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NA MANHÃ DA SEGUNDA feira 5, o magnata alemão Adolf Merckle, 74 anos, acordou por volta das 7h em sua mansão na pacata cidade de Blaubeuren, ao sul do país, não tão rico quanto na noite anterior, mas ainda bilionário. Como de costume, servido por 11 empregados, tomou café da manhã e folheou o jornal. Apesar de prejuízos estimados em US$ 1,5 bilhão com a crise internacional, ele tinha em mãos um império avaliado em mais de US$ 9,2 bilhões, fortuna que o mantinha entre os 100 homens mais ricos do planeta, segundo ranking da Forbes. Se ele seguisse sua rotina normal, sairia de casa em direção ao escritório, no centro da cidade, para administrar o grupo de empresas que leva seu nome, com mais de 70 mil funcionários. Mas aquele não era um dia normal. Horas depois, Merckle decidiu acabar com a própria vida. Escreveu uma carta de despedida à família, caminhou 300 metros, deitou-se em uma ferrovia próxima e aguardou o trem passar. Para ele, era o fim dos problemas. O corpo só foi encontrado à noite./

O que levaria um dos homens mais ricos do mundo ao suicídio? A resposta é tão intrigante e complexa quanto seu envolvimento na crise global. “A precária situação econômica de suas empresas provocada pela crise financeira, assim como as incertezas das últimas semanas e a sensação de impotência por não poder mais controlar a situação, arrasaram o dedicado executivo”, afirmou a família Merckle, em um comunicado. O Grupo Merckle, que inclui as farmacêuticas Ratiopharm e Phoenix e a maior indústria de cimento da Alemanha, a HeiderlbergCement, possui oficialmente uma dívida de US$ 1,5 bilhão com bancos. Especialistas do mercado bancário europeu estimam, no entanto, que o rombo pode chegar a US$ 7,5 bilhões. As empresas dele faturaram no ano passado cerca de US$ 45 bilhões. Desde o agravamento da crise, o industrial tentava captar, sem sucesso, empréstimos na Alemanha.

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Aparentemente, a decisão do empresário vai além da questão financeira. Antes da crise, Merckle perdeu quase US$ 1,5 bilhão com investimentos especulativos nas ações da Volkswagen. Em outubro passado, ele apostou na queda dos papéis da montadora, mas o valor disparou com o anúncio do interesse da Porsche, comandada por Ferdinand Piëch, em reforçar a posição na marca. Logo em seguida, a Porsche assumiu o controle acionário da Volkswagen. Após o episódio, Merckle saiu derrotado por Piëch e sua imagem ficou arranhada no mercado. Para a psicoterapeuta Regiane Garcia, professora do Instituto Brasileiro de Psicossomática, o suicídio de Merckle provavelmente foi motivado pela sensação de fracasso, mais do que apenas as perdas financeiras. “Não sabemos dos problemas pessoais dele nem de seu estado psicológico, mas podemos supor que a decisão de se matar pode estar relacionada a um quadro de depressão, que gerou um comportamento de desequilíbrio”, disse Regiane. Seja por depressão, seja pelo sentimento de perda, o suicídio não foi a saída encontrada apenas por Merckle. O americano Thierry de la Villahuchet, 65 anos, dono do fundo Acces International, se matou no dia 23 de dezembro após levar um golpe de mais de US$ 1 bilhão de Bernard Madoff.