20/02/2008 - 7:00
DINHEIRO – Esta semana a General Motors divulgou o balanço de 2007 com prejuízo recorde de US$ 38 bilhões em 2007. O que provocou a perda? JAIME ARDILA – O prejuízo de US$ 38 bilhões foi devido a um ajuste contábil de impostos realizado no terceiro trimestre. Não tem relação com as operações e não traz impacto em termos de caixa. É um lançamento único, que não se repetirá no futuro. Uma vez que os resultados foram ajustados, a GM teve um breakeven em 2007, o que ainda não é um desempenho satisfatório, mas é bem diferente do que sugerem os números reportados. Em 2008, esperamos melhoria contínua das operações, em função de novos produtos, das reduções de custo nos Estados Unidos e do rápido crescimento nos mercados emergentes, incluindo o Brasil.
DINHEIRO – Em janeiro, a GM foi a única montadora americana que cresceu nos Estados Unidos. É um sinal consistente? ARDILA – A indústria americana está fraca e foi prejudicada pela crise financeira. Ainda assim, a GM cresceu. Isso aconteceu graças a uma linha de produtos em que o veículo para passageiro ganha força e a uma redução de custo estrutural de US$ 9 bilhões. A gente acredita que essa mudança nos fez chegar próximo aos custos das montadoras japonesas. Agora, precisamos melhorar a receita.
DINHEIRO – De outro lado a GM Laam (região que inclui o Brasil) teve lucro recorde de US$ 1,3 bilhão. Qual foi o papel da GMB no desempenho?
ARDILA – Não divulgamos resultados financeiros por país. Em vendas, a GMB apresentou crescimento de quase 22% e o Brasil tornou-se o terceiro maior mercado para a GM, atrás dos Estados Unidos e da China, com volume de quase 500 mil unidades. Isto representa uma contribuição significativa ao aumento de vendas e receitas da empresa.
DINHEIRO – O sr. assume a presidência da subsidiária brasileira no melhor momento da indústria local.Qual será o foco de sua gestão?
ARDILA – Eu estive no Brasil muitas vezes e acompanhei de perto uma indústria fraca inserida em uma economia instável. O momento atual da indústria é realmente muito melhor não só pelo crescimento dos últimos anos, mas também pelos indicativos de que esta é uma evolução sustentada. Os fundamentos macroeconômicos do País estão mais fortes e temos um grande potencial de crescimento porque há uma disponibilidade de crédito que não tínhamos antes.
DINHEIRO – Neste cenário, o que o sr. fará em sua administração?
ARDILA – Minha grande missão na General Motors do Brasil é fazer essa companhia crescer, e rápido.
DINHEIRO – A crise dos subprimes está provocando uma retração de crédito nos Estados Unidos. Este movimento não o preocupa?
ARDILA – É quase impossível que uma crise na maior economia mundial não tenha impacto nos outros mercados. Sobretudo, quando esta crise está no mercado financeiro. Mas acredito que no Brasil esse impacto será relativamente pequeno.
DINHEIRO – Por quê?
ARDILA – O Brasil provou ao mundo que consegue ter uma economia estável. Isso o tornou um bom lugar para investir. Além disso, o crescimento do País e da indústria está ancorado na demanda doméstica.
DINHEIRO – Os chineses ameaçam?
ARDILA – China e Índia serão competidores mundiais importantes. Têm mercado, engenharia e estão adquirindo a nossa tecnologia. Mas acredito que levará tempo para que sejam competitivas. O Brasil está na frente.
DINHEIRO – No Brasil, a política de juros no futuro o preocupa?
ARDILA – Acho que o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, vem trabalhando muito bem ao manter a inflação sob controle com um crescimento de crédito razoável.
Essa é a base de crescimento da economia. A evolução dos últimos anos mostra claramente que o governo quer um país forte com crescimento não só do setor financeiro como também do setor real da economia.
DINHEIRO – O ministro do Desenvolvimento, Miguel Jorge, já anunciou o desejo de ver a produção nacional chegar a cinco milhões de unidades até 2012. Como estão as conversas com o governo para criar condições para que a indústria chegue lá?
ARDILA – A indústria automotiva está muito bem representada no governo. Além do ministro Miguel Jorge, o próprio presidente Lula conhece muito bem o funcionamento do setor, suas carências e fortalezas. Quanto aos 5 milhões de unidades, não há uma conversa formal com metas para que se cumpra este objetivo. O que existe é uma vontade grande de chegarmos lá.
