Em 1988, Christiano Fonseca Filho tinha 22 anos e trabalhava na Corretora Nacional de Fundos Públicos (não confundir com o extinto Banco Nacional), no Rio de Janeiro. Roberto Vinhaes, cliente da corretora, lhe entregou um exemplar da revista americana Businessweek. Uma das reportagens tratava de uma área em ascensão nos Estados Unidos nos anos 1970: as gestoras independentes de recursos. “Naquela época, as pessoas no Brasil compravam e vendiam ações sem saber nem a que setor as empresas pertenciam”, diz Fonseca.

Ao lado de Vinhaes, ele deixou a corretora para apostar no segmento e ambos criaram a Investidor Profissional (IP), pioneira no País. Vinte e três anos emuitas crises depois, a casa administra R$ 1,2 bilhão. Os resultados são bons. Desde 1993, quando reuniu as carteiras que administrava em um fundo de ações, a empresa acumula um ganho de 6.700% em dólares, ante 2.039% do Ibovespa e 2.101% dos juros de mercado. Outras gestoras surgiram na esteira da IP: a Dynamo, fundada em 1993 e que administra R$ 3 bilhões, e a GAP, criada três anos depois e que cuida de um portfólio de R$ 3,6 bilhões.

 

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Longo prazo: comprar ações e mantê-las por décadas é a estratégia de Christiano Fonseca, da IP

 

O aprendizado foi construído lentamente, ao enfrentar as imperfeições do mercado acionário brasileiro antes da estabilização da moeda, os percalços da economia mundial e os solavancos brasileiros – crises políticas, planos econômicos e o doloroso combate à inflação. Resistir por tanto tempo deixa muitas lições, que podem ser aproveitadas por todos os investidores. A primeira e mais importante delas é a persistência. “Mantemos a mesma estratégia há 23 anos”, diz Fonseca, um fundamentalista de carteirinha que segue à risca a cartilha do megainvestidor americano Warren Buffett. 

 

Fundamentalista, no jargão do mercado, é aquele que segue os fundamentos econômicos da empresa e do setor no qual ela atua. Assim como Buffett, a IP investe grandes fatias de seus recursos em poucas ações e mantém esses investimentos durante largos períodos – um bom exemplo são as ações da livraria Saraiva, adquiridas nos anos 90, e os papéis da rede de farmácias gaúcha Dimed. “Compramos em 2001 e ainda não vendemos.”

 

A segunda lição é a preparação. Na IP, todas as decisões são planejadas cuidadosamente, depois de muita pesquisa. A casa investe apenas em ações e procura ficar longe das líderes do pregão. Em alguns casos, as compras são tão grandes que ela adquire o direito de ocupar um assento no conselho de administração e, assim, influir nos rumos da empresa. Um bom exemplo é a OdontoPrev, que fez parte do portfólio da IP durante vários anos. “Nós ajudamos a costurar o acordo que fechou a venda da OdontoPrev para o Bradesco”, diz Elsen Carvalho, outro sócio da gestora.

 

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Camacho, da GAP (à esq.), enfrentou os clientes irados com as perdas

 

Finalmente, a terceira lição é a paciência. Fre-quentemente há um grande intervalo entre tomar uma decisão e colocá-la em prática (veja quadro). Além disso, é preciso saber esperar os resultados sem se desviar da rota. Um bom exemplo foi a estratégia da GAP. No fim de 1998, o sócio Emanuel Pereira antecipou que a desvalorização do real era questão de tempo. A GAP fez uma pesada aposta no dólar e perdeu dinheiro por quatro meses. “Foi preciso lidar com a insatisfação dos clientes”, diz Carlos Camacho, outro sócio. 

 

Em janeiro, quando o câmbio passou a flutuar e o dólar dobrou de preço em poucas semanas, a empresa não só recuperou as perdas como auferiu ganhos que abriram as portas dos principais investidores e distribuidores de fundos do mercado. “Nós havíamos prometido e entregamos”, diz Camacho. “Tínhamos confiança na nossa avaliação.” Já a Dynamo é especialista em renda variável e sua filosofia é apostar na análise fundamentalista, numa estratégia semelhante à da IP. 

 

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Os veteranos concordam que a crise de 2008 foi a pior que já enfrentaram. A recuperação que se seguiu à turbulência foi um alívio, mas o cenário para 2011 permanece indefinido e está sujeito a fortes oscilações. Mesmo assim, há boas oportunidades no pregão. “As ações de administradoras de shopping centers têm potencial”, diz Carvalho. O mercado tem espaço para crescer, as empresas proporcionam um retorno razoável para o investidor e, principalmente, são pequenas e podem participar de movimentos de consolidação. 

 

Mesmo assim, a recomendação das veteranas é manter a calma e seguir a cartilha dos mestres. Segundo Carvalho, o investidor que quiser ter um retorno suculento tem de fazer a lição de casa e escolher boas empresas, comprando suas ações na hora em que todos estão vendendo. “A pior decisão possível é se apavorar na hora da queda.”