Líderes europeus pressionam o presidente americano a impor sanções a Moscou caso o líder russo não acate um cessar-fogo imediato, mas há receio de que a cúpula resulte em um acerto feito às suas costas.Na tentativa de influenciar o resultado da reunião entre o presidente dos EUA, Donald Trump, e o presidente russo, Vladimir Putin, líderes europeus participaram de uma videoconferência com o americano e pressionaram para que a cúpula resulte em um cessar-fogo imediato.

A intervenção diplomática da UE tinha o objetivo de transmitir a Trump o desejo coletivo do bloco europeu, mas também de informá-lo sobre as intenções de Putin e alertá-lo para não ceder território ucraniano nas negociações bilaterais.

Em diversas declarações dadas após a conferência, os líderes mostraram confiança de que Trump estava convencido a não trair os interesses ucranianos e europeus.

A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, postou no X que Europa, EUA e Otan permanecerão em estreita coordenação.

Mas como os europeus permanecerão ausentes da cúpula que acontece nesta sexta-feira (15/08) no estado americano do Alasca, as tensões sobre o resultado do encontro permanecem altas e a Europa ainda teme que Trump possa conceder alguns pontos a Putin.

Europa quer cessar-fogo imediato

A principal demanda europeia é que um cessar-fogo seja confirmado antes de qualquer negociação territorial. Trump parece ter levado isso em consideração, embora não seja uma pré-condição para ele. À CNN, o presidente disse que um cessar-fogo “seria um gesto de boa vontade da Rússia”.

O americano também mudou o tom sobre eventuais trocas territoriais entre Rússia e Ucrânia. Se antes ele havia visto a estratégia como caminho para a paz, após a videoconferência Trump passou a dizer que nenhuma concessão desse tipo seria feita sem a presença do presidente ucraniano, Volodimir Zelenski.

O americano ainda prometeu buscar uma segunda reunião trilateral, que colocasse Putin e Zelenski na mesma mesa, além de garantir que informaria os aliados dos resultados da cúpula.

E, embora Trump ainda seja contrário à entrada da Ucrânia na Otan – algo que Kiev demanda como caminho para o fim dos confrontos – especialistas sugerem que os EUA podem estar abertos a oferecer algum outro tipo de garantia de segurança para impedir futuras agressões russas.

“A natureza das garantias de segurança dos EUA e as contribuições práticas seriam objeto de negociações adicionais”, disse Kristine Berzina, pesquisadora sênior do German Marshall Fund (GMF) em Washington, D.C., à DW.

Países querem que Rússia arque com os custos da guerra

A Ucrânia e a UE também esperam que os EUA pressionem a Rússia a aceitar o ônus da reconstrução da Ucrânia em futuras negociações.

Estima-se que reparar os danos causados pelos bombardeios russos custe entre 500 bilhões e 1 trilhão de dólares (R$ 2,7 a R$ 5,4 trilhões). Kiev e seus apoiadores argumentam que parte desse valor deve vir de ativos russos congelados, dos quais cerca de 200 bilhões de euros (R$ 1,2 trilhão) estão localizados na Bélgica.

Há também um apelo para que Trump solicite o retorno de milhares de crianças que foram ilegalmente levadas da Ucrânia invadida e adotadas por famílias russas, bem como de prisioneiros de guerra ucranianos. A expectativa do bloco europeu é que os EUA ampliem as sanções contra Moscou se Putin não acatar o cessar-fogo.

Tensão cresce por negociação bilateral

Apesar de algum alívio após a chamada, ainda há temores de que Putin possa superar Trump na negociação.

A Europa enfrenta um cenário difícil se Putin convencer o americano a cortar o fornecimento de armas para a Ucrânia e o compartilhamento de inteligência.

Outro receio do bloco é que os EUA possam retirar seus ativos do continente e dobrar a aposta no enfrentamento à Otan.

“A Rússia quer expulsar os EUA do leste europeu e afirmar sua dominação militar. Putin poderia usar essa reunião para incentivar os EUA a retirarem tropas da Europa”, disse Rafael Loss, pesquisador de políticas do European Council on Foreign Relations (ECFR).

Para o pesquisador, isto pode ser uma possibilidade real, já que os EUA já estão revisando o posicionamento global de suas forças.

“Nesse caso, antes de tudo, os europeus precisariam reforçar suas próprias defesas”, disse Loss.

“Reduções de forças dos EUA são esperadas, embora a escala da retirada ainda não esteja clara”, ponderou Berzina, do GMF.

“Mas, claro, esse processo ocorre ao mesmo tempo em que as negociações entre Ucrânia e Rússia estão se desenrolando. Será complicado para os EUA retirarem tropas da Europa se quiserem sinalizar à Rússia que estão profundamente comprometidos com a segurança europeia”, continuou.