28/03/2007 - 7:00
MARISA LETÍCIA A atual primeira-dama na abertura da exposição ao lado de dois vestidos criados por Walter Rodrigues
Proclamada a República em 1889, o Brasil trocou rainhas por primeiras-damas. De lá para cá, 34 mulheres receberam o título de grande prestígio e razoável poder. Em meio a todas elas, uma se destaca: Marisa Letícia, mulher do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Calma! Isso acontece na exposição Jogo de Damas ? perfis femininos na história republicana, que permanecerá no Palácio do Planalto até 2 de abril. A mostra parece ter sido criada para ela. Dos cinco vestidos apresentados, dois são de Marisa ? um amarelo e, obviamente, um vermelho ?, ambos criados pelo estilista Walter Rodrigues. Além dos trajes em destaque, a senhora Lula da Silva é reverenciada em dois retratos e sua biografia não divide espaço com ninguém. De pano de fundo, as demais primeiras-damas aparecem em meio a mulheres importantes, que ajudaram a construir a história republicana, como a primeira eleitora, Celina Guimarães Vianna, e a primeira prefeita eleita, Alzira Soriano, da cidade de Lajes, no Rio Grande do Norte. Curiosamente, a ex-garota de programa Bruna Surfistinha foi lembrada. Sabe-se lá sua relevância republicana.
O papel das primeiras-damas é, de certa forma, visto como secundário pela maioria da população. Não é. Em alguns casos, elas têm o poder de amenizar conflitos. Basta conhecer um pouco da trajetória de Jacqueline Kennedy (1929-1994), a mulher que reinventou a função de mulher do presidente dos Estados Unidos nos memoráveis anos Camelot, para entender o que isso significa. Além de influenciar os costumes na década de 60, ela ajudou a construir a imagem de seriedade do presidente John Kennedy, tido como playboy por líderes como o francês Charles de Gaulle e o premiê Nikita Kruchev, o comandante da União Soviética nos tensos anos da Guerra Fria. O Brasil, guardadas as proporções, teve a sua ?Jackie?. Era Maria Thereza Goulart, mulher do presidente deposto pelos militares João Goulart. Mas apenas uma gargantilha prateada e pérolas artificiais, acompanhadas de pulseira e brinco, representam a mulher que foi considerada uma das mais chiques do País.
A MAIS ELEGANTE Maria Thereza Goulart era comparada a Jackie Kennedy
PERUA ASSUMIDA Yolanda da Costa e Silva e seus trajes desconcertantes
GOSTO DUVIDOSO Rosane Collor saiu pela porta dos fundos do Palácio do Planalto e não foi lembrada
Depois de Maria Thereza, para tristeza de quem apreciava a beleza e, acima de tudo, a sensatez, chegou a vez das esposas dos militares. O destaque ficou com Yolanda da Costa e Silva. A mulher do marechal Arthur da Costa e Silva era uma perua assumida e não escondia de ninguém a forte influência que tinha sobre o marido, incentivando-o na desastrosa idéia de criar o Ato Institucional nº 5 (AI-5), que fecharia o Congresso. Na exposição, ela é representada por um longo bege bordado com lantejoulas. Há ainda um vestido usado por Lucy Geisel, esposa do general Ernesto Geisel, e outro de Alzira Vargas, filha do presidente Getúlio.
Quem visita a exposição fica decepcionado com o acervo. Faltam, ali, personagens dos anos pós-regime militar. Não se vêem Marly Sarney, mulher de José Sarney, o primeiro presidente civil, e Rosane Collor, ex-mulher de Fernando Collor, dona de um gosto duvidoso e que saiu do Planalto pela porta dos fundos. Também não é possível encontrar a intelectual Ruth Cardoso, mulher de Fernando Henrique, que inaugurou a reeleição. Uma exposição fraca para o que ela se propõe: mostrar as mulheres que construíram a história republicana.