– Você, que é jornalista, poderia me explicar o que está acontecendo com o Brasil?
– Em que sentido? Com o futebol da Seleção Brasileira?
– Não, com a economia. Nos últimos anos, só ouvi falar bem do Brasil. Eu me lembro que o consumo estava em alta, o desemprego era o mais baixo da história, a agricultura e a indústria batiam recordes atrás de recordes… A Copa do Mundo, a Olimpíada e a
descoberta do pré-sal eram vistas como baús do tesouro. De repente, tudo mudou. Agora só ouço falar mal.

– A resposta é complexa. Também estamos tentando entender. Vamos tomar um café?
Reproduzi o trecho de uma conversa que tive com o executivo francês Bruno Blin, presidente mundial da Renault Trucks, durante a feira internacional de veículos comerciais, em Hanover, na Alemanha, encerrada na quinta-feira 2. Diálogos semelhantes, repetidos um punhado de vezes com outros executivos e empresários durante o evento, revelam a perplexidade com que os estrangeiros estão recebendo as notícias de deterioração do cenário macroeconômico no País.

Interpretar os números da economia brasileira não é exatamente uma tarefa fácil. Nunca foi. A relação sutil entre as estatísticas e o cotidiano da população e das empresas exige um certo grau de concentração e destreza. Nos últimos meses, no entanto, o exercício de compreensão dos fatos tem se tornado cada vez mais difícil, especialmente para quem nos observa lá de fora. “O que está acontecendo com o Brasil?” é, por enquanto, uma pergunta que permite várias respostas e nenhuma conclusão.

Os recentes tropeços da economia brasileira, com a disparada do déficit nas contas públicas, que atingiu o recorde histórico de R$ 14,5 bilhões em agosto, o apático desempenho do PIB, a recessão técnica, o arrefecimento da atividade industrial e a alta dos juros, entre vários outros indicadores ruins, contrastam com a realidade vibrante do período recente. Se já é difícil de entender aqui dentro, imagine quem observa esse cenário de fora? É consenso que o cisne branco da economia global tornou-se um patinho feio.

Antes de qualquer conclusão definitiva, pode-se afirmar que algumas das regras básicas da economia, a administração das expectativas e a lapidação da imagem junto aos agentes financeiros foram negligenciadas pelo governo da presidenta Dilma Rousseff, neste ano. A confiança no País está afundando e piora ainda mais a cada divulgação de novos indicadores. Apesar dos inegáveis avanços na área social, o governo gasta mais do que arrecada, utiliza a chamada contabilidade criativa para maquiar os números fiscais, utiliza empresas estatais como instrumentos partidários e desenha um país de fantasia em sua propaganda, subestimando a capacidade de discernimento do eleitor.

A condução errática da economia torna-se mais evidente – e preocupante – não no superávit primário de 1,9% do PIB, mas na incapacidade do governo central de atingir uma meta autoimposta. Revela, aos olhos de qualquer leigo, que o governo não está conseguindo manter as rédeas da economia. A soma desses fatores está, dia após dia, acabando com a reputação do País construída na última década. O resultado das eleições, quem sabe, poderá ajudar a encontrar as respostas sobre o que, afinal, está acontecendo com o Brasil.