01/09/2004 - 7:00
Ficou dura a vida do estilista Calvin Klein depois que ele vendeu sua grife por US$ 400 milhões (in cash), em 2003. O homem virou um bon vivant profissional. Passa o ano viajando. Ao Brasil, já veio duas vezes este ano. Na mais recente, entre os dias 18 e 21 deste mês, ocupou uma suíte de R$ 1.450 a diária no Hotel Unique, de São Paulo, onde suas gorjetas vão deixar saudade. Não bebeu uma gota de álcool no quarto. Pediu apenas café, muito café. Talvez para manter-se desperto depois das intermináveis noitadas. Klein tem um fraco por discotecas. Se ele tratou de negócios? Nada. Foi embora sem desconfiar que a marca que ele criou em 1968 com US$ 10 mil está voltando ao País ? e isto muito lhe interessa. A nova investida será com fabricação local e redes de lojas em dois segmentos: jeans e moda íntima. Somados, são mercados de US$ 2,5 bilhões por ano, segundo a Associação Brasileira da Indústria Têxtil.
Na década de 80, a Calvin Klein teve uma experiência malsucedida por aqui. A operação ? sete lojas que vendiam a linha completa de vestuário ? era tocada pelos irmãos Brett, Ladislau e André, da Vila Romana. ?Quando o contrato venceu, depois de cinco anos, não quisemos renová-lo?, conta Ladislau. ?Mais de 90% das peças vinham de fora e o imposto de importação tornou o negócio inviável.? Analistas apontam mais um problema: os erros cometidos por Klein na gestão da marca. ?Distribuição excessiva e formação de preços equivocada foram obstáculos para a Vila Romana?, avalia o consultor Carlos Ferreirinha, da MCF Fashion. Depois disso, enquanto Klein metia os pés pelas mãos ao massificar a grife, os Brett se separaram. André se tornou o homem da Armani e da Ermenegildo Zegna no Brasil e Ladislau fundou a sofisticada VR (que nada tem a ver com a popular Vila Romana). São os filhos de Ladislau, Alexandre e Eduardo, que estão trazendo a Calvin Klein de volta. ?Temos interesse, mas não há nada assinado?, diz Alexandre.
Vale um parêntese antes de detalhar esse retorno: o que é a Calvin Klein hoje? ?Uma marca forte, porém um tanto desgastada?, avalia Ferreirinha. Há um ano e meio a Calvin Klein pertence ao grupo americano Phillips Van Heusen (PVH). Foi essa companhia que proporcionou o vidão que Klein leva hoje ao comprar-lhe a marca por US$ 400 milhões em dinheiro, US$ 30 milhões em ações e participação nas vendas até 2018. Duas das submarcas, no entanto, Calvin Klein Jeans e Calvin Klein Underwear, estão licenciadas para a Warnaco, também dos EUA. A Warnaco fatura US$ 1,4 bilhão, acaba de emergir de uma concordata e também tem a licença das marcas JLo, da cantora/atriz Jannifer Lopez, e Speedo. É ela a responsável pela nova operação brasileira da Calvin Klein. Em 2002, a Warnaco contratou a paulistana Consultive, especializada em marketing de moda, para elaborar um estudo de mercado. ?O objetivo é competir com Zoomp, Ellus e Forum no jeans (leia-se calças de US$ 150), e atuar no mercado premium de underwear. Mais eu não falo?, diz Edson D?Aguano, da Consultive. ?Eu também não posso dar declarações?, avisa a brasileira Christiana DeMuro, vice-presidente da Warnaco.
Apesar da resistência dos dois, DINHEIRO conseguiu alguns detalhes no mercado. Os produtos da Calvin Klein estarão em mais de 150 pontos-de-venda em cinco anos ? entre lojas multimarcas e de bandeira própria. As de bandeira própria se dividirão em exclusivas de jeans e exclusivas de underwear, sendo que nestas últimas será vendido, além de cuecas e lingerie feminina, o que parece ser a aposta da Warnaco para rejuvenescer a imagem da marca no mundo todo: roupas de banho (sungas, maiôs e biquínis) e de ginástica. Tudo deve ser fabricado por indústrias nacionais, e o investimento inicial, de mais de US$ 1,5 milhão, ficará a cargo da Warnaco e de seu parceiro local. ?Atualmente, a Calvin Klein está para cuecas assim como a Louis Vuitton está para bolsas?, anima-se Alexandre Brett, da VR.
Desde a malfadada experiência dos anos 80, o que segurou o prestígio da Calvin Klein no Brasil foram os óculos e os perfumes. ?Ela está entre as cinco marcas de perfumes importados que mais vendem no País?, afirma Marcos Rothenberg, da R&R Perfumes. ?Nos últimos 12 anos, já fizemos mais de mil páginas de publicidade em revistas com as fragrâncias Calvin Klein?, completa, ajudando a entender por que, apesar do desgaste, a grife ainda é forte por aqui. Algo parecido ocorre no setor de óculos. ?A Calvin Klein é a nossa segunda marca em vendas. Só perde para a Nike, que tem uma linha bem mais ampla?, informa Léo Souza, diretora da Marchon Brasil, representante dos óculos Fendi, Nike, Donna Karan, DKNY e Calvin Klein no País. Se a nova investida no jeans e no underwear vai dar certo? O consultor Ferreirinha responde: ?O comportamento de compra do brasileiro, baseado no impulso, e o apelo da marca junto aos públicos jovem e gay irão garantir o sucesso da retomada?. Aí quem sabe na próxima visita Klein tenha mais motivos para agradecer aos brasileiros. Na última vez, escreveu no Livro de Ouro das Celebridades do Hotel Unique um singelo ?Muito, muito, muito obrigado pela maravilhosa estadia. CK?
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US$ 2,5 bilhões são as vendas de jeans e moda íntima no Brasil. |