16/04/2008 - 7:00
O TITANIC FOI INDESTRUtível até içar âncora pela primeira vez e encontrar um iceberg. Passados 96 anos, outro mito foi por água abaixo: os fundos de arbitragem de ações, os chamados long and short. Eles surgiram há dois anos e deveriam resistir às crises. Bastaria a habilidade dos gestores em fazer as arbitragens entre os papéis de uma mesma empresa ou setor para gerar resultados. Não foi o que aconteceu. Na primeira grande volatilidade, muitos deles afundaram no mar. A rentabilidade no ano está negativa em 1,07% e já foram resgatados R$ 2,1 bilhões. Com perfil semelhante, os fundos multimercados com renda variável e alavancagem sofreram saques de R$ 9,9 bilhões este ano. O que aconteceu? O long and short está pagando o nunca haviam enfrentado uma onda mais forte no casco. Dos 23 fundos que estrearam após 1º de abril do ano passado, 52% estão com retorno negativo. ?O risco desses fundos estava abaixo da realidade. Agora, ele se manifestou?, diz Paulo Clini, estrategista do Western Asset. Até agosto passado, a calmaria e os bons resultados da bolsa levaram alguns gestores a arriscar demais. Como nesses fundos se ganha com a diferença entre as ações compradas e vendidas, era comum encontrar carteiras cheias de papéis estreantes enquanto do outro lado, na parte vendida, estava o índice Bovespa ou ações mais líquidas, como Petrobras e Vale. Apostava-se na valorização das ações novatas e na queda das commodities, cujos preços subiram demais. Mas o vento contrário fez Petro e Vale dispararem com a alta dos preços do petróleo e do minério de ferro, o Ibovespa acompanhou esse desempenho e alguns gestores tiveram dificuldade em se desfazer das posições. O RVI Long Short Multimercado é o primeiro na lista dos afogados, com perdas de 7,3% no primeiro trimestre (ver tabela acima). Procurados, os gestores dos fundos que foram por água abaixo não atenderam os pedidos de entrevista. Prova de que a transparência nesse mercado tem muito a evoluir no País.