12/11/2008 - 8:00
BARACK OBAMA TEVE UM GRANDE orcedor em Brasília. Assim que soube do resultado da eleição, na quarta-feira 5, o presidente Lula derramou-se em elogios. “Ele vai dar certo”, comemorou. “Sua eleição transmitiu a certeza de que a esperança é mais forte do que o medo.” O clima de renovação, contudo, vem acompanhado pelas dúvidas sobre as relações com toda a América Latina. No Itamaraty foi montado um bunker para estabelecer contatos com a equipe de Obama, mapeando os principais interesses do Brasil. Mas até a noite de quintafeira, a equipe de Lula não havia conseguido fazer contato com o presidente eleito. Em Brasília, o interlocutor é o embaixador Everton Vargas. Já em Washington, as tratativas estão a cargo do embaixador Antonio Patriota. Do lado de Obama, o homem-chave é Anthony Lake, assessor para política externa do futuro presidente.
Há três tópicos principais. O primeiro, mais sensível, é economia e comércio, que se subdivide em Rodada Doha e crise financeira. O Brasil quer tentar fechar no governo Bush a rodada da Organização Mundial do Comércio, acreditando que Obama e um Congresso majoritariamente democrata serão mais reticentes em temas comerciais. “Não veremos qualquer avanço nos temas de comércio pelos próximos três ou quatro anos”, vaticina o embaixador Roberto Abdenur.
O segundo tópico tratado pelo Itamaraty diz respeito a biocombustíveis. Os diplomatas acreditam que nem o poderoso lobby dos produtores de milho de Iowa e Illinois, Estados fundamentais para a eleição de Obama, será capaz de manter por muito tempo os pesados subsídios que impedem a entrada do etanol brasileiro nos EUA. Além disso, o novo presidente promete diversificar a matriz energética, reduzindo a dependência do petróleo. “A vitória de Obama pode ser muito boa para os produtores brasileiros de etanol”, prevê Marcos Jank, presidente da Unica, a associação dos usineiros. O último ponto tratado diz respeito às relações internacionais. “Não há mais nenhuma explicação na história da humanidade para continuar o bloqueio americano a Cuba”, disse o presidente Lula, numa clara tentativa de marcar posição da liderança do Brasil sobre os outros países latino-americanos. Assessores de Obama ainda se mostram descrentes em relação a mudanças no embargo, mas acenam com concessões, como a remessa de dinheiro de imigrantes. Os diplomatas brasileiros também mandaram recados à equipe de Obama, demonstrando que gostariam de ver uma aproximação com a Venezuela. Em ambos os casos, não receberam nenhuma resposta do democrata.