19/04/2006 - 7:00
O tom pausado da voz de Paulo Mendes da Rocha é o avesso do movimento arquitetônico que ele ajudou a trazer para o Brasil nos anos 1950: o brutalismo. Era uma versão paulista da escola européia, ?limpa, crua e clara?, com estruturas de ferro e aço à mostra e concreto aparente. Na semana passada, Mendes da Rocha, de 78 anos, teve sua trajetória coroada pelo mais respeitado prêmio em sua área, o Pritzker. Ele já foi oferecido a grandes nomes como Norman Foster e Renzo Piano. Somente um outro brasileiro, Oscar Niemeyer, tinha levado a menção, em 1988. ?O Pritzker é a demonstração da excelência dos arquitetos brasileiros, de sua rica formação e do modo como conseguem superar as dificuldades de um país socialmente desigual?, disse Mendes da Rocha à DINHEIRO. ?O prêmio não é meu?.
Com suavidade, sem ferro e aço, ele tenta reduzir a importância de seu trabalho. ?Ele faz a poesia do concreto?, diz o arquiteto Francisco Fanucci. ?Suas soluções para espaços abertos são referência mundial?. É o caso do Museu Brasileiro de Escultura, o Mube, em São Paulo, de 1988, e também da recuperação da Pinacoteca do Estado, de 1999, mistura perfeita do patrimônio histórico com novos materiais. Pode-se dizer que o Pritzker destinado a Mendes da Rocha traz lições econômicas (além dos US$ 100 mil destinados ao vencedor). Representa um deslocamento do interesse pela arquitetura. É um olhar para as nações mais pobres que, diante dos orçamentos escassos e abissais dificuldades sociais, criam outra arquitetura, mais barata e criativa. ?Nossas cidades tem apenas 300 anos de vida arquitetônica, o que é muito pouco?, diz Mendes da Rocha. ?Por isso talvez não saibamos cuidar dos rios, da natureza, das matas?.