Cumpridos os três primeiros meses de governo, o País inteiro e o mercado em especial estão ainda a se perguntar quais os rumos que a economia brasileira tomará e se será possível verificar algum crescimento promissor no PIB. Pelas contas do FMI e de outros organismos multilaterais, não. Dificilmente o País sairá da penúria de um crescimento magro. Ao menos neste corrente ano um do terceiro mandato de Lula. E as razões são muitas. Sinalizam até alguma chance de recessão pela frente. O rombo deixado pela gestão anterior é monumental. Os cálculos chegam a apontar uma fatura da ordem de R$ 300 bilhões em aberto, dadas as traquinagens contábeis e a irresponsabilidade praticadas a troco de ambições eleitoreiras. A inflação não cede na medida esperada. Os juros seguem pela hora da morte, comprometendo qualquer interesse na busca de crédito ou por investimentos. Atenuantes, como o novo arcabouço fiscal ou mesmo a reforma tributária ainda precisam trilhar um longo caminho pela frente. Nesse último pormenor, como habitualmente ocorre, todos os setores procuram pressionar para levar vantagem e diminuir a carga. Estados e municípios não querem perder. Indústria, varejo e serviços estão preocupados com os impactos e o efeito cascata de um IVA único. Governo federal promete atenuar a cobrança das classes de renda mais baixa. A conta não fecha. Enquanto isso, o novo marco fiscal terá de acondicionar demandas gigantescas, inclusive de investimentos públicos que andaram parados e precisam de verba para ter continuidade. O presidente Lula está nervoso e preocupado. Não quer passar a imagem de uma administração apática, que não avança, e sem recursos para tocar projetos não irá muito longe na ideia de deixar um legado. O governo quer aumentar verba para universidades, conceder reajuste de servidores, melhorar o Bolsa Família, sem ter de onde tirar. O drama do cobertor curto nunca esteve tão em evidência. Difícil a economia deslanchar nesse cenário. A ministra Simone Tebet traz um olhar mais otimista em relação ao futuro. Acredita piamente que no ano que vem o Brasil possa zerar seu déficit. O mistério por trás das apostas é de onde surgirá o coelho da cartola. Não há mágica possível. Para movimentar alguns setores, o Banco do Brasil abriu entendimentos visando renegociar dívidas com descontos de até 95% em casos excepcionais. O Ministério da Fazenda pretende anunciar um pacote de crédito para azeitar segmentos encalacrados, como o do varejo. De forma alvissareira, a reforma tributária, caso bem-sucedida, pode vir a aumentar o PIB em até 20% e a arrecadação em um patamar da ordem de R$ 2,5 trilhões em 20 anos. As estimativas são do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), que enxerga um impacto positivo na engrenagem devido à simplificação e a uma maior eficiência do sistema após a aprovação do projeto. Tudo, naturalmente, dependerá da ausência dos casuísmos e penduricalhos no texto em análise. A unificação da base tributária, em sintonia com o que há de mais moderno no mundo, é um anseio antigo, mas ainda não tem a simpatia geral. No Congresso, a dificuldade para a sua aprovação está justamente na resistência do bloco de opositores do governo que faz de tudo para emperrar qualquer avanço nesse mandato. Caso prevaleça a vontade dessa parcela majoritária dos parlamentares, aí sim é que a economia não avança de jeito algum.

Carlos José Marques
Diretor editorial