14/11/2025 - 16:04
Mensagens divulgadas por parlamentares americanos revelam a rede de conexões do bilionário pedófilo, que incluía chefes de Estado, estrategistas políticos e empresários.Milhares de documentos divulgados pelo Comitê de Supervisão da Câmara dos Representantes dos EUA oferecem um novo vislumbre de como eram as relações do pedófilo condenado Jeffrey Epstein com executivos, jornalistas, acadêmicos e figuras políticas ao longo de mais de uma década.
Parte dos documentos que envolvem diretamente o presidente dos EUA, Donald Trump, foi divulgada pelos democratas, e um número maior, pelos republicanos.
A troca de mensagens começou por volta da época em que Epstein terminou de cumprir uma sentença por solicitação de prostituição de uma menor, em 2009, e seguem até meses antes de sua prisão por acusações federais de tráfico sexual em 2019.
Durante esse período, a rede de contatos de Epstein foi eclética, abrangendo diferentes espectros políticos: do acadêmico de esquerdaNoam Chomsky ao ultradireitista Steve Bannon, aliado de longa data de Trump.
Epstein morreu na prisão um mês depois de sua acusação por tráfico. Seus crimes, conexões de alto nível e o a conclusão oficial de suicídio na cadeia tornaram o caso um ímã para teorias da conspiração e investigadores amadores em busca de provas de suposto encobrimento.
Os emails não implicam seus contatos em supostos crimes. Mas traçam um retrato da influência e conexões de Epstein durante os anos em que ele foi condenado por agressão sexual.
As mensagens revelam que Epstein compartilhava notícias e discutia estratégias ou fofocas, frequentemente em mensagens curtas e cheias de erros gramaticais.
Alguns contatos o apoiavam durante os processos, outros procuravam conselhos sobre tudo, desde namoro até preços do petróleo. Um até pediu orientação sobre como responder a acusações de assédio sexual.
Bannon e Trump
Em vários e-mails de 2018, Epstein aconselhou Bannon sobre sua turnê política na Europa após o estrategista enviar um artigo dizendo que a mídia alemã o subestimava.
Vários meses depois, Epstein enviou alguns conselhos: “Se você vai atuar aqui, terá de passar um tempo; a Europa não funciona à distância.” “É possível, mas demorado”, continuou Epstein em um e-mail posterior, “há muitos líderes de países para os quais podemos organizar encontros individuais para você.”
Meses antes, Epstein insultava Trump, cujo movimento Bannon representava, em e-mails para Kathryn Ruemmler, ex-conselheira da Casa Branca sob Barack Obama.
Trump e Epstein foram amigos por anos, mas romperam a relação antes das primeiras acusações de tráfico sexual.
Ruemmler escreveu a Epstein chamando Trump de “nojento”. Epstein respondeu: “pior na vida real e de perto.”
O agressor sexual também afirmou que Trump “sabia sobre as garotas” e mencionou que uma de suas acusadoras mais conhecidas, Virginia Giuffre, tinha trabalhado no clube Mar-a-Lago do político americano. Ele também alegou que o republicano havia “passado horas” em sua casa com uma das vítimas.
Giuffre, que morreu por suicídio no início deste ano, Ghislaine Maxwell, a recrutou em Mar-a-Lago para fazer massagens em Epstein. Trump há anos dizia que havia proibido Epstein de entrar no clube.
Epstein disse, em um e-mail para o jornalista Michael Wolff, que Trump não o expulsou do clube porque ele não era membro. “Claro que ele sabia sobre as garotas, já que pediu à Ghislaine [esposa de Epstein] para parar”, acrescentou Epstein.
Trump tem feito diversos esforços para se esquivar das acusações contra ele. Nas redes sociais, reclamou do foco dado a Epstein, chamou os emails de “farsa” e pediu aos parlamentares não perderem tempo com o assunto. “Eu tenho um país para governar”, escreveu.
A divulgação de conteúdos extensos sobre as relações do pedófilo americano chegaram a ser prometidas por Trump antes de eleito e demandadas por sua base mais radical. Após assumir a Casa Branca, porém, tomou postura defensiva e sua administração rejeitou a ideia de divulgar novos conteúdos do caso.
Chefes de estado
O financista trocava e-mails com frequência com pessoas no topo da elite financeira global, também intermediando apresentações e conversando sobre política e assuntos internacionais.
Em janeiro de 2010, o capitalista de risco da área de biotecnologia Boris Nikolic estava participando do Fórum Econômico Mundial em Davos, na Suíça, e Epstein enviou um e-mail perguntando: “alguma diversão?” Nikolic respondeu que havia conhecido “seu amigo” Bill Clinton, além do então presidente francês Nicolas Sarkozy e “seu outro amigo”, o ex-príncipe Andrew, “pois ele tem algumas perguntas sobre a Microsoft”.
Segundo portal americano Politico, Epstein também tentou enviar uma mensagem a Sergei Lavrov, ministro das Relações