02/07/2008 - 7:00
REUNIÃO DO CARTEL EM JEDÁ: Encontro discutiu a alta do barril e o seu impacto nos alimentos
UM IMENSO TAPETE VERMELHO esperava o ministro Édison Lobão, de Minas e Energia, ao desembarcar no aeroporto de Jedá, na Arábia Saudita, no fim de semana passado. Ao descer do avião, ele foi recebido pelo ministro saudita de Petróleo, Ali Al-Naimi. Na sala VIP do aeroporto, reservada aos convidados especiais do rei Abdula, o monarca saudita, Al-Naimi quis saber sobre as reservas brasileiras no pré-sal e perguntou, de maneira improvisada, sobre os campos de Tupi, Júpiter e Carioca. Pela primeira vez, o Brasil era convidado para uma reunião com um grupo de grandes produtores e consumidores de petróleo. “Entramos no clube”, disse Lobão à DINHEIRO (leia sua entrevista à página 40). Organizada pela Arábia Saudita, o maior produtor e exportador de petróleo do mundo, a reunião tinha como objetivo discutir o aumento do preço do produto – que já passou dos US$ 135 o barril e segundo previsões pessimistas pode chegar a US$ 200 – e suas conseqüências para o preço dos alimentos.
Estavam presentes os integrantes da Opep, o cartel dos grandes produtores e exportadores, os membros do G8, os sete países mais ricos do mundo mais a Rússia, além de grandes consumidores como China e Índia e produtores de fora do cartel, como México e Noruega. Participaram ainda as grandes petroleiras do mundo, como Exxon- Mobil, Shell, Chevron, Sinopec e, também pela primeira vez, a Petrobras
O Brasil foi chamado por suas reservas futuras e pela experiência de sucesso com biocombustíveis, que concorrem com o petróleo. É também por essa razão que os árabes querem atrair o Brasil para a Opep. “É um namoro”, diz Lobão. Ele conta com orgulho o tratamento VIP que recebeu do governo saudita, com direito a jantar oferecido pela família Bin Laden, a mais rica do país. O convite, para ele, marca o reconhecimento do Brasil como um player internacional de destaque no mercado de petróleo. A possibilidade de reservas de até 70 bilhões de barris – segundo as previsões de consultorias, ainda não confirmadas – coloca o Brasil como uma nova fronteira, num momento em que as reservas de petróleo estão se esgotando em várias partes do mundo e que produtores como a Venezuela vêem a produção cair por falta de investimento.
Logo após a descoberta do pré-sal, o venezuelano Hugo Chávez classificou o presidente Lula como um “magnata petroleiro”. É assim que o Brasil se sente nessa recente condição de “novo rico do petróleo”. As conversas sobre a adesão ao cartel ainda são preliminares e não há propostas oficiais para serem analisadas. Mas, dentro do governo, a decisão política já foi tomada: o Brasil quer, sim, participar da Opep, apesar das restrições que isso trará para a autonomia do País nas decisões sobre as exportações do produto. Os integrantes têm que seguir as orientações do grupo em relação a cotas de exportação, embora a desobediência aos acordos seja prática comum. Dos 15 maiores exportadores mundiais, apenas dez estão na Opep. Estão fora o segundo e terceiro maiores – Rússia e Noruega. “Se a Opep não fosse boa, a Arábia Saudita não estaria lá”, raciocina o ministro. O país tem cerca de um quarto das reservas mundiais comprovadas, um total de 1,2 trilhão de barris. O Brasil, sem o pré-sal, tem 13 bilhões de barris.
Apesar do ânimo do governo, a participação na Opep não é vista como algo tão positivo por especialistas. “Entrar na Opep pode ser uma bandeira política, mas o Brasil não precisa disso”, disse à DINHEIRO Alexandre Szklo, professor de planejamento energético da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Szklo questiona a real capacidade da Opep de elevar os preços do barril e diz que, historicamente, o grupo surfou na onda do aumento de preço, em vez de provocar a onda. Ele afirma que só faria sentido entrar no cartel se o Brasil precisasse de apoio político junto às empresas petroleiras, se quisesse usar o grupo como uma plataforma diplomática no palco internacional ou para interferir na política de preços. Ele avalia que nenhuma delas se aplica ao País, já que a Petrobras é líder em tecnologia de águas profundas, o Brasil já tem voz no cenário internacional e os países que mais se beneficiaram do sistema de cotas para forçar o aumento de preços do petróleo em épocas de baixa são os que ficaram de fora, porque tiveram liberdade para aumentar sua produção. Lobão acha que a coordenação entre os produtores fortalece a posição brasileira. “O jogo dentro das regras é melhor, tanto para o Brasil quanto para a humanidade”, afirma.
“JÁ SOMOS DO CLUBE”
Após retornar da Arábia Saudita, o ministro Lobão falou à DINHEIRO e defendeu a entrada na Opep
Nesta viagem o sr. se sentiu como um ministro de um país petroleiro?
Eu me senti. Há um reconhecimento tácito da importância do Brasil, que a partir de agora será um grande produtor e exportador. Somos do clube.
Por que o Brasil quer entrar na Opep? Ter de obedecer às regras e cotas de exportação compensa?
O Brasil não tem pressa, porque ainda não estamos produzindo o suficiente para exportar, mas achamos que estando dentro podemos influir nas regras. O jogo dentro das regras é melhor, tanto para o Brasil como para a humanidade.
O governo já decidiu como vai administrar as reservas do pré-sal? A lei do setor de petróleo será modificada?
Ainda estamos estudando. Por enquanto, as concessões estão suspensas e vão ficar suspensas. Enquanto não chegarmos a uma conclusão sobre o que é melhor para os brasileiros, não faremos nada.
Será criada uma nova empresa, totalmente estatal, já que a Petrobras tem acionistas no mercado?
Estamos estudando a criação de uma nova empresa, para administrar as reservas. Não seria uma nova Petrobras, com equipamentos e operações, mas uma empresa estatal para administrar as operadoras. Ou então aumentar os royalties para todas as empresas, inclusive a Petrobras. Atualmente, elas pagam 10%. Mas tudo ainda está em fase de estudo.