15/10/2008 - 7:00
“SENHOR PRESIDENTE, EU gostaria que o senhor ajudasse a cuidar dos nossos autódromos.” Foi assim, em um tom que lembra o pai que pede a proteção de seus filhos, que Geraldo Rodrigues, presidente da ReUnion, empresa de marketing esportivo, se manifestou ao presidente Lula. O executivo – responsável pela organização de diversos eventos esportivos, entre eles a etapa brasileira do Mundial de Vôlei de Praia – acabara de levar ao presidente um convite para prestigiar a prova nacional do campeonato mundial de veículos esportivos, categoria conhecida como GT3. O pedido inusitado, lançado ao final de uma audiência no Palácio do Planalto, em junho passado, esticou a “conversa além do previsto. Lula pediu a Rodrigues que descrevesse o estado das pistas em que são disputadas as principais provas de automobilismo no Brasil. E o relato que ouviu não foi nada animador. No Brasil, afirmou Rodrigues, apenas dois autódromos estão em plenas condições de uso – o de Interlagos, em São Paulo, e o Autódromo Internacional de Curitiba, pertencente a um grupo privado. De resto, os outros principais locais, como Rio de Janeiro, Brasília e Goiânia, carecem de estrutura. Os problemas vão desde a necessidade de recapeamento do asfalto à falta de luz e de água. Lula, que desconhecia a situação, pediu a ele que voltasse ao Planalto dentro de 90 dias, levando um projeto para a reforma dos circuitos. “Se os projetos forem colocados em prática, ao final teremos cinco autódromos de primeira linha”, afirma Rodrigues. “Assim receberíamos mais provas internacionais.”
O presidente da ReUnion já tem esse plano e ele é simples: propor que a iniciativa privada financie a reforma dos autódromos e, em troca, receba espaço publicitário no local e benefícios como o uso da pista para realizar promoções. “Gostei muito da idéia”, afirma Emerson Fittipaldi, empresário e ex-piloto, bicampeão mundial de Fórmula 1. “Acredito que muitas empresas ligadas ao automobilismo vão querer ajudar”, explica Fittipaldi. Mas há ainda um longo caminho. “Da última vez que estive no autódromo do Rio, três funcionários meus voltaram com dengue”, conta Rodrigues. Segundo ele, roubos de fio de cobre, de caixas de água e até de vasos sanitários dificultam a organização de eventos lá. Em Goiânia, o autódromo está abandonado e o de Brasília, de 1974, nunca teve o asfalto recapeado. “Um investimento de R$ 2 milhões a R$ 3 milhões por autódromo já ajudaria muito”, estima. “Seria R$ 1 milhão para o asfalto e o resto para as instalações.
Pode-se dizer que de automobilismo a ReUnion entende. Em 1992, Rodrigues aproximou-se do esporte através da produção de uniformes para pilotos da Fórmula 1. Naquela época, recebeu o convite do então piloto Maurício Gugelmin para ajudar na captação de patrocínio. Seus clientes seguintes seriam Rubens Barrichello, Toni Canaã, Ricardo Zonta e Luciano Burti. Foi então que Rodrigues decidiu parar de vez com os uniformes e fundar a ReUnion, primeira agência de marketing esportivo brasileira especializada em automobilismo. Há dois anos, a empresa tornou-se parte do Grupo ABC, de Nizan Guanaes, e inciou um processo de diversificação. Hoje a empresa gerencia a carreira de 14 pilotos e agencia três equipes da categoria Stock Car. Está envolvida ainda com o Mundial de Vôlei de Praia, o X-Games, torneio de esportes radicais, e a GT3. Seu faturamento gira em torno de R$ 80 milhões. Para Luis Pozzi, autor do livro A Grande Jogada: Teoria e Prática de Marketing Esportivo, a possibilidade de sucesso do projeto é grande. “As empresas que investirem têm muito à ganhar, desde que fique bem claro quem é responsável pelo quê”, aponta Pozzi. De Lula, espera-se agora que compre a idéia e dê a largada para a recuperação dos autódromos.