09/11/2025 - 16:00
Na COP30, a comunidade internacional tentará novamente chegar a um acordo sobre metas para limitar o aumento catastrófico da temperatura global. Mas ainda há muitos obstáculos a serem superados.Dois navios de cruzeiro já estão ancorados no Terminal Portuário de Outeiro, perto da cidade de Belém, que foi recentemente ampliado. Eles servirão como acomodação alternativa para mais de 10 mil participantes da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, a COP30, que acontece na capital paraense de 10 a 21 de novembro.
Entre 40 mil e 50 mil pessoas, incluindo chefes de Estado e de governo de quase 200 países, devem participar do evento para discutir medidas para uma maior proteção climática.
De clubes de strip-tease convertidos a barcos a vapor de vários andares, Belém teve que ser criativa na oferta de acomodação devido à falta de quartos disponíveis e aos preços altos.
A cidade é uma escolha simbólica para sediar a cúpula devido à proximidade com a Amazônia, uma região vital para o clima regional e global, onde as comunidades locais estão na linha de frente de uma crise que envolve desmatamento, incêndios florestais, secas e mudanças nas estações chuvosas.
A região também é uma das mais pobres do Brasil. Os eventos climáticos extremos, que estão se tornando mais frequentes e severos devido ao aumento das temperaturas associado à queima de petróleo, gás e carvão, têm um impacto maior em comunidades de baixa renda.
Medidas de mitigação climática e redução de emissões
Antes das negociações, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva classificou o evento como uma “conferência da verdade”, referindo-se à necessidade de agir e enfrentar a realidade das mudanças climáticas. Na mesma linha, o presidente da COP 30, embaixador André Corrêa do Lago, classifica o evento como uma “conferência de implementação”.
É o que definitivamente tem faltado nos últimos anos, já que nenhum país fez o suficiente para limitar o aquecimento global a 1,5°C — limite que o mundo concordou em buscar no Acordo de Paris, de 2015.
A adaptação às mudanças climáticas deve ser um tema central em Belém. À medida que as economias, os ecossistemas e as comunidades começam a sofrer impactos climáticos mais frequentes e severos, há uma necessidade urgente de mitigar essas consequências.
Os países mais pobres e em desenvolvimento, mais vulneráveis às consequências do aumento das temperaturas, estão exigindo um apoio financeiro significativamente maior dos países ricos que mais contribuíram para o aquecimento do planeta.
A meta de 1,5°C para a proteção climática ainda não se estende à adaptação, e os países vulneráveis querem chegar a um acordo sobre indicadores que avaliem o sucesso das medidas de adaptação.
Há também a questão fundamental dos compromissos dos países com a redução das emissões que provocam o aquecimento do planeta. Todas as partes do Acordo de Paris deveriam ter apresentado novas metas climáticas em setembro. Mas, em novembro, de acordo com Corrêa do Lago, menos de 70 países haviam feito isso.
“Estamos frustrados”, disse o embaixador. “Dois prazos já passaram sem que os países cumprissem seus compromissos. Isso é irritante.”
Liderança do Brasil em meio a incertezas
Para o governo Lula, a conferência é uma prioridade e uma chance de mostrar a capacidade do país de aliar desenvolvimento sustentável ao progresso econômico e assumir um papel de liderança no cenário mundial.
A incerteza global relacionada ao aumento dos conflitos comerciais, à guerra na Ucrânia e à situação em Gaza prejudicou a política climática multilateral. Enquanto isso, os Estados Unidos, o segundo maior emissor de gases de efeito estufa do mundo, retiraram-se do acordo climático de Paris quando Donald Trump assumiu o cargo e, desde então, reverteram as medidas de proteção climática.
Apreensão entre observadores
“É importante ter um anfitrião para as negociações que inspire confiança em todos os países”, diz Niklas Höhne, do Climate Action Tracker — um consórcio de think tanks alemães e internacionais que examina como as metas climáticas nacionais estão sendo implementadas.
No início da conferência, o Brasil apresentará uma iniciativa para proteger as florestas tropicais, que são particularmente importantes para a regulação climática e a biodiversidade: o Fundo Floresta Tropical para Sempre.
Trata-se de um novo fundo que será criado com dinheiro público e complementado por investidores privados. Os países que tomarem medidas especiais para proteger suas florestas serão recompensados com os lucros dos investimentos. Pelo menos 20% dos pagamentos serão destinados a comunidades indígenas. A meta é arrecadar um total de 125 bilhões de dólares (R$ 670 bilhões) para o fundo, o que será negociado durante a COP30.
Antes da COP, Alemanha está diminuindo sua ambição
Entre os países que vão tomar parte na COP30, a Alemanha não atingirá sua meta de se tornar neutra em carbono até 2045, com base nas projeções atuais. O governo quer expandir ainda mais a infraestrutura de gás fóssil e está enfraquecendo seu compromisso com as energias renováveis.
Isso não é preocupante apenas para a Alemanha, mas também para o mundo, explicou Niklas Höhne. “A Alemanha é um ator extremamente importante na UE e também está trabalhando para relaxar as medidas de proteção climática na UE”, disse ele. “Isso, por sua vez, tem um impacto em nível global. Se a UE não assumir a liderança, quem o fará?”
À medida que grandes economias como a Alemanha perdem a ambição climática, a China assume cada vez mais esse espaço, de acordo com Jan Kowalzig, especialista em clima da ONG global Oxfam. No entanto, ele duvida que a China faça um esforço para incentivar outros a serem mais ambiciosos.
“No passado, a China se preocupou mais em proteger seus interesses nacionais do que em promover o progresso coletivo na proteção climática”, disse Kowalzig.
Mohamed Adow, da organização não governamental Power Shift Africa, afirma que o que mais se precisa de Belém são “ambições concretas, transferência de tecnologia concreta, não os clichês de sempre”.
