06/06/2007 - 7:00
MURILLO MENDES: empreiteiro tem hoje grandes litígios com o governo
O empresário mineiro Murillo Mendes, 81 anos, já foi um dos homens mais poderosos do País. No período áureo da construção pesada, onde houvesse uma obra de vulto, como Itaipu ou Furnas, lá estaria a Mendes Júnior. Nos últimos dez anos, no entanto, a empresa sumiu do noticiário, depois de uma crise aguda que quase provocou sua falência. Murillo se recolheu e alguns concorrentes diziam até que a Mendes já estava fora do jogo das empreiteiras. Dias atrás, porém, a empresa reapareceu em todos os jornais. Era acusada, ainda que sem provas, de bancar despesas do senador Renan Calheiros (PMDB-AL), através do lobista Cláudio Gontijo. Murillo apenas divulgou uma nota, informando que o dinheiro não era seu, que a Mendes não tem obras na esfera da Eletrobrás ? onde Renan exerceria influência ? e que seus contratos, ganhos em licitação, estão abertos a qualquer tipo de inquirição. Procurado pela DINHEIRO, ele não aceitou conceder entrevistas. Mas, em conversas reservadas com amigos, Murillo se mostrou surpreendido com a dimensão que o episódio tomou.
?Que lobby é esse que não gera benefício algum??, disse ele. Nesse imbróglio, o advogado da examante de Renan, Pedro Calmon, negou que o dinheiro usado para pagar sua cliente seja da construtora. ?Nunca disse que os recursos eram da Mendes Júnior?, admitiu Calmon.
Hoje, a construtora tem contratos que somam R$ 500 milhões, dos quais 60% com empresas como Vale do Rio Doce e Petrobras. Em Alagoas, berço político do senador Renan Calheiros, há um contrato de R$ 46,5 milhões para a construção de um terminal de contêineres no Porto de Maceió. Esta obra teve emendas apresentadas por Renan, mas a Mendes divulgou uma segunda nota, informando que os recursos já estavam previstos no Orçamento da União. O fato é que, hoje, o porte da Mendes Júnior é até razoável, mas está muito distante do que já foi no passado. Nos anos 80, a empresa chegou a empregar mais de 30 mil pessoas com suas obras no Iraque e era apontada como uma das dez maiores do mundo. No Brasil, era o segundo maior grupo empresarial de capital nacional, atrás apenas da Votorantim. E hoje, ainda que esteja disputando bons contratos, ela fica bem atrás dos grandes concorrentes do passado como Odebrecht, Camargo Corrêa e Andrade Gutierrez ? estes, sim, mais influentes junto ao poder público. Ao contrário dos rivais, a Mendes mantém até um litígio com o governo federal. Na maior parte do seu tempo, Murillo se dedica a dois contenciosos bilionários: um contra o Banco do Brasil e outro contra a Chesf. Num dos processos, contra a Chesf, o valor da indenização em favor da Mendes, segundo as perícias judiciais já realizadas, andaria na casa das centenas de bilhões de reais. Detalhes dessa disputa foram contados num livro que o empreiteiro publicou há dois anos e distribuiu a autoridades, parlamentares, juízes e presidentes de vários tribunais.
Nos próximos dias, há a expectativa de que a Mendes, que é uma empresa de capital aberto, publique seu balanço, onde poderão ser lançados os valores atualizados dos créditos. Aos amigos que o procuraram depois do affair Renan Calheiros, Murillo apenas enviou uma polêmica entrevista concedida em 1975, quando ele venceu o prêmio de ?construtor do ano?, concedido pela revista ?O Empreiteiro?. Nos dias de glória, Murillo entrou numa dividida com os seus pares ao dizer que as licitações públicas estavam se tornando viciadas e que o Brasil começava a mergulhar de vez na corrupção, o que, no futuro, desmoralizaria todas as empresas de engenharia. Murillo não dirá isso a ninguém. Mas ele, que já viveu de tudo em mais de 50 anos de luta empresarial, talvez seja um dos poucos construtores nacionais que vêem com bons olhos a instalação de uma CPI das empreiteiras. ?Seria até divertido?, diz aos amigos.