As principais bolsas de valores do mundo começaram esta semana em queda generalizada, refletindo o temor de recessão após divulgação de dados sobre a economia americana. A taxa de desemprego nos Estados Unidos aumentou mais do que o previsto em julho, a 4,3%. Este é o maior índice de desemprego do país desde outubro de 2021.

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Na Europa, os índices abriram com quedas de pelo menos 2%. Na Ásia, as baixas foram ainda mais intensas. O Nikkei, principal índice da bolsa japonesa, fechou em recorde negativo, com tombo de 12,4%, o pior resultado em 37 anos. Enquanto o índice Topix, perdeu 12,23%, a bolsa de Taiwan caiu mais de 8% e Seul mais de 9%.

O relatório de emprego dos Estados Unidos (Payroll) apontou uma criação de vagas menor do que o esperado, especialmente no setor de Serviços, com desaceleração relevante nas áreas de Educação e Saúde. Além disso, um crescimento menor nos salários também ajudou a piorar o quadro da economia por lá, com o mercado enxergando a possibilidade de uma recessão no país.

“A reação do mercado parece excessiva, dado que não há evidências de que a economia dos EUA esteja entrando em recessão, embora os riscos tenham aumentado. Por isso, é importante manter a tranquilidade e aguardar a depuração deste processo, que deve ocorrer até o final do mês”, avalia Alexandre Mathias, estrategista-chefe da Monte Bravo.

A preocupação com os juros nos EUA também se intensificou, com o mercado passando a precificar um corte maior na taxa básica daquele país na próxima reunião do Federal Reserve (Fed) em setembro.

“Precisamos ter calma e esperar os próximos dados para avaliar se vamos ter uma economia desacelerando muito, caminhando para uma recessão. Ou se, simplesmente, temos uma economia que está esfriando, que é o que, afinal de contas, todo mundo esperava”, diz Helena Veronese, economista-chefe B.Side Investimentos.

Nas bolsas asiáticas, o cenário norte-americano repercutiu ainda mais intensamente por dois motivos. Primeiro porque os dados só saíram noa EUA quando as bolsas da Ásia já tinham encerrado suas sessões. Portanto, eles repercutiram na sessão desta segunda. Segundo, porque o banco central japonês (BoJ) elevou os juros a 0,25% e indicou a possibilidade de novas altas. O que levou a uma valorização da moeda japonesa, o iene.

“O movimento, que já vinha levando o iene a uma forte valorização em relação ao dólar americano e às principais moedas, se juntou ao cenário internacional mais adverso e trouxe uma ‘tempestade perfeita’ para o mercado acionário japonês”, afirma Veronese.

William Castro Alves, estrategista-chefe da Avenue, acrescenta ainda o anúncio da Berkshire, do mega-investidor Warren Buffett, sobre a decisão pela forte redução de suas principais posições, elevando a percepção de que a atual relação risco versus retorno do mercado não se mostre favorável.

Soma-se ainda o fator geopolítico, com a escalada das tensões dos conflitos no Oriente Médio. Veronese explica que guerras costumam ser ruins para atividades econômicas de maneira geral, até porque, o risco de recessão aumenta. Portanto, apesar do impacto dos dados do payroll, “o pano de fundo já estava sendo de muita aversão a risco”, por conta do cenário geopolítico, diz a economista da B.Side.

No Brasil, o mercado, além de também replicar o cenário global, ainda repercute a pesquisa Focus desta semana, que mostrou que os economistas consultados pelo Banco Central elevaram as projeções para a inflação e reduziram a perspectiva de queda da taxa de juros.

O levantamento, que capta a percepção do mercado para indicadores econômicos, mostrou que agora a expectativa para o IPCA ao final de 2024 é de alta de 4,12%, ante previsão de avanço de 4,10% na semana anterior. No próximo ano, o índice é visto em alta de 3,98%, de 3,96% anteriormente. Para a Selic, atualmente em 10,5%, os economistas elevaram projeção do patamar da taxa ao final do ano que vem para 9,75%, de 9,50%.