Em conversas com amigos nos últimos dias, o empresário Eugênio Staub tem contado uma história para convencê-los de que fez um bom negócio ao comprar na semana passada a concorrente Philco, até então parte do patrimônio da família Setúbal, controladora do Banco Itaú, da Duratex e da Itautec. Dono da Gradiente, Staub revelou que, 24 horas após fechar o acordo, já tinha na porta um potencial comprador para a nova empresa. Ele não revelou o nome, mas a suspeita mais provável recai sobre a fabricante chinesa TCL que há meses ronda o mercado brasileiro atrás de oportunidades. ?A companhia não está à venda?, disse Staub ao candidato a comprador. O valor pago pela Philco não foi revelado oficialmente, mas calcula-se que a Gradiente desembolsará algo entre R$ 80 milhões e R$ 100 milhões, o equivalente a cinco vezes o lucro da empresa do Grupo Itaúsa. Nos dias seguintes, especialistas se perguntavam por que Staub teria feito essa aposta. Para a maioria deles, o empresário estaria unindo duas marcas fortes para entregá-las a um comprador estrangeiro. Staub comentou com executivos de sua empresa que essa hipótese é descabida. Segundo ele, seu principal desejo é criar uma blindagem contra o desembarque dos chineses, os únicos fabricantes mundiais sem unidades de produção no País. Nesse caso, o principal foco de preocupação seria a TCL, que vendeu no ano passado 16,7 milhões de aparelhos em todo o mundo, o dobro do mercado brasileiro que comercializou em 2004 cerca de 8 milhões de unidades ? o pico desse setor aconteceu em 1996 quando foram vendidos 9 milhões de televisores.

Em suas conversas particulares, Staub lista diversos motivos que o levaram a assinar o acordo com os Setúbal. Um deles é concretizar um antigo plano de disputar a liderança nas vendas de televisores no País. Trata-se de sua terceira tentativa. Na primeira, no final da década de 80, ele adquiriu a marca Telefunken e se lançou ao mercado. Deu em nada. Há pouco mais de dois anos, arriscou-se de novo, desta vez assinando com a próprio nome Gradiente. Os resultados não foram os esperados. Os consumidores enxergam a Gradiente como
uma empresa especializada em áudio, não em imagem, justamente o principal atributo  da marca Philco. Em função dessa lógica seria mais barato pagar R$ 100 milhões do que gastar por cinco anos até alcançar os líderes Philips, LG e Semp Toshiba.

Os números do mercado são um enigma. Juntas, Philco e Gradiente teriam uma participação entre 13% e 18%. Seu faturamento bruto soma R$ 1,7 bilhão. Com a união, a Gradiente seria a terceira marca do setor atrás dos 22% da Philips e dos 19% da coreana LG. ?São duas marcas complementares?, afirma um concorrente. Staub tem afirmado que manterá as duas marcas estampadas nos televisores de sua fabricação, uma estratégia semelhante à utilizada pela Brasmotor, dona da Brastemp e Consul, no setor de refrigeradores. Há dúvidas a esse respeito também. Na sua história, a Gradiente adquiriu mais de uma grife do segmento de som e imagem e logo desapareceu com eles. Foi o destino de Polyvox, Garrard e Telefunken.

A Philco estava à venda há vários meses após uma reestruturação feita na Itautec sob o comando da consultoria McKinsey. Os consultores recomendaram ao presidente da Itautec, Paulo Setúbal, a saída do setor de eletroeletrônicos. O Grupo Itaúsa comprou a Philco da montadora Ford em 1987 e em lugar de pagar pela companhia recebeu um cheque de US$ 10 milhões do vendedor porque o patrimônio líquido da empresa era negativo. A companhia foi reestruturada e até a semana passada possuía 650 empregados e uma única na fábrica na Zona Franca de Manaus. A Philco, por exemplo, foi a pioneira em lançar uma TV pela qual é possível navegar na internet com a ajuda de softwares da Microsoft. A equipe de engenheiros da empresa é reconhecida no mercado pela sua capacidade de inovação. Agora, todos serão parte da nova aposta de Staub