São diversos fatores que vêm mudando a relação do motorista com seu veículo. Alguns deles, propondo até uma “ruptura” na tradicional necessidade de ter um carro – especialmente em cidades grandes. Há um novo zeitgeist que prega a economia de combustível em troca de bem-estar para o planeta. Dados mostram que mais gente está buscando meios alternativos – como bicicletas e transporte coletivo. Sem contar que tempo é o novo ‘asset’ contemporâneo: ficar parado no trânsito é diminuir sua conexão com a família, com amigos, com o conhecimento, com a diversão.

Não bastasse isso, novas regras de trânsito estão promovendo o que muitos chamam de “indústria da multa”, e os impostos sobre circulação estão cada vez mais caros. Fora isso, tem os custos de manutenção. Ou seja, suas reservas devem se preparar para o desembolso.

Observando esse novo estado de coisas e em um período marcado pelos tradicionais gastos de virada de ano (Natal, IPVA, viagens, material escolar), trouxemos três cenários distintos sobre como aproveitar seu carro em meio ao cenário que se projeta para este ano. Vamos a eles:

Quero vender meu carro

A pandemia trouxe mudanças significativas no mercado de automóveis. Tanto veículos novos como usados passaram por uma grande valorização e, mesmo com uma recente queda nos preços para os seminovos, dificilmente os preços voltarão ao patamar de três anos atrás.

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Pergunta que fica: com o cenário em constante evolução, este início de ano seria um bom momento para vender seu carro? Para Vinicius Carvalho, Senior Vice President da Kavak Brasil, a resposta é sim. “Os veículos seminovos, até em virtude de preços mais altos dos veículos 0km e em alguns casos até problemas de disponibilidade e longas filas de espera, tornaram-se as melhores e mais acessíveis compras por uma série de fatores”, afirma.

Os SUVs seguem como os mais buscados pelo consumidor, seguidos pelos sedãs médios, como o Toyota Corolla e Honda Civic, e pelos compactos que também brilham entre os 0km, como o Chevrolet Onix e o Volkswagen Gol.

Comprar um carro financiado

Quem deseja comprar um carro, seja ele 0km ou semi-novo, tem no financiamento uma das opções de compra. Se no passado, essa modalidade de pagamento era responsável pela grande maioria das vendas de veículos, atualmente o financiamento perdeu espaço devido a dificuldades em se obter crédito. Esse cenário se deve a situação econômica do país, que resultou na alta de juros e inadimplência.

“A compra financiada gira em torno dos 45% na nossa plataforma, enquanto vemos no mercado de usados [como um todo] o percentual oscila em torno de 30%.”, diz Carvalho, que aponta o planejamento como o caminho para conseguir bom negócio ao financiar seu veículo.

“Tem sido um pouco mais difícil para o consumidor acomodar a parcela de financiamento no orçamento familiar, então quanto melhor for o planejamento realizado na compra, melhor para o consumidor. Um bom financiamento parte de uma entrada que permita que a parcela do financiamento não comprometa a renda familiar mensal de forma relevante”, orienta.

Ficar sem carro

E deixar o carro de lado, seja vendendo o veículo sem comprar outro ou mesmo deixá-lo parado na garagem pode ser uma boa opção, como diz a especialista em mobilidade urbana, pesquisadora e fundadora do Instituto de Pesquisa Multiplicidade Mobilidade Urbana (IPMMU), Glaucia Pereira.

“O transporte público é a melhor opção de uso, mas também sabemos que nem todas as cidades médias e grandes possuem sistemas eficientes. Para as grandes metrópoles, por exemplo, a melhor combinação tem sido o uso do automóvel por aplicativo como conexão para uma rede de transporte público de alta capacidade, a exemplo de metrôs e trens.”, explica Glaucia.

Enquanto as grandes cidades, como São Paulo, exigem um maior planejamento para seus cidadãos se deslocarem, outras cidades apontam um outro caminho.

“Muitas cidades médias e pequenas têm dado passos importantes na direção de cumprir o direito constitucional de considerar o transporte público como um direito fundamental. Algumas delas têm adotado a Tarifa Zero, pois esta tem sido uma ferramenta e uma decisão política para evitar o colapso do sistema e permitir que o serviço seja subsidiado de uma forma justa. Já são mais de 50 cidades brasileiras que optaram pela não cobrança da tarifa, com impactos sociais importantes e, consequentemente, desincentivo no uso dos automóveis”.

A especialista ainda destaca os gastos que prendem uma pessoa ao uso do automóvel. “Uma pessoa com um automóvel, muitas vezes em função do investimento, acha que tem que fazer tudo com o automóvel. Um carro acarreta custos adicionais com manutenção, sem falar no pagamento de estacionamento nas cidades médias e grandes, fora os riscos de se envolver em algum sinistro acarretando em mais prejuízo. Tenho certeza que um dia olharemos para o passado e ficaremos bastante impressionadas pelo modo como o automóvel teve prioridade em nossas vidas”, concluiu Glaucia.