05/05/2022 - 8:32
Desde a última Conferência das Partes (o órgão supremo da convenção das Nações Unidas sobre mudança do clima) em novembro do ano passado, na Escócia, o gás carbônico (CO2) passou a dividir o papel de vilão do clima com o metano (CH4). Mas qual deles é realmente o grande antagonista do aquecimento global? A resposta: os dois, mas com pesos diferentes.
Para entender é preciso consultar uma métrica usada globalmente para comparar os efeitos dos gases de efeito estufa (GEE). De acordo com a ferramenta conhecida como GWP (Global Warming Potential ou Potencial de Aquecimento Global), o impacto do CH4 no aumento na temperatura do planeta é 28 vezes maior do que o do CO2. Então, a charada está resolvida, certo? Não. Essa é só metade da informação.
+ Aumento de metano na atmosfera atinge novo recorde em 2021, diz agência dos EUA
Da composição da atmosfera, o dióxido de carbono participa com 48% e o metano com 18%, sendo os dois principais gases para a composição do efeito estufa. Mas enquanto o carbono fica estocado por 1 mil anos na atmosfera, o CH4 permanece um intervalo entre 10 e 12 anos e, além disso, uma parte significativa das suas emissões é destruída por processos químicos antes que se acumulem sobre o planeta.
Todos esses dados foram apresentados pelo professor da Universidade da Califórnia, Frank Mitloehner, no Fórum Metano na Pecuária – o Caminho para a Neutralidade Climática, realizado pela JBS em parceria com a Silvateam. Mas antes que algum desavisado pense que o problema não é grave, o professor adverte: “O metano importa sim”. Para ele, o Brasil, que assumiu o compromisso de reduzir em 30% as emissões do gás até 2030, precisa enxergar o cenário mais como uma oportunidade do que como uma ameaça. E o segredo passa pelo manejo da pecuária, pelo uso do solo e pela busca da eficiência energética.
Isso porque, ao contrário de outros países, a maior parte das emissões de GEE do Brasil, inclusive do metano, vem da pecuária e do uso da terra. A solução de parte do problema é, portanto, menos complexa do que os países com forte dependência dos combustíveis fósseis enfrentam. Ela passa por aumentar a qualidade genética dos rebanhos bovinos e adotar manejo mais inteligente dos animais, o que diminui a fermentação entérica — processo digestivo de ruminantes que emite o CH4. Além de contribuir para a solução do problema, essas ações ainda trazem mais produtividade ao pecuarista e esse metano ainda pode ser revertido em biogás aumentando a eficiência energética das propriedades rurais. É o “upcycling” da pecuária.
Nada disso significa, porém, que o Brasil ou o agronegócio nacional estão isentos da responsabilidade no aquecimento global. Mas o auditório lotado no seminário promovido por um dos maiores frigoríficos do País mostra que há uma boa parcela de profissionais do campo empenhados em alinhar seus negócios a um modelo de produção cada vez mais sustentável.