07/11/2020 - 22:12
Depois que a mídia anunciou que ele havia fracassado em sua candidatura à reeleição, o presidente Donald Trump foi jogar golfe. Em breve, ele terá muito mais tempo para passar o tempo como desejar.
Mas se há uma constante em Trump, é seu desejo de ser o centro das atenções e poucos esperam que, ao deixar a Casa Branca, o mais incomum dos presidentes deste país resigne-se a seguir uma vida “normal”, para escrever suas memórias, refletir ou participar de eventos de caridade.
Ele perderá as chaves da Casa Branca, mas não sua paixão pelo Twitter e ainda poderá exercer um controle importante sobre seu Partido Republicano.
Alguns de seus aliados já afirmam que Trump planeja uma revanche em 2024.
Dos presidentes americanos, apenas Grover Cleveland cumpriu mandatos não consecutivos, vencendo em 1892, após perder por pouco a reeleição quatro anos antes.
O ex-chefe de gabinete da Casa Branca, Mick Mulvaney, disse que Trump “não gosta de perder”.
“Estou inclinado a dizer que o presidente continuará envolvido na política e o colocará absolutamente na lista de pessoas que provavelmente concorrerão em 2024”, disse ele a um grupo de especialistas irlandeses. “Ele é um homem de 74 anos com muita energia”, acrescentou.
Os filhos de Trump deixaram claro que ainda exigem lealdade dos republicanos.
“A inação de praticamente todos os candidatos à nomeação pelo Partido Republicano para 2024 é bastante surpreendente”, tuitou Donald Trump Jr. na quinta-feira.
Ele expressamente aludiu ao senador Lindsey Graham, um ex-crítico de Trump que mais tarde o apoiou fervorosamente.
Horas depois, Graham apareceu no programa favorito de Trump na Fox News, prometendo dinheiro para a defesa do presidente e repetindo alegações infundadas de irregularidades no escrutínio.
– Trump TV? –
O magnata do mercado imobiliário e celebridade da televisão, casado três vezes, e nascido em Nova York, não escondeu seu desejo de retornar ao conforto de seus dias pré-Casa Branca.
“Tive uma vida boa. Tive a melhor vida”, disse ele em Grand Rapids, Michigan, em seu último comício de campanha.
Seu principal meio de financiar esse estilo de vida tem sido o próprio nome.
De acordo com seu ex-advogado Michael Cohen, Trump inicialmente imaginou a corrida presidencial de 2016 como uma “oportunidade de marca”, embora no final ele tenha vencido de forma surpreendente.
Trump reconstruiu seu perfil público nos anos 2000 como apresentador do reality show “Celebrity Apprentice”, após uma série de falências corporativas.
O presidente deu a entender que tentará lançar uma espécie de “Trump TV”.
A Fox News, o canal que o ajudou a subir, tem sido acusado recentemente de não ser de direita o suficiente. Os espectadores, ele tuitou, “querem uma alternativa agora. Eu também!”.
E ninguém pode negar que Trump tem o dom da fala.
Em seus incontáveis comícios, ele manteve grandes multidões sob uma espécie de hipnose, invocando teorias da conspiração, contando piadas ou falando sobre a pressão fraca da água nas torneiras do banheiro.
O presidente já tem uma plataforma de mídia em canais a cabo como One America News e NewsMax TV, que hoje não têm muito peso, mas podem se tornar gigantes se Trump os adquirir.
– Para a prisão ou para a estrada? –
Não menos plausível é um cenário em que o atual presidente se veja envolvido em sérios problemas jurídicos.
Os procuradores de Nova York investigam pagamentos secretos de Trump a uma estrela pornô, negócios intrincados e misteriosas práticas contábeis. Há ainda velhas acusações de estupro e outras agressões sexuais.
Como presidente, Trump está em grande parte a salvo de processos.
Alguns chegaram a especular sobre a possibilidade de um perdão preventivo ser concedido, infringindo todas as regras.
Oito de seus associados, incluindo ex-gerentes de campanha, advogados e conselheiros de segurança nacional, já foram acusados ou presos por crimes graves.
Trump também pode querer deixar a linha de frente política. Por mais implausível que possa parecer, ele deu algumas pistas sobre isso.
Em junho, na Casa Branca, ele refletiu sobre a possibilidade de fazer uma viagem pelo país em um trailer com sua esposa e ex-modelo Melania.
Durante um comício de campanha na Pensilvânia, ele fez uma pausa para admirar os caminhões que estavam estacionados. “Bons caminhões”, comentou ele.
“Você acha que eu poderia subir em um deles e ir embora? Eu adoraria fazer isso”, confessou o presidente.