23/05/2014 - 20:00
Em 7 de novembro de 2013, quando fecharam seu primeiro dia de comercialização na Bolsa de Nova York, as ações do Twitter apresentavam um desempenho espantoso. Haviam se valorizado incríveis 73%, cotadas a US$ 44,90 cada uma. Com isso, o valor de mercado da rede social que permite publicar mensagens em apenas 140 caracteres alcançou US$ 25 bilhões. A escalada prosseguiu até 26 de dezembro, quando os papéis atingiram seu pico de US$ 73,31. O pássaro azul que o simboliza parecia que ia alçar voo e se transformar em algo tão indispensável quanto o Google e o Facebook na dieta digital dos internautas.
Seis meses depois de sua abertura de capital, o pio do Twitter está quase inaudível. “O Twitter perdeu o charme com o tempo”, diz Ben Schachter, analista da consultoria americana Macquarie Securities. O desencanto dos investidores acentuou-se com a divulgação dos resultados da companhia, no fim de abril. O prejuízo de US$ 132 milhões, no primeiro trimestre de 2014, foi quase cinco vezes maior do que o do mesmo período do ano passado. O número de usuários aumentou apenas 5,8%, quando comparado com os três últimos meses de 2013. O Twitter conta agora com 255 milhões de usuários ativos. É menos do que o LinkedIn, uma rede social profissional, que não tem pretensão de atingir as massas como o microblog.
Na quarta-feira 21 as ações estavam cotadas a US$ 31,75. Neste ano, elas já caíram 50%, o que fez com que a rede social perdesse mais de US$ 20 bilhões em valor de mercado – hoje está em torno de US$ 18,7 bilhões. Afinal, o que está acontecendo com o Twitter? Conquistar usuários tem sido um dos principais desafios da rede social comandada por Dick Costolo. Na busca por novos consumidores, ele e seu time de executivos vêm tentando de tudo. Inclusive torná-lo mais parecido com o Facebook. Em uma série de mudanças em seu layout, a plataforma de mensagens online incluiu imagens e vídeos.
O Twitter mudou também a forma como explora a foto de exibição dos usuários e acrescentou uma robusta imagem de cabeçalho, similar à da rede social de Mark Zuckerberg. “As pessoas se interessam por imagem, vídeo e texto”, disse Guilherme Ribenboim, presidente do Twitter no Brasil, em entrevista à DINHEIRO em abril deste ano. “Então, a presença desse conteúdo faz sentido.” Procurado para comentar o teor dessa reportagem, a subsidiária local do Twitter não deu entrevista. O Twitter também está abandonando idiossincrasias de uso, tudo para atingir um público mais amplo – até agora, celebridades, jornalistas e profissionais de marketing são considerados seus públicos mais fiéis.
Antes, um usuário do serviço de microblog precisava conhecer comandos como RT, DM e saber usar hashtags (para quem não sabe, RT era a forma de republicar a mensagem de outro usuário, DM eram as mensagens diretas e hashtags são marcadores que permitem encontrar todos os tweets de um determinado conteúdo). Hoje, esses elementos estão ficando automatizados. “Estamos pensando o Twitter de uma forma que o usuário entre e em minutos já saiba como usá-lo perfeitamente”, afirmou Ribenboim. A rede social quer também se posicionar como a primeira alternativa quando o assunto é a “segunda tela”. Em outras palavras, a combinação Twitter e tevê tem se mostrado perfeita.
Tanto que uma das principais tarefas do escritório no Brasil é incentivar os comentários sobre os principais programas de televisão em sua linha do tempo. Dará certo? Há exemplos alentadores na concorrência. O Facebook, por exemplo, quando abriu o capital, em 2012, sofreu com a desconfiança dos investidores. Suas ações caíram e muitos analistas torceram o nariz para Zuckerberg, considerado um empreendedor jovem e sem experiência para comandar o negócio. Dois anos depois, o valor de mercado do Facebook cresceu 50% e a receita e o lucro não param de aumentar. Ou seja, o Twitter pode estar enfrentando um mau humor temporário de Wall Street, mas é bom começar a apresentar resultado rapidamente. Do contrário, seu pássaro azul terá de piar em outro lugar.