Os espanhóis mostraram ao mundo recentemente uma nova forma de mobilização política: uma manifestação de hologramas. Não se trata de uma modinha tecnológica ou de uma ode à alienação política. Pelo contrário: estamos falando de uma sacada genial contra a opressão travestida de lei.

O primeiro protesto de holograma da história, conforme os organizadores chamaram a iniciativa, aconteceu em Madrid, em frente ao Parlamento espanhol, há algumas semanas. A manifestação virtual teve como alvo uma nova lei do país que restringe assembleias e protestos em espaços públicos. Conhecida como “Lei da Mordaça”, a medida estipula multas entre seis mil e 30 mil euros para as manifestações realizadas sem autorização prévia.

Como os eventos públicos foram praticamente inviabilizados pela nova lei, diversas organizações – entre elas o Greenpeace – prepararam o protesto de hologramas. Funcionou assim: qualquer pessoa, de qualquer lugar do mundo, acessava o site do movimento e, com poucos cliques e uma webcam, criava um holograma de si próprio e gravava mensagem de voz.

No dia programado, tudo parecia uma manifestação convencional: os participantes desfilaram empunhando cartazes de protesto e gritavam palavras de ordem. Só que ninguém estava fisicamente na frente do Parlamento. A imagem delas é que foi projetada no local (clique aqui para ver o vídeo).

Os organizadores sabem que, se a moda de protestos virtuais pega, os poderosos de plantão podem gostar da brincadeira.

Afinal, é muito melhor ter hologramas do que gente de carne e osso nas ruas.

No episódio de Madrid, porém, foi diferente. A tecnologia foi utilizada brilhantemente como uma resposta ao cerco à liberdade de expressão. A repercussão do protesto de hologramas foi certamente maior do que o seria, neste caso, uma manifestação tradicional, porque o ineditismo da ação correu a imprensa e chamou à atenção do mundo inteiro para o assunto.

Imagine a mesma iniciativa aplicada em outros países que cerceiam a liberdade de expressão. Será uma tapa na cara de ditadores e um instrumento formidável na batalha da comunicação.

O primeiro protesto de hologramas da história nos mostra, mais uma vez, como a tecnologia pode ser usada a favor da mobilização social. E de forma criativa e poderosa.