03/12/2003 - 8:00
O carioca Sergio Schildt se especializou em pular obstáculos. Fez uma pequena empresa de instalação de pisos de madeira se transformar na Recoma, a maior fabricante nacional desse mesmo produto, com fazendas no Pará e no interior de São Paulo. Venceu nova barreira neste ano ao exportar borracha de pneus recauchutados para a Alemanha e instalar 1.600 m2 de quadras e pisos esportivos em uma universidade nas Filipinas. Depois, saltou para a construção civil, fazendo prédios para a comunidade carente do Rio de Janeiro. ?Para atender melhor um mercado em mutação é preciso inovar a todo o momento?, ensina Schildt. No ano que vem, a empresa dirigida por ele pretende aumentar o faturamento de R$ 21 milhões para R$ 40 milhões. Mas não é dos 28 mil metros quadrados de piso que saem de suas fábricas todo mês que Schildt pretende alcançar esse resultado. O aumento virá principalmente das obras de construção civil que estão sendo tocadas por uma equipe de cinco engenheiros recém-contratados. ?A escolha do Rio de Janeiro como sede para os Jogos Panamericanos de 2007 levou muita gente a planejar ginásios e estádios e estamos preparados para erguê-los?, diz Schildt.
A maior das vitórias de Schildt ocorreu em setembro, quando a Recoma participou de um consórcio que venceu uma concorrência para construir o Estádio Olímpico Engenho de Dentro, no Rio de Janeiro. Com investimento de R$ 90 milhões, ele será usado para diversas modalidades de atletismo nos Jogos Panamericanos de 2007. ?Essa obra vai nos dar visibilidade no Brasil e em todo o mundo?, diz ele, que mantém um broche dos Jogos na lapela do terno. Schildt não espera fazer obras apenas no Rio de Janeiro. Ele acredita que o evento terá um efeito multiplicador, uma vez que várias cidades de outras regiões do Brasil se mostraram interessadas em treinar equipes de atletas para os Jogos. Assim, enquanto em 2003 a Recoma construiu 26 ginásios de madeira a meta para o ano que vem é de
32. ?Está havendo incremento muito grande de infra-estrutura esportiva em todo o Brasil?, diz Lars Grael, secretário de Esporte
do Estado de São Paulo, que esteve com Schildt na última quarta-feira para decidir novos investimentos.
Ao longo de sua história, a Recoma se mostrou hábil em descobrir e aproveitar tendências de mercado. Nos anos 80, época áurea da construção civil, fechou diversas parcerias com construtoras para instalar o piso em apartamentos ainda durante a fase de construção, uma novidade que rendeu muitos dividendos. Nesse mesmo período, foi a grande responsável pela substituição dos tacos e assoalhos pelos carpetes de madeira nas empresas e casas brasileiras. Em 1995, deu a largada no mercado de pisos esportivos com modelos de madeira e com materiais importados da Europa e rapidamente ganhou a dianteira no setor. Um ano depois, Schildt trouxe pisos de grama sintética e conseguiu aproveitar a proliferação dos campos de futebol society nas grandes cidades. ?Eles foram criativos desde o início e é por isso que lideram o mercado de pisos de madeira no Brasil?, diz Cláudio Conz, presidente da Anamaco, Associação Nacional dos Comerciantes de Material de Construção.
Um dos maiores orgulhos de Schildt é o piso flutuante. A Recoma inventou um chão de madeira para quadras esportivas que tem um amortecedor de borracha nas suas camadas mais profundas. O raciocínio é o mesmo dos tênis com palmilha de ar, que poupam os ossos e as articulações do impacto com o chão. Mas uma nova barreira surgiu. A borracha, nesse caso, precisava ser importada, o que deixava a Recoma muito exposta às oscilações do câmbio. A solução de Schildt foi iniciar a exportação de borracha granulada derivada de pneus recauchutados para a alemã BSW, que vende a borracha especial. Este ano, o total arrecadado com essa exportação foi de US$ 350 mil. Em 2004 a meta é crescer esse volume até atingir US$ 1 milhão, que é quanto a Recoma paga atualmente para trazer o material processado. A barreira, assim, foi facilmente superada. E Schildt está preparado para as outras.