Por Alexandre Inacio

Quanto vale o show? O bordão foi criado por Silvio Santos para questionar seus jurados, após a apresentação de artistas no icônico Show de Calouros, atração que ficou no ar por mais de 15 anos no SBT, durante toda a década de 1980 e início dos anos 90. Com a devida licença poética, a mesma pergunta voltou a circular por escritórios de advocacia e bancos de todos os portes após a morte de Senor Abravanel, no último dia 17, em uma tentativa de dimensionar o tamanho do patrimônio criado pelo empresário carioca ao longo das últimas seis décadas e meia e conjecturar sobre o futuro das empresas que hoje formam o Grupo Silvio Santos.

Atualmente, a holding da família controla cinco grandes empresas.
• A maior e mais relevante é a emissora de televisão SBT. Fundada em 1981 por Silvio Santos, a empresa incorporou a antiga TVS, concessão obtida pelo empresário junto ao governo militar seis anos antes.
• Ainda dentro da holding estão o Hotel Jequitimar, resort construído há 18 anos no Guarujá, litoral de São Paulo,
 e a Jequiti, empresa de cosméticos criada em 2006 para concorrer com Natura e Boticário.
• Na lista aparecem Sisan Empreendimentos Imobiliários, responsável pela gestão dos imóveis da família e que se transformou em uma incorporadora imobiliária,
 e Liderança Capitalização, mais conhecida por ser a gestora e operadora da TeleSena.

(Divulgação)

Ainda que detivesse mais de 90% das ações do grupo, há alguns anos Silvio Santos já vinha se afastando não apenas dos palcos mas também da tomada das principais decisões dos seus negócios.

Desde 2022, a filha caçula do empresário, Renata Abravanel, ocupa aos 39 anos a presidência do conselho de administração da holding da família, substituindo o pai na tomada das principais decisões. Seu treinamento para liderar os negócios criados por Silvio teve início em 2010. Durante uma década, ela ocupou diferentes funções operacionais do Grupo Silvio Santos, até que em 2020 substituiu seu primo Guilherme Stoliar como presidente executiva. Dois anos mais tarde passou o bastão para José Roberto Maciel e começou a se dedicar a questões mais estratégicas.

Com a morte de Silvio Santos, a expectativa de alguns analistas consultados pela DINHEIRO é de que pouca coisa mude na alta cúpula do grupo e que Renata passe a ser tratada como a sucessora de Silvio nos negócios.

TV é hoje maior negócio da família Abravanel (Crédito:Divulgação )

“Existiu uma preocupação anterior em tentar organizar o patrimônio com a elaboração de um testamento. Até mesmo a sucessão empresarial, ou seja, a transmissão do comando efetivo das empresas, já vinha sendo feita em vida. O que não está claro é se existe uma diretriz geral em relação a manter o grupo como ele é hoje ou se isso vai ser livre, para ser feita a venda de várias participações”, disse Joyl Gondim, sócio das áreas de M&A e estruturação patrimonial e sucessória do escritório Demarest.

Primeiro grande negócio do Grupo Silvio Santos foi vendido em 2011, por R$ 83 milhões, para o Magazine Luiza, que assumiu as 121 lojas da rede (Crédito:Divulgação )

Essa incerteza do que pode acontecer com negócios específicos do grupo recai, principalmente, sob a Jequiti. A empresa de cosméticos vinha em negociação para ser comprada pela Cimed, do empresário João Adibe Marques. Contudo, o próprio Grupo Silvio Santos informou durante a última semana que as negociações foram encerradas. Em nota, a empresa disse que “após um período de negociações e diálogo construtivo entre as partes, não foi possível alinhar os interesses envolvidos para concretizar o acordo”. O que não fica claro é se o fim das conversas é reflexo da morte do patriarca ou é resultado de algum outro motivo relacionado aos valores envolvidos.

CELEBRIDADE

Considerada a joia da coroa, o SBT é a principal empresa do império Abravanel e onde a maior parte dos herdeiros trabalha. Duas filhas estão à frente da operação.

Hoje, a terceira filha do empresário, Daniela Abravanel Beyruti, é a mais envolvida na gestão, ocupando a vice-presidência, depois de ter sido diretora artística da emissora. Ao lado de Daniela está Rebeca Abravanel, filha de número cinco de Silvio Santos. É a atual diretora-executiva do SBT, mas também ocupa uma posição de destaque na frente das câmeras, apresentando programas como o “Roda a roda Jequiti”.

