Poucos meses antes de receber as autorizações legais para abrir a Clear Corretora, os paulistas Roberto Lee e Paolo Mason foram orientados por um especialista do sistema financeiro a refletir durante uma semana se gostariam de seguir em frente com o negócio. Num mercado em crise, como o de 2012, os sócios estavam andando na contramão. Eles eram os primeiros desde os anos 1970 a enfrentar a burocracia para criar uma nova corretora, enquanto boa parte dos concorrentes buscava um comprador.

Dois anos mais tarde, Lee e Mason tiveram a confirmação de que fizeram a escolha certa ao perseverar na decisão, ao transformar um investimento de R$ 15 milhões no ativo mais cobiçado do setor. Mesmo com o assédio de fundos de private equity, eles optaram por vender a Clear para a XP Investimentos, por R$ 90 milhões. “A Clear tem o modelo mais eficiente do mercado”, diz Guilherme Benchimol, sócio-fundador da XP. O que fez a Clear se destacar no mercado de maneira tão rápida foi a inovação para a negociação de ações.

Em vez de buscar o pequeno investidor, como todas as outras corretoras, eles focaram nos “traders”, ou seja, aqueles que precisam de agilidade para realizar operações de alto risco. “Os home brokers não conseguem atender quem busca mais do que a compra e venda de papéis”, diz Lee. O “pulo do gato” do negócio, porém, foi a criação de uma ferramenta eletrônica capaz de realizar operações sofisticadas, como day trade ou termo, com uma linguagem acessível tanto para o profissional que negocia milhões de reais quanto para os investidores que movimentam quantias muito menores.

Antes de encerrar o primeiro mês de operação, a Clear já contava com mil clientes. Agora, são dez mil. Com a XP, o plano é sextuplicar esse contingente em três anos. A venda para a XP não afasta os antigos sócios dos negócios. A marca Clear será mantida e Lee e Mason continuarão à frente da operação, que será tocada de maneira independente do grupo comprador. A parceria entre os ex-donos da Clear é antiga. No início dos anos 2000, trabalharam na Ágora, comprada pelo Bradesco, por R$ 830 milhões, em 2008.

Ali eles descobriram que tinham uma afinidade para os negócios e resolveram, em 2005, realizar o sonho de montar a própria empresa. Assim nasceu a Win Home Broker. Mais tarde, em 2010, resolveram trabalhar de forma independente. “Não queríamos ser minoritários naquele momento”, explica Mason. Agora, o jogo mudou. Com a XP, voltam a ser minoritários, com uma bolada na conta bancária, é claro. Mas, da mesma forma que apostaram em abrir a corretora, eles acreditam que, agora, o caminho certo é o oposto.