíram 20% no primeiro semestre de 2009. Mesmo os brasileiros que vendem por lá perceberam os efeitos da crise.

“Sentimos que nossos clientes passaram a comprar menos. O movimento caiu cerca de 20%”, diz Isabela Capeto, estilista que há seis anos vende suas criações em seis pontos de venda no Japão. Quanto à possibilidade de abrir unidades na China, Isabela ainda é reticente. “O mercado japonês já conhece o trabalho dos estilistas brasileiros, ao passo que o chinês está se abrindo agora. Mas eu adoraria vender para lá”, explica Isabela.

“A China ainda é um mercado pouco desenvolvido. O entusiasmo com as marcas de luxo é natural”, diz Vera Lopes, diretora do Luxury Marketing Council (LMC) no Brasil, uma entidade que reúne empresas de luxo de diversos segmentos em várias capitais do mundo. Mesmo o LMC acaba de abrir um escritório em Hong Kong. A entidade até tentou se instalar no Japão, mas o escritório acabou não vingando – um sinal dos novos tempos.