Silvio Santos diversificou seus investimentos para criar não apenas uma empresa de comunicação, mas um império empresarial bilionário (Crédito:Divulgação )

Outras duas filhas ainda trabalham no SBT: Silvia e Patrícia Abravanel. Silvia é a segunda filha do empresário. Foi adotada por ele e Maria Aparecida, sua primeira esposa, e atua mais nos bastidores da programação matinal e de atrações infantis. Se Renata é a sucessora nos negócios, Patrícia é vista como a herdeira artística do apresentador e a nova cara do SBT. Desde que o pai se afastou dos palcos, ficou com ela a responsabilidade de apresentar o programa Silvio Santos, trabalho que tem feito desde 2022.

Ainda que não atuem diretamente na parte administrativa da emissora, fontes do setor artístico consideram que estará nas mãos de Sílvia e Patrícia a responsabilidade por promover as prováveis mudanças nos quadros, atrações e na programação do SBT. Uma das principais metas será levar modernidade à TV, a partir de influenciadores e novas caras para a emissora, possivelmente em substituição a nomes mais antigos e que pesam sobre o orçamento.

(Divulgação)

Longe dos holofotes ainda está Cíntia Abravanel, a mais velha de todas e que, durante muitos anos, dizia não ter interesse em se envolver nos negócios. Contudo, sob sua responsabilidade está a gestão do Teatro Imprensa, também parte do Grupo Silvio Santos.

Os detalhes sobre o tamanho da fortuna de Silvio Santos são pouco conhecidos e divergentes.
• A Forbes, por exemplo, estimou no ano passado que o empresário detém um patrimônio de R$ 1,6 bilhão.
• Já um levantamento realizado pela Folha indicou que o patrimônio declarado seria de quase R$ 4 bilhões, com base em documentos da Receita Federal e da Junta Comercial. Nesse valor estariam incluídas 35 empresas em nome do próprio apresentador, de suas filhas e também da holding.

Seja qual for o tamanho, Silvio Santos iniciou a divisão dos seus bens ainda em vida, deixando um testamento. No documento, além das seis filhas fará parte da partilha Íris Abravanel, viúva do empresário. Ainda que não tenha nenhuma função executiva, ela tem direito a parte do patrimônio do apresentador. O tamanho dessa fatia vai depender do regime de casamento adotado, segundo Maria Helena Bragaglia, sócia da área de resolução de conflitos e estruturação patrimonial do Demarest.

CRISE

Mas o Grupo Silvio Santos não acumulou apenas sucessos e um patrimônio bilionário. Talvez o maior fracasso do conglomerado da família Abravanel tenha sido o Banco Panamericano. Braço financeiro do grupo por décadas, o Panamericano nasceu a partir da evolução da Baú Financeira, empresa criada pelo empresário em 1969, após a aquisição da Real Sul S.A. Entre 2007 e 2010, executivos do alto escalão elaboraram um esquema fraudulento nos balanços financeiros, causando um prejuízo superior a R$ 4 bilhões. Para escapar da falência, o banco se viu obrigado a recorrer ao Fundo Garantidor de Crédito (FDC),que realizou um aporte de R$ 2,5 bilhões em 2010. Meses depois, no início de 2011, o BTG Pactual anunciou a compra do controle acionário do banco, pagando para o Grupo Silvio Santos R$ 450 milhões, por 50,8% do Panamericano. Uma década mais tarde, o mesmo BTG pagaria R$ 3,7 bilhões pelo restante das ações, que pertenciam à Caixa.

A crise no braço financeiro levou o grupo a se desfazer do mais antigo negócio, o Baú da Felicidade. Seis meses após a venda do Panamericano, o Magazine Luiza desembolsou R$ 83 milhões para assumir o controle das 121 lojas da rede. À época, a operação transformou a empresa de Luiza Trajano no segundo maior varejista de eletroeletrônicos do Brasil.

Silvio Santos foi um dos maiores comunicadores do Brasil e um dos nomes mais influentes da televisão. Seu legado como apresentador, no entanto, não é menor do que seus feitos no mundo dos negócios. De vendedor de canetas nas ruas do Rio de Janeiro, o empresário foi banqueiro, varejista, proprietário de empresa de cosméticos, empreiteiro e até dono de um canal de televisão.