13/06/2025 - 12:14
Criada após a Revolução Iraniana de 1979, que pôs religiosos islâmicos no poder, força militar de elite protege o regime de ameaças internas e externas e tem papel central no chamado “Eixo da Resistência”.Israel lançou na madrugada desta sexta-feira (13/06) um pesado ataque contra o Irã, o pior infligido ao país desde a guerra com o Iraque de 1980. Na mira está o programa nuclear de Teerã, que Tel Aviv quer sabotar para impedir o desenvolvimento de armas nucleares.
A ação foi deflagrada apenas um dia depois de a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) censurar o Irã por não cumprir obrigações de não proliferação destinadas a impedir o desenvolvimento de armas nucleares em todo o mundo – embora não estivesse claro se e em quanto tempo o país chegaria a esse ponto. Em resposta, Teerã anunciou que construiria e ativaria uma terceira instalação de enriquecimento nuclear.
Um dos mortos no ataque desta sexta é Hossein Salami, 65, chefe da Guarda Revolucionária iraniana desde 2019. Ele era um oficial experiente e integrava a organização praticamente desde a sua fundação, em 1979. Sua morte é um golpe significativo para o regime do líder supremo do Irã, aiatolá Ali Khamenei, que comanda o país desde 1989.
O que é a Guarda Revolucionária do Irã?
A Guarda Revolucionária do Irã (IRGC, na sigla em inglês) é a força militar de elite do Irã responsável por proteger o regime de ameaças internas e externas.
A força militar paralela foi criada após a Revolução Iraniana de 1979, em que islamistas derrubaram o governo apoiado pelo Ocidente, para proteger o então embrionário regime clerical xiita. Ela também formou um importante contrapeso para os militares convencionais do Irã, cujos integrantes foram vistos durante muito tempo como leais ao xá exilado.
A unidade operou inicialmente como uma força doméstica, mas expandiu-se rapidamente depois que o ditador iraquiano Saddam Hussein invadiu o Irã em 1980, quando o aiatolá Ruhollah Khomeini deu ao grupo suas próprias forças terrestre, naval e aérea.
A instituição é parte das Forças Armadas do país e está diretamente subordinada a Ali Khamenei, líder supremo do Irã.
Embora o Irã nunca tenha divulgado números oficiais, uma estimativa do Instituto Internacional para Estudos Estratégicos calcula que a IRGC seja hoje formada por 125 mil homens.
Um Estado dentro do Estado
A Guarda Revolucionária é considerada o pilar mais poderoso da liderança do Irã. Ela tem tropas próprias para o Exército, Marinha e Aeronáutica, unidades especiais para missões no exterior e a Basij, milícia paramilitar formada por voluntários.
Soldados da Basij patrulham mesquitas e têm papel crucial na repressão violenta de civis contrários ao regime do aiatolá.
A Guarda Revolucionária dispõe ainda de um exército cibernético, um “centro de monitoramento e combate a crimes cibernéticos” e um serviço secreto próprio, que age independente do órgão de inteligência do governo e reporta diretamente a Khamenei.
“Instrumento armado dos abusos do regime”
Embora seja um órgão oficial do Irã, a IRGC é considerada desde 2019 pelos Estados Unidos uma organização terrorista. Na União Europeia, essa designação é limitada apenas a alguns oficiais do alto escalão da instituição.
“A guarda foi criada como uma ferramenta para promover a jihad em todo o mundo”, afirmou em 2019 à DW Paulo Casaca, fundador e diretor executivo do South Asia Democratic Forum, baseado em Bruxelas. Segundo ele, a Guarda Revolucionária “está envolvida na promoção do terrorismo há muito tempo” e é o “principal instrumento armado para os abusos do regime”.
Papel na economia
Nas últimas décadas, a Guarda Revolucionária ampliou maciçamente sua influência sobre a economia iraniana. Um exemplo disso é o Khatam-al-Anbia, conglomerado fundado no final da década de 1980 para reconstruir o Irã no pós-guerra. Controlado pela força de elite, ele é responsável por diversos projetos de infraestrutura e investimentos estratégicos.
Hoje, a Guarda Revolucionária fabrica carros, constrói represas, estradas, ferrovias e até mesmo linhas de metrô. Ela também está intimamente ligada à economia de gás e petróleo do país e atua nos setores de mineração e farmacêutico. Informalmente, seus domínios se estendem até mesmo ao mercado imobiliário e ao contrabando. Não há, contudo, dados precisos sobre a participação da força militar no PIB iraniano.
Papel no exterior e em conflitos fora do Irã
A brigada Quds da Guarda Revolucionária é responsável por missões no exterior e tem como finalidade apoiar grupos ideologicamente próximos do Irã. No Iraque, por exemplo, essas tropas estruturaram forças xiitas; na Síria, apoiaram o ditador Bashar al-Assad; no Líbano, o Hezbollah; no Iêmen, a milícia houthi; e, na Faixa de Gaza, o grupo palestino Hamas, pivô de uma guerra que já dura quase dois anos e deixou mais de 50 mil mortos.
Essa aliança informal de países e milícias do Oriente Médio liderada pelo Irã é conhecida como “Eixo da Resistência”, e inclui ainda grupos no Afeganistão e Paquistão. O que os une é sua oposição ao Ocidente. Elas se apresentam como a “resistência” à influência dos Estados Unidos e de seu aliado Israel na região.
Irã e Israel têm travado uma guerra indireta há anos, mas em 2024 passaram a se atacar diretamente, na esteira das guerras na Faixa de Gaza e contra o Hezbollah no Líbano.
Pai da Revolução Iraniana e ex-líder supremo do Irã de 1979 até 1989, Ruhollah Khomeini fez do apoio à causa palestina um elemento central da política externa do país.
ra/bl (DW, AP, AFP)