O que os bilionários têm em comum além dos nove digitos? Essa pergunta foi feita várias vezes pelo administrador brasileiro e especialiasta em fortunas Ricardo Geromel, ex-analista da Forbes americana. Em seu levantamento, Geromel encontrou oito semelhanças entre os homens e mulheres mais ricos do mundo. “Bilionários gostam de crise, portanto, são nelas que eles mais ganham dinheiro”, diz ele. O estudo virou o livro “Bi.lio.nár.ios”, publicado no Brasil pela Leya. Do Brasil, foram estudados 65 bilionários que acumulam US$122 bilhões, em uma lista encabeçada por Jorge Paulo Lemann. Em entrevista à DINHEIRO, Geromel fala sobre o comportamento e a reação dos bilionários em tempos de crise.

DINHEIRO – Bilionário gosta de estar em lista de bilionário?
Ricardo Geromel –
 Há 1.645 bilionários no mundo e seria complicado generalizar. Mas se separarmos por países eu diria que os americanos, em geral, celebram os ultra-ricos, os admiram e até lhes proporcionam status de celebridades. Os brasileiros, muitas vezes por questões de segurança, preferem ficar no anonimato. Alguns até já me ligaram pedindo para remover os nomes deles da lista, alegando que eu estava colocando a família deles em risco. Os franceses, por questões culturais e também tributárias, são os que fogem de maneira mais explícita. 

DINHEIRO –  Em qual categoria está o brasileiro Jorge Paulo Lemann?
Ricardo Geromel - 
Apesar de ser descrito como “o bilionário mais interessante do mundo”, Lemann detesta entrevistas, raramente vai a eventos badalados e evita fortemente os flashes e microfones, isso faz dele um bilionário no estilo low-profile.

DINHEIRO –  As crises costumam diminuir a lista de bilionários? Que efeito elas têm nas grandes fortunas?
Ricardo Geromel –
 É nas grandes crises que muitas fortunas são feitas. Warren Buffett sempre diz que ele adora crises. É quando o pessoal se assusta, começa um efeito de manada, o medo domina e perdem o foco no essencial, no verdadeiro valor das empresas. Nos últimos meses diversos recordes foram quebrados quanto a performance da bolsa de valores dos EUA. Este é o cenário  que percebo que muitos investidores bilionários decidem diminuir a participação no mercado e depois voltam com tudo brevemente após o apogeu da crise. 

DINHEIRO –  Existe uma tendência de aumentar os bilionários empreendedores e diminuir os bilionários de herança?
Ricardo Geromel –
  Espero que sim. As 15 famílias mais ricas do Brasil tem um total estimado deu US$ 122 bilhões – ou 5% do PIB do país na época. Uma vez conversei com o Arminio Fraga que me disse algo como “o problema do Brasil é que para chegar na sua lista de bilionários, o empreendedor brasileiro tem que fazer diversas viagens à Brasilia.” Infelizmente, concordo plenamente com Arminio. 

DINHEIRO – Proporcionalmente, o Brasil tem muito menos bilionários do que deveria. Essa afirmação é correta?
Ricardo Geromel –
  O Brasil é o país com a quinta maior população do mundo, mas a sétima maior economia. Então talvez o “proporcionalmente” que você usa nesta afirmação colocaria o país em sexto em número de bilionários? Se sim, o Brasil esta melhor do que “deveria”, pois é o quinto pais com o maior numero de bilionários, 65, antes estão os EUA com 492, Rússia, 111, Alemanha, 85 e China, 152. 

DINHEIRO – As ações de filantropias, em sua grande maioria, são genuínas ou forma de promoção ou benefícios fiscais?
Ricardo Geromel - 
 Antes eu achava que eram formas de ter incentivos fiscais, comprar capital político e promoção. Depois, percebi que, na verdade, em sua grande maioria, são genuínas. Eu publiquei algumas cartas de bilionários, explicando porque eles são engajados em filantropia. Um deles, o americano Chuck Feeney, é o meu filantropo favorito. Ele lutou na guerra das Coreias e cresceu em uma família simples, filho de uma enfermeira. Ganhou seus bilhões sendo sócio de uma das principais lojas de duty free do mundo, a DFS. Ele já doou US$ 250 milhões para a reconstrução do Haiti após o terremoto catastrófico e US$ 290 milhões para construir um novo campus de medicina para a Universidade da Califórnia, em São Francisco. Feeney também fez doações em diversos países, como Irlanda, Vietnã, Austrália, Bermudas, África do Sul e Estados Unidos.

DINHEIRO – Afinal, o que os bilionários têm em comum?
Ricardo Geromel –
  Antes de mais nada, gostaria de deixar claro que não há traços de personalidade predominantes na maioria dos bilionários. Independentemente de suas personalidades diversas, quase todos parecem seguir à risca oito “regras” que são gostar mais de ganhar do que de gastar, é empregador e não empregado, convive com tubarão, entende o poder da educação, permite-se fracassar, sempre faz novos erros, fracassa até acertar, fracassa rumo ao sucesso, é sensível à filantropia, sabe que não é a pessoa mais importante do mundo.

DINHEIRO – Existe uma predominância em setores? Quais setores mais concentram bilionários?
Ricardo Geromel –
  Os bilionários vêm de diferentes setores e começaram suas empresas de centenas de maneiras distintas, o negócio é apostar alto e ser seu próprio chefe. Eles mostram resiliência para seguir em frente mesmo depois de ouvir muitos nãos e um desejo ardente de botar a mão na massa e arregaçar as mangas para criar seus negócios extremamente rentáveis. No caso do Brasil, os principais setores em que existem bilionários são o de investimentos, moda e varejo, imobiliário, alimentício, tecnologia, energia e mídia.