Enquanto quase 900 mil trabalhadores perderam o emprego com carteira assinada de março a setembro, durante a pandemia, o brasiliense João Alves e Silva conseguiu uma vaga num quiosque de venda de sorvetes no Pátio Brasil, shopping da capital federal. Com 24 anos e um longo período de procura por emprego fixo, Silva pôde realizar o desejo de ter pela primeira vez a carteira de trabalho assinada e a previsibilidade de um salário garantido no fim do mês.

Ele é um dos milhares de brasileiros que entraram no mercado de trabalho já sob as regras definitivas pela Nova Previdência, em vigor há exato um ano.

A reforma fixou uma idade mínima para aposentadoria de 62 anos (mulheres) e 65 anos (homens), regras de transição, pensões por morte com redutores e novo cálculo do benefício. Mas Silva, que tem ensino médio e fazia um curso técnico interrompido pela pandemia, pouco conhece sobre o que as mudanças representam e seus direitos.

O que ele sabe é que vai ter de trabalhar por uma prazo maior até se aposentar. “Não foi muito explicado. O que eu ouvi recentemente é que vou ter de trabalhar mais. Ainda não fiz as contas”, diz. “Vai chegar o momento que o corpo não vai aguentar mais”, completa o jovem, que dividiu com a família – mãe, irmã, cunhado, sobrinha e namorada – a felicidade do primeiro emprego.

A falta de experiência estampada na carteira de trabalho em branco sempre foi empecilho para arrumar o primeiro emprego.

“Foi difícil arrumar essa experiência. Eu sempre quis ter a carteira assinada, mas não tinha experiência comprovada. A oportunidade não existia para mim”, afirma ele, ainda surpreso com o fato de o trabalho ter chegado durante a pandemia.

Nesse momento de vida, a Previdência para ele é garantia e segurança de que terá acesso a benefícios do governo, como auxílio-doença. Os planos para o futuro ainda estão longe de envolver a aposentadoria. A perspectiva agora é conseguir a casa própria por meio do Minha Casa Minha Vida, rebatizado pelo atual governo de Casa Verde e Amarela. “Eu penso em abrir uma poupança para o futuro, quando estiver mais velho. De momento, o que quero é ter uma casa para minha mãe e para mim”, diz.

Já o economista Mauricio Oliveira, de 60 anos, batalha para conseguir se aposentar. Com 34 anos de contribuição (33 anos na época da aprovação da reforma), ele entrou nas regras de transição e precisou adiar os planos de aposentadoria. Antes, previa pedir o benefício em 2021. Agora, só lá para 2022, já que ele quer fugir do fator previdenciário – que funciona como redutor do valor a ser recebido. “Estou perto, mas vou ter de esperar”, afirma ele.

Oliveira foi demitido da entidade onde trabalhava como assessor econômico. Com isso, perdeu o vínculo formal e, consequentemente, as contribuições ao INSS.

Para evitar um atraso ainda maior nos planos, vai recorrer às suas economias para seguir fazendo os recolhimentos de forma autônoma – com uma alíquota bem maior, de 20%, ante a contribuição de 7,5% a 14% paga por quem está empregado. “Ainda bem que eu tenho essas economias”, conta.

A esperança de Oliveira é conseguir pagar ao INSS pendências do passado, de um período em que trabalhou como pessoa jurídica e deixou de pagar a Previdência. “Falta um ano de contribuição. Se eu conseguir pagar as pendências do passado e recuperar o tempo perdido, consigo me aposentar antes.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.