Este ano ultrapassaremos a marca de 3 milhões de unidades, e se crescermos 10% ao ano chegaremos a 4 milhões em 2010. A meta é factível se o governo mantiver as regras do jogo claras e estáveis. A decisão de fazer acontecer, no entanto, é de cada montadora.
DINHEIRO – A GM trabalha para viabilizar essa produção?
ARDILA – Sim. No passado, sofremos com gargalos na produção, especificamente na produção de motores. É uma equação que precisamos resolver, já que temos um plano de crescimento agressivo. No ano passado, nosso CEO, Rick Wagoner, anunciou investimento de R$ 500 milhões e logo depois outro pacote de R$ 500 milhões.
DINHEIRO – A GM tem crescido, os planos são agressivos, mas hoje a empresa está em terceiro lugar no ranking nacional.
ARDILA – A participação de mercado tem que ser o resultado de ações bem-feitas, e não um objetivo. Precisamos merecer a confiança do consumidor para que eles queiram a marca Chevrolet.
DINHEIRO – O problema é imagem?
ARDILA – Não. O que freia o nosso crescimento é produção. Crescemos rápido, mas o ritmo da indústria surpreendeu a todos. No ano passado, produzimos 100 mil unidades a mais, alta de 22%. Mas a indústria cresceu 28%! Tivemos dificuldade para atender à demanda, mas já estamos resolvendo este problema.
DINHEIRO – Como?
ARDILA – No curto prazo, vamos importar componentes, e logo teremos alguns investimentos. Mas não posso anunciar nada por enquanto.
DINHEIRO – Há interesse na compra da Tritec, fábrica de motores construída pela Chrysler e BMW, no País?
ARDILA – Não. Nós fizemos estudos e chegamos a conversar com a Chrysler sobre a compra, mas as conversas foram interrompidas. Preferimos nos voltar a outras oportunidades.
DINHEIRO – Uma nova fábrica de motores no Brasil?
ARDILA – É possível, mas não é uma decisão tomada.
DINHEIRO – A GM fornece o motor 1.8 usado pela Fiat. Esse contrato provocou o gargalo?
ARDILA – Quando assinamos este documento, não imaginávamos que o mercado cresceria tanto. Nós temos um contrato com a Fiat para o fornecimento do motor até 2010. Está assinado, não há o que discutir.
DINHEIRO – A Ford acabou de lançar o Novo Ka. A GM prepara um novo carro para competir com o modelo?
ARDILA – Não há planos de um novo compacto. Nossas pesquisas apontam que o consumidor brasileiro prefere o Celta. É difícil, para mim, considerar a concorrência uma forte ameaça quando temos uma aceitação tão grande do nosso produto.
DINHEIRO – O ex-presidente da GM Ray Young chegou a anunciar a intenção de produzir um carro brasileiro para mercados emergentes. Como está o projeto?
ARDILA – O Brasil tem uma enorme capacidade para desenvolver carros. Mas, em nossa corporação, trabalhamos com plataforma global. Este é o futuro dos investimentos.
DINHEIRO – O Brasil é o centro mundial de desenvolvimento de picapes médias do grupo. Já há data para o lançamento desse produto?
ARDILA – O produto está em desenvolvimento e o lançamento será simultâneo no Brasil e na Tailândia, mas não há uma data. As picapes serão vendidas internamente e exportadas em regime CKD (completamente desmontadas).
DINHEIRO – E como estão as exportações da companhia?
ARDILA – Em queda. Vamos aumentar as exportações para a Argentina e reduzir para outros mercados como o México, para onde enviaremos 25 mil veículos contra 80 mil no passado. A verdade é que a produção de manufatura não é competitiva com o câmbio atual. Com o real forte, o negócio é o mercado interno.
DINHEIRO – A General Motors é a dona da maior fábrica de CKD da América Latina, modalidade que caiu 25% em 2007. Como estão aproveitando a fábrica?
ARDILA – Felizmente, CKD é uma fábrica flexível onde se pode acrescentar ou reduzir com facilidade. Hoje, nosso único cliente importante em CKD é a África do Sul e a fábrica está totalmente subutilizada, operando em um turno. Mas, se voltarmos a ser competitivos, voltaremos a crescer facilmente.
DINHEIRO – Planos de importação?
ARDILA – Estudamos importar um veículo de baixo volume do México. O Captiva, uma SUV média, é uma das possibilidades.
DINHEIRO – A GM vai manter a liderança mundial?
ARDILA – Ficamos felizes com a manutenção da liderança em 2007 e vamos trabalhar para mantê-la.