O magnata egípcio Mohammed
Al-Fayed nunca escondeu de ninguém o amor que sente pela Harrods, a loja de departamento mais famosa da Inglaterra. A ligação afetiva é tamanha que ele chegou a dizer que, após sua morte, gostaria de ser embalsamado e colocado dentro do sarcófago que decora a loja. Este sonho, ao que parece, não deverá tornar-se realidade. É que circula nas rodas de negócio da City londrina rumores de que Fayed está à cata de um comprador para a Harrods. As mesmas fontes informam que as conversas só não chegaram a um bom termo, ainda, porque o magnata pediu alto demais: US$ 3,26 bilhões. Analistas de mercado dizem, no entanto, que a companhia vale cerca de um quarto deste valor. Referência mundial na venda de produtos sofisticados, a Harrods vem perdendo rentabilidade nos últimos anos. O balanço anual encerrado em fevereiro de 2002 (o último disponível) mostra um lucro de US$ 36 milhões, montante cinco vezes menor que o apurado em 2000. Por conta disso, especula-se também que, na impossibilidade da venda, Fayed poderia optar em atrair um sócio capaz de injetar recursos e também cuidar do dia-a-dia da companhia. Isto porque Fayed decidiu fixar residência em Genebra (Suíça), após perder uma disputa judicial com o fisco britânico, no valor de US$ 390 milhões. Com é de praxe em situações deste tipo, a direção da empresa nega qualquer negociação: ?A Harrods não está à venda por valor nenhum?, garante um lacônico porta-voz da companhia.

Apesar das negativas, está mais do que claro que há algum tempo as coisas não andam bem no reino de Fayed. No final de fevereiro, Martha Wikstrom, principal executiva da Harrods, deixou o cargo. A saída ? que em tempos normais não passaria de uma corriqueira troca de executivos ? ajudou a botar mais lenha na fogueira. Martha era a queridinha do magnata egípcio e fora guindada à posição há menos de dois anos. Tinha como missão ampliar a rentabilidade da companhia. O desempenho da executiva foi prejudicado por vários fatores. Um deles foi a queda no número de turistas, por conta dos atentados de 11 de setembro de 2001. Os clientes de outros países respondem por uma parcela expressiva das receitas.

Realeza. O ocaso de Fayed começou em 1997, após a morte de seu filho Dodi e da namorada, a princesa Diana, num acidente de carro em Paris. Apesar de ter cultuado boas relações com a família real e o partido conservador, Fayed jamais conseguiu obter a cidadania britânica. Inconformado com a perda do filho, o magnata passou a acusar o governo e a realeza pela tragédia. Resultado, tornou-se pessoa não grata no Palácio de Buckingham e em Downing Street 10, residência oficial do primeiro-ministro Tony Blair. Sua fortuna pessoal é um mistério. Além da Harrods, Fayed é dono do time de futebol Fulham, de Londres, e do luxuoso hotel Ritz, de Paris. Estes dois ativos também não vão bem. O balanço de 2002 fechou no vermelho em US$ 39 milhões e US$ 4,2 milhões, respectivamente. Sob seu comando está ainda uma vasta coleção de propriedades de luxo, que incluem castelos na Escócia e mansões nos bairros mais exclusivos de Londres. Fayed tenta sobreviver à maré de más notícias com a esperteza de quem criou um império multibilionário através de tacadas de mestre e bons contatos. Resta saber se sua mágica ainda é poderosa o bastante para sobreviver à tempestade de más notícias.