Em pouco mais de dois anos, a rede varejista controlada pelo grupo francês Casino perdeu R$ 18,2 bilhões em valor de mercado. Hoje, vale R$ 9,2 bilhões. Quem tivesse investido nas ações preferenciais do grupo Pão de Açúcar (GPA), no começo de 2014, teria perdido 65,8%.

Em 2014, seus papeis caíram 56,9%. Neste ano, até ontem (18/01), acumulavam queda de 17,3%, segundo dados da Economática.

No auge, as ações do Pão de Açúcar chegaram a valer mais de R$ 100. Na segunda-feira 18, fechou cotada a R$ 34,62. Muitos analistas acreditam que há um exagero no tamanho do tombo do Pão de Açúcar. É verdade que a desaceleração da economia afetou todos os varejistas.

Mas a rede brasileira também sofre mais com os problemas de sua atual controladora: o Casino, do CEO Jean-Charles Naouri. Em 12 meses, seus papeis já caíram quase 50% na bolsa francesa.

A agência de classificação de risco S&P, por exemplo, está ameaçando rebaixar o Casino por conta de sua dívida e por problemas no Brasil. A decisão de ser anunciada em até 90 dias.

Hoje, a nota do Casino nas emissões de longo prazo é “BBB-“. Nas de curto prazo, e “A-3”. Um eventual rebaixamento da nota poderia levar a varejista francesa para o “grau especulativo” pela agência.

Em resposta à ameaça de ser rebaixado, o Casino informou que sua prioridade, neste ano, é manter um fluxo de caixa livre positivo na operação brasileira. “Estamos confiantes na capacidade do GPA entregar um bom desempenho em 2016”, disse, em nota.

O grupo esclareceu também seu plano de venda de ativos. A ideia é passar adiante o Bic C, na Tailândia, vender a operação no Vietnã e ganhar dinheiro com os seus imóveis na Colômbia.

Os franceses estão também em pé de guerra com o fundo de hedge Muddy Water. A discussão é se o Casino gera ou não caixa para pagar suas dívidas. Além disso, o fundo também acusa a rede de maquiar seu balanço.  Os dois fatos são negados pelos Casino.

Os problemas do GPA não são se resumem ao seu controlador. No Brasil, o Pão de Açúcar tem crescido em uma velocidade menor do que o rival Carrefour, que desde o ano passado já o ultrapassou na área alimentícia.

Uma das razões para esse ritmo diferente é o Atacadão, rede de atacarejo do Carrefour, que representa mais de 50% das vendas. No Pão de Açúcar, o Assaí tem fatia de bem menor, de quase 30%.

Não bastasse isso, um ex-sócio e desafeto de Naouri também pode contribuir para piorar o resultado. O empresário Abilio Diniz é dono de 62 lojas alugadas pelo Casino. E ele, por meio de sua gestora de recursos, a Península, estuda cobrar multa por supostas irregularidades nos imóveis alugados.

Numa conta inicial, o valor das multas pode atingir até R$ 50 milhões. Para uma empresa que teve lucro líquido de R$ 101 milhões nos nove primeiros meses de 2015 – dados mais atuais – esse é um valor que pode definir a cor da última linha do balanço.