09/11/2019 - 12:15
O líder do PT no Senado, Humberto Costa (PE), disse que a libertação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva terá impacto direto na sobrevivência do partido. “O PT sai da prisão junto com Lula”, afirmou o senador ao Estadão. Na sua avaliação, o PT precisa se articular com o centro, incluindo nesse espectro o MDB, para construir uma aliança contra o governo de Jair Bolsonaro nas eleições municipais do ano que vem. “Se derrotar Bolsonaro e a extrema direita for o grande objetivo político, a gente tem de avaliar essa possibilidade já para 2020”, argumentou. A estratégia é o primeiro passo para a disputa de 2022, quando haverá eleição ao Planalto.
Após a decisão do STF, que derrubou a prisão após condenação em segunda instância, o ex-presidente Lula volta ao cenário político. Ele tem condições de ser candidato em 2022?
Se ele conseguir recuperar os direitos políticos, com certeza será o candidato. Tem muita gente com a visão de que Lula sai com sangue nos olhos, mas eu não acredito nisso. Lula é um conciliador por natureza e certamente cumprirá esse papel de articulador, atuando em defesa da democracia e contra qualquer tentativa de endurecimento do regime. Ele não vai ser um fator de desestabilização.
Qual será o foco do PT a partir de agora?
O PT sai da prisão junto com Lula. A luta pelo “Lula livre” foi também pela própria sobrevivência do PT. E pela tentativa de construção de uma narrativa hegemônica, de que nós fomos vítimas de uma perseguição política. O partido fica agora com mais liberdade para debater outros temas, vai poder se dedicar mais às lutas sociais, discutir a economia, os caminhos para o Brasil sair da crise e fortalecer a oposição ao governo Bolsonaro. Nós estamos tentando resistir, sobreviver, enfrentar esse governo e criar as condições de ganhar uma eleição contra eles.
A Comissão de Constituição e Justiça do Senado vai pôr em pauta a proposta que permite a execução antecipada da pena, contrapondo-se ao Supremo. Tudo pode mudar de novo?
Será uma disputa política. Mas essa proposta já estava no pacote do Moro (ministro da Justiça, Sérgio Moro) e não teve respaldo nem da Câmara nem do Senado.
O presidente Jair Bolsonaro já disse que será candidato à reeleição, em 2022, e o centro começou a se organizar para encontrar uma alternativa. A esquerda, por sua vez, não parece se entender. É possível construir uma aliança?
Quem está organizado é o Bolsonaro, que quer construir um cenário de eleição polarizada. Agora, qual é a consistência dessa candidatura do João Doria (governador de São Paulo), do PSDB? Qual é a consistência que tem o Huck (apresentador de TV Luciano Huck), o Witzel (Wilson Witzel, governador do Rio)? Qual é a unidade que eles têm? O centro está numa situação de refluxo importante.
Mas o campo da esquerda não está pior?
Não. Hoje, diferentemente de outros momentos, há várias alternativas. No PT, além do nome de Lula – que esperamos ver reconquistar os direitos políticos – há o próprio Haddad (ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad) e governadores bem avaliados. No PC do B, temos o Flávio Dino (governador do Maranhão), no PDT tem o Ciro Gomes. O Ciro o tempo inteiro bate na gente, não quer aproximação. Mas por que o PDT não vai fazer aliança com o PT e com outros partidos de esquerda, em 2020?
O sr. também defende uma aliança com partidos de centro?
É possível adotar estratégia comum e um bom teste será nas eleições municipais de 2020, que deverão ter um componente nacional muito forte.
Quem seria esse centro?
Em alguns lugares, quem sabe poderíamos (apoiar) uma candidatura do MDB contra um cara de extrema direita no segundo turno? A gente vai ficar em cima do muro? Se derrotar Bolsonaro e a extrema direita for o grande objetivo político, a gente tem de avaliar essa possibilidade já para 2020. Para 2022 ainda vai rolar muita água.
O PT tem conversado com Luciano Huck também?
Não. Que eu saiba, não.
O deputado Eduardo Bolsonaro defendeu um novo AI-5 para conter a “radicalização” da esquerda. O sr. acha que isso reflete o pensamento do governo?
O objetivo estratégico de Bolsonaro é um endurecimento do regime. E, aqui e ali, ele faz um balão de ensaio para ver se tem apoio. O que Eduardo fez foi isso. Eu não acredito que esse governo termine. É uma instabilidade permanente.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.