19/02/2009 - 7:00

A imagem de Obama mal foi pendurada na Casa Branca e os analistas já questionam a falta de uma solução concreta para a crise, que talvez seja a estatização dos bancos
NA SEGUNDA-FEIRA 9, OS Estados Unidos pararam para assistir à primeira entrevista coletiva do presidente americano Barack Obama. Estrategicamente marcada para oito da noite, ela foi transmitida em rede por todas as emissoras do país – o que não acontecia desde os tempos de Ronald Reagan. Obama disse que só o governo podia salvar a economia. “O governo federal é a única entidade com recursos para reavivar a economia. Só o governo pode quebrar este círculo vicioso onde a perda de empregos leva as pessoas a consumir menos, o que leva a novas demissões”, disse o presidente americano. A expectativa que se criou é que o plano que seria anunciado no dia seguinte por Timothy Geithner, secretário do Tesouro, mostraria em detalhes de que forma o governo pretende limpar o sistema financeiro dos ativos podres e restaurar a confiança do consumidor ao injetar recursos na economia. Não foi o que se viu. Na terça-feira 10, o índice Dow Jones despencou 4,62%. A Bovespa seguiu a tendência e caiu 2,12%. O movimento de queda se repetiu no dia seguinte na Ásia e na Europa. “Cadê o plano?” foi a reação dos analistas. O esboço apresentado sem detalhes por Geithner vai custar US$ 2 trilhões aos contribuintes e tem quatro pontos principais: uma injeção de capital em instituições em condições de sobreviver no novo cenário; novos créditos para estudantes, compra de veículos, financiamentos imobiliários e refinanciamentos de cartão de crédito; compra de ativos podres dos bancos numa parceria entre o governo e instituições privadas, com a criação de um “banco podre”, a um custo estimado de US$ 1 trilhão; e um mecanismo, ainda em criação, para evitar que mutuários com pagamentos em atraso percam suas casas. O que mais irritou os analistas de mercado foi a afirmação de Geithner de que os detalhes seriam divulgados nas próximas semanas e que ele estava “aceitando sugestões”. Esperava-se que ele já tivesse pensado nas soluções e as servisse ao mercado e ao consumidor americano temperadas com uma boa dose de confiança. “O mercado está cínico sobre o que está acontecendo e parece que ninguém em Washington tem a menor ideia do que está fazendo”, disse à Bloomberg Peter Sorrentino, estrategista da Huntington Asset Management, com uma carteira de US$ 15,5 bilhões, resumindo a perplexidade geral.

Eleito com 63 milhões de votos e com um nível de aprovação superior a 80% ao tomar posse, há menos de um mês, Obama já começa a perder o seu encanto para a parcela dos americanos que esperava uma solução mais rápida para a crise. Ele arregimentou uma equipe econômica de primeira, mas o assessor especial Paul Volcker, que comanda uma comissão para buscar soluções para a crise, tem se mantido distante dos holofotes, assim como o assessor econômico da Casa Branca, Larry Summers, que na semana passada não saiu em socorro de Geithner para defender o pacote do governo. De qualquer maneira, Obama tem a quem apelar se Geithner se desgastar demais. Os últimos dias foram de indefinição também em relação ao outro plano, o do Congresso. Aprovado pelo Senado numa versão diferente daquela votada pela Câmara na semana anterior, os dois projetos foram finalmente consolidados numa versão final de US$ 789 bilhões, com cortes de impostos e investimentos públicos, a ser votada na sexta-feira 13. Além da suspeita de que a lua-demel de Obama com a opinião pública está dando sinais de desgaste, com a percepção de que o país não vai sair da crise com a facilidade e rapidez que muitos americanos esperavam, a semana foi repleta de más notícias. O número de pedidos de auxílio-desemprego chegou a um novo recorde de 4,81 milhões na última semana de janeiro. O índice de desemprego chegou a 7,6% em janeiro, o maior em 16 anos. No ano passado, foram perdidos 2,6 milhões de empregos, e este ano já foram 598 mil só em janeiro. Uma compilação de 50 projeções feita pela Bloomberg mostra uma piora nas expectativas. Os economistas acreditam numa queda de 2% no PIB americano neste ano – meio ponto a mais do que no mês anterior. Estatísticas divulgadas pela Associação Nacional de Corretores sobre o último trimestre do ano passado mostram uma redução de 12% no preço médio dos imóveis em relação ao ano anterior. Além disso, 45% das propriedades à venda foram retomadas por falta de pagamento. Em meio às notícias negativas, uma positiva: as vendas no varejo subiram 1% em janeiro, interrompendo uma trajetória de seis meses de queda. Ainda é pouco, mas mostra que os americanos talvez estejam voltando a praticar seu esporte preferido: o de consumir.