A internet provocou – e ainda provoca – mudanças profundas em diversas atividades e áreas da sociedade, da cultura e da economia. Estão aí a música (fim do CD, chegada do streaming), os livros (e-books) e o jornalismo (papel x online) para nos lembrar disso. Poderíamos também citar a educação, cujo modelo no qual está baseada ficou ultrapassado, embora ainda não se saiba exatamente como chegar ao melhor formato para a escola do futuro.

Além desses, no entanto, há uma área que começa a sentir o vento digital bater e na qual pouco se fala: a terapia. A popularização das novas tecnologias – aliada a questões como falta de tempo, trânsito, comodidade custo – tem feito proliferar os atendimentos psicológicos online. Isso abre um mercado para startups e psicólogos, mas também levanta questionamentos sobre seus excessos, limites e a eficácia desse tipo de atendimento.

Bombando no Google

Para perceber como a terapia virtual está em ebulição, basta digitar “atendimento psicológico online” e você encontrará mais de 37 mil menções em português, por exemplo, a serviços de profissionais, que cobram preços camaradas para atender via Skype, chat ou email. Se pesquisar por “psychologist online”, verá cerca de 23 milhões de referências ( sim, 23 MILHÕES…)

Existem alguns sites muito bem estruturados no Brasil, com uma boa gama de serviços, como consultas virtuais de 50 minutos, em média, e até mesmo de consultoria para criação de sites para psicólogos online. O preço por sessão varia entre R$ 40 e R$ 80, conforme a duração e o profissional.

Os atendimentos geralmente têm um número de sessões restrito e tratam de situações pontuais, como estresse, ansiedade, inseguranças, problemas no relacionamento e orientação profissional e vocacional, entre outros. Não são indicados para tratamento de distúrbios psicológicos graves.

O atendimento psicológico virtual é regulamentado por uma Resolução do Conselho Federal de Psicologia. A legislação impõe regras e limites, o que é necessário e salutar. Ainda assim, estão todos – profissionais do setor, pacientes, empreendedores, legisladores e acadêmicos – diante de um mundo novo.

Fast-food da alma?

Não sou psicólogo e por isso seria muito mais adequado saber o que um especialista no ramo tem a dizer sobre o assunto. Em todo caso, algumas questões me chamam à atenção.

Recorrer à internet me parece bem útil e importante para pessoas que desejam continuar um atendimento, mas estão temporariamente impedidas de frequentar o consultório. Pense em alguém que tem afinidade com um analista, mas foi obrigado a se mudar de país ou cidade por alguns meses. Não seria uma boa solução manter os atendimentos por Skype? Sei de uma pessoa que faz isso e está satisfeita.

Por outro lado, fico pensando o quão eficaz seria para uma pessoa entrar num site, buscar um profissional e comprar pacote de sessões ( duas, três, cinco, dez?) a fim de discutir seja lá o que for.

Outras questões pairam no ar:
• A terapia virtual é de fato uma alternativa bem-vinda para a vida moderna? Ou seria a sanha fast food chegando à psicologia?
• É possível enxergar essa atividade como uma área de negócios, algo que entre no radar de investidores e empreendedores? Ou estamos falando de coisas incompatíveis?
• Como evitar que essa abertura tecnológica resulte apenas num imenso supermercado psicológico online?

Como toda inovação provocada pela tecnologia, ainda teremos um longo percurso até digerir bem o assunto e entender o que está diante de nós. Independentemente disso, outra dúvida está me martelando a cabeça: o que Freud diria sobre o divã virtual? Montaria um site e abriria seu Skype para os pacientes ou acharia tudo isso uma tremenda balela da era digital?