23/01/2013 - 21:00
Em um ano em que ganhar dinheiro fácil com a renda fixa não foi nada fácil e no qual o Índice Bovespa operou com alta volatilidade por conta da crise internacional, os gestores de fundos tiveram muito trabalho para fazer as escolhas certas em suas carteiras. No entanto, uma classe de ativos de renda variável conseguiu sobressair-se nesse cenário de incertezas: 2012 foi o ano das small caps, empresas com pequeno valor de mercado, conhecidas por sua liquidez reduzida, na comparação com as ações de empresas de maior porte. O Índice Small Cap, criado pela BM&FBovespa para medir o retorno de uma carteira composta para esse grupo, rendeu 28,7% no ano passado, quase quatro vezes mais que os 7,4% do Ibovespa, irrigando o desempenho de alguns fundos de ações especializados.
Segundo a Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiros e de Capitais (Anbima), os fundos de ações small caps registraram a segunda maior rentabilidade da indústria no ano, de 20,56%, atrás apenas dos fundos de renda fixa índices, que ganharam com a inflação. De acordo com Carlos Massaru, vice-presidente da Anbima, estratégias diferenciadas em ações levaram à superação do Ibovespa. Ganhou mais quem tentou superar o índice de referência (gestão ativa), em vez de apenas tentar segui-lo (gestão passiva). “A gestão ativa fez a diferença e superou o retorno de produtos passivos”, afirma Massaru. Werner Roger, sócio da Victoire Brasil Investimentos e gestor da estratégia small caps, apostou em empresas baratas, avaliando os resultados das companhias e com foco no longo prazo.
Seu fundo Victoire Small Caps Ações FI ficou no topo do ranking dos mais rentáveis em 2012, com valorização de 52,2%. “O segredo é não mudar muito de posição, olhando um horizonte de dois a três anos e buscando empresas geradoras de lucro”, afirma Roger. “Cerca de 65% de nossa carteira, no final de 2012, era idêntica à de três anos atrás”, diz. Otimista para 2013, o gestor revela que vai se manter na estratégia, focando em empresas que não sofrem tanta interferência da política econômica, mas que tendem a ganhar com melhorias e incentivos governamentais. As apostas do fundo para este ano serão Marcopolo, São Martinho e Helbor, que subiram 82%, 67% e 82% em 2012 e que devem reproduzir o bom desempenho por conta do apoio do governo no setor industrial.
Foco no Brasil: estratégia de Walter Maciel (sentado) e welliam wang, da quest investimentos,
foi selecionar papéis voltados ao cenário doméstico
“É uma estratégia vencedora, mas que, muitas vezes, nos obriga a fugir do consenso e a nadar contra a corrente”, diz Roger. O cenário interno foi o foco do fundo Quest Small Caps FIC FIA, da Quest Investimentos, que obteve rentabilidade de 48,09% no ano passado. “Nossa estratégia foi ficar exposto a papéis do cenário doméstico e fugir do externo, que foi prejudicado pela crise internacional na Europa e pelas incertezas na China”, afirma Welliam Wang, analista e cogestor do fundo. Outro ponto determinante para o bom resultado é a liquidez dos papéis. “Temos um conceito de liquidez muito conservador”, afirma Walter Maciel, sócio da gestora.
“No ano passado, mantivemos quase 70% da carteira em ações que negociavam mais de R$ 7,5 milhões por dia”. Para 2013, o desafio dos gestores será identificar os papéis que entregarão bons retornos no longo prazo. “Dentro do universo de small caps, temos um menu muito interessante de possibilidades”, afirma Maciel. A maior parte das posições de 2012 deve ser mantida em 2013. “Acreditamos que há espaço para as empresas continuarem crescendo acima da média do mercado”, afirma Wang. Entre as apostas, destaque para Kroton, que faz parte de um setor, como a educação, que pode se beneficiar de uma consolidação e do apoio do governo; Brazil Pharma, que tende a ser favorecida pelo aumento da expectativa de vida da população; e Embraer, que deverá tirar proveito dos investimentos em infraestrutura aeroportuária anunciados.
Werner Roger, da Victoire Investimentos, apostou em empresas baratas
Também voltado para a liquidez, e de olho nos resultados, o Rio Verde Small Caps FIA, da Rio Verde Investimentos, completa a lista dos três fundos mais rentáveis da categoria em 2012. O retorno de 39,18% pode ser atribuído ao bom e velho stock picking: “Em 2012, o foco foi escolher bem os papéis, identificar oportunidades em empresas que estavam subavaliadas ou que estavam na eminência de mudar o patamar de resultados”, afirma Eduardo Cavalheiro, sócio da gestora, que apostou no setor de educação. Para 2013, a estratégia de buscar liquidez e preço baixo será mantida. Entre as apostas do fundo para este período estão a varejista Le Lis Blanc e a empresa de logística JSL. “As duas empresas fizeram, no ano passado, importantes investimentos”, diz Cavalheiro.
“Elas devem, a partir de agora, entregar resultados, com os investimentos retornando ao caixa.” De acordo com Felipe Silveira e Marco Aurélio Barbosa, analistas da corretora Coinvalores, o segredo para garimpar boas oportunidades entre as small caps está em conhecer bem as empresas-alvo. “É importante que o investidor olhe a fundo o que a empresa faz, quem são seus fornecedores e seus clientes”, afirma Silveira. Para 2013, sua recomendação é concentrar-se em papéis ligados à infraestrutura e ao setor de autopeças, que estão sendo estimulados pelo governo. “O ano deve ser positivo para essa classe de ativos e, mesmo aqueles papéis que entregaram bons retornos em 2012, devem continuar rentáveis, principalmente o de companhias voltadas para o mercado interno”, diz Silveira.