Há alguns anos, aos olhos dos consumidores, o computador se transformou em uma commodity, algo semelhante aos aparelhos de TV: na hora da compra, os clientes buscam não só tecnologia, mas também preço baixo. Assim, qualquer centavo economizado no processo de fabricação pode significar a diferença entre o sucesso e o fracasso no mercado. Eis aí um dos mais fortes motivos para a Dell transferir suas linhas de produção de Eldorado do Sul (RS) para Hortolândia, no interior de São Paulo, onde inaugurou uma nova planta na segunda-feira 14, com direito à presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Em sua nova casa, a Dell ficará a apenas 20 quilômetros do Aeroporto de Viracopos, porta de entrada dos componentes importados para seus computadores, e a 110 quilômetros de São Paulo, o coração da região Sudeste, onde se concentram 70% dos clientes da empresa. A mudança, de acordo com Reinaldo Sakis, analista do IDC, trará uma redução de aproximadamente 70% no frete dos componentes. “Esta fábrica colocará a Dell mais próxima no centro de negócios do País”, disse Raymundo Peixoto, diretor-geral da Dell no Brasil.

A unidade de Hortolândia deve representar o fim a conta-gotas da base da empresa no Rio Grande do Sul: “Metade dos funcionários em Eldorado do Sul já aceitou se mudar para São Paulo”, diz Peixoto. “O futuro da fábrica gaúcha dependerá do desempenho de Hortolândia.” A unidade paulista empregará três mil funcionários no final de 2008 – atualmente o quadro de pessoal soma 1,2 mil pessoas. “Ela terá tecnologia de ponta”, diz Michael Cannon, presidente global de operações da Dell.

Com a inauguração, a companhia se mantém na briga pela liderança do mercado de computadores no Brasil. As fabricantes venderam sete milhões de PCs em 2006. A Dell participou com 500 mil unidades, o que lhe garantiu um faturamento estimado entre R$ 850 milhões e R$ 950 milhões. A liderança cabe à Positivo, que comercializou 834,7 mil computadores e faturou R$ 1,35 bilhão. A inauguração de segunda- feira também parece ter enterrado a possibilidade de a Dell deixar o País, um tema abordado até pelo presidente Lula em seu discurso. “Há dois anos a Dell quis ir embora do Brasil”, disse ele. Na ocasião, o motivo foi a concorrência desleal da informalidade. Em 1999, os índices de contrabando de PCs batiam em alarmantes 80% do total de vendas. Hoje, estão em 40%, em curva de declínio.

A nova fábrica da Dell consumiu R$ 130 milhões, segundo a secretária de Planejamento Urbano e Desenvolvimento do município de Hortolândia. Lá serão produzidas todas as linhas de produtos da companhia no Brasil, como computadores de mesa, notebooks e servidores. Com cerca de 200 mil habitantes, a cidade será a base de exportação da multinacional para toda a América Latina e também para outros mercados: “Começaremos a vender para a África do Sul ainda neste ano”, diz Cannon. Ainda focada em 80% de seus negócios no mercado corporativo, a Dell começa a testar algumas iniciativas no varejo, como o quiosque montado no Shopping Morumbi, em São Paulo. A prefeitura da cidade abdicou do IPTU (Imposto Predial e Territorial Urbano), do ITBI (Imposto Sobre a Transmissão de Bens Imóveis) e gastou R$ 1,3 milhão com infra-estrutura e terraplanagem do terreno.