05/12/2007 - 8:00
EIKE BATISTA, DONO DA OGX: “Petróleo é como eleição. Só vamos saber se tem depois de abrir a urna”
Dois bilhões de barris de petróleo. Se Eike Batista, hoje o empreendedor mais audacioso do País, estiver certo, estaremos falando de US$ 200 bilhões. É isso que ele pretende encontrar nos 28 blocos que arrematou na terça-feira 27. Apenas para ter o direito de prospectar petróleo, Eike sacou da carteira R$ 1,5 bilhão.
Nos próximos três anos, ele investirá mais R$ 2,2 bilhões furando poços nas águas rasas das bacias de Campos, do Rio de Janeiro, e de Santos, em São Paulo. Com o barril cotado a praticamente US$ 100, o empresário vislumbrou um mar de óleo na costa brasileira e roubou a cena da 9ª Rodada de Licitações da Agência Nacional do Petróleo. Sua petrolífera OGX, criada há menos de um ano, foi responsável por quase 75% da arrecadação de R$ 2,1 bilhões do leilão. Com isso, a empresa se transformou na dona da segunda maior área de exploração do País, atrás apenas da Petrobras e à frente de várias multinacionais. “Já nascemos grandes, com um risco também grande, mas com ambições ainda maiores”, disse Eike à DINHEIRO, logo após o leilão (leia sua entrevista à pág. 36). Caso o tesouro imaginado por Eike realmente exista, ele se tornará multibilionário. Explica-se: quando a Petrobras anunciou Tupi, com reservas de cinco bilhões de barris, a empresa passou a valer US$ 28 bilhões a mais, da noite para o dia. No caso da OGX, as reservas de petróleo imaginadas por Eike gerariam um valor de mercado para a sua empresa de, no mínimo, US$ 12 bilhões. A diferença é que a Petrobras tem milhões de acionistas, enquanto Eike é dono quase que absoluto da OGX. “Ele quer ser e será o brasileiro mais rico do mundo”, confidenciou um amigo próximo.
R$ 1,9 bilhão é quanto Eike pode captar com a EPX, da área de energia
Controlar a OGX já seria muita coisa, mas, em se tratando de Eike, não parece tanto assim. Um dia depois do leilão da ANP, ele publicou um anúncio nos jornais, divulgando a abertura de capital da MPX, seu braço na área de energia que terá dez usinas térmicas – nove no Brasil e uma no Chile. Com essa operação, ele espera captar até R$ 1,9 bilhão no mercado de capitais e é bem provável que consiga. Quatro meses atrás, ele capitaneou o negócio mais surpreendente da febre de IPOs no Brasil. Vendeu um pedaço da MMX, sua futura companhia de mineração, e levantou R$ 1 bilhão. Hoje, a empresa, que ainda está em fase pré-operacional e irá explorar minério de ferro no Amapá e em Minas Gerais, já vale sete vezes mais em bolsa. Segundo o banqueiro José Olympio Pereira, do Credit Suisse, Eike é o retrato da “revolução capitalista” no Brasil. Isso porque, com bons projetos, ele tem conseguido levantar montanhas de dinheiro para empresas que nem sequer saíram do papel. A própria OGX, que despejou uma fortuna no leilão da ANP, gastou recursos levantados junto a investidores em captações privadas.
R$ 20 bilhões é o valor estimado da OGX, R$ que será comandada por Gros
Mas por que tanta gente hoje aposta seu dinheiro nos projetos de Eike? Há, na verdade, a sensação generalizada de que ele conseguirá entregar o que promete. Essencialmente porque montou equipes altamente qualificadas, com pessoas que têm não só capacidade técnica, mas informação. A OGX é comandada por Francisco Gros, expresidente da Petrobras, e a MMX, por sua vez, tem várias pessoas que vieram da Vale do Rio Doce. “Eles estão comigo porque eu ofereço um pacote atrativo, com grandes desafios e participação acionária.” É esse modelo participativo que lhe permite se dedicar a tantas coisas ao mesmo tempo. Somando todos os projetos que tem pela frente, Eike é hoje o maior investidor privado na área de infra-estrutura. Afinal, são mais de R$ 10 bilhões em poços de petróleo, minas, portos, ferrovias, usinas e até mesmo num grande mineroduto. “É um PAC privado”, costuma brincar.
R$ 7 bilhões é o valor da MMX, criada para ser uma mini-Vale do Rio Doce
Sob a sua holding EBX, é como se houvesse hoje uma “mini-Petrobras”, uma “mini-Eletrobrás” e uma “mini Vale”. Todas financiadas com dinheiro privado. “O apetite empresarial dele é muito bom para o mercado brasileiro de óleo e gás”, avalia João Carlos de Luca, do Instituto Brasileiro do Petróleo. Nessa área, quem também demonstrou interesse, mas de forma mais conservadora, foi a mineradora Vale, que adquiriu blocos no Pará e no Maranhão. “Nosso objetivo é o consumo próprio de energia e precisamos nos precaver contra uma possível alta de preços ou escassez no futuro”, diz Vania Somavilla, gerente de energia da Vale. Eike, no entanto, quer muito mais. Num país onde o petróleo foi monopolizado pelo Estado durante mais de 50 anos, ele sonha em ser o primeiro grande magnata do setor. Um Rockfeller, talvez. Ou um sheik árabe, quem sabe. E dinheiro para bancar esse sonho parece não lhe faltar.
Colaborou Francisco Alves Filho
Nasce um gigante
Petrobras cria a maior petroquímica do Sudeste, ligando Unipar e Suzano
ROBERTO GARCIA: ele irá para o conselho, dando lugar ao novo CEO
Na sexta-feira 30, o empresário Frank Geyer, dono da Unipar, passou a manhã reunido com José Sérgio Gabrielli, presidente da Petrobras, para acertar os últimos detalhes do nascimento de um gigante nacional na área química. É a Companhia Petroquímica do Sudeste, CPS, que irá reunir os ativos da Unipar com os da Suzano Petroquímica, recentemente comprada pela Petrobras por R$ 2,7 bilhões. A empresa terá, de acordo com estimativas de mercado, um faturamento anual de R$ 8 bilhões, consolidandose assim como a segunda maior força do setor, atrás apenas da Braskem, controlada pela Odebrecht. Um aspecto importante da transação foram as condições aceitas pela Petrobras. A estatal terá 40% da empresa e a família Geyer ficará com 60%. Isso afasta de vez os temores suscitados quando a Suzano foi vendida, dando conta de uma possível reestatização do setor petroquímico.
O próximo passo será a escolha de um novo CEO para tocar o negócio. Por enquanto, Roberto Garcia, presidente da Unipar, continua à frente da empresa, mas ele irá para o conselho de administração. “O nome sai nos próximos dias”, garante um advogado envolvido na costura do negócio. Para que a operação saísse do papel, foi necessário também aparar as arestas entre as várias alas da família Geyer. Frank, que tem só 35 anos, conseguiu pacificar os conflitos e terá o comando dos negócios. Discreto, vive na Bahia, tem fama de bon vivant e acaba de se tornar um dos empresários mais poderosos do País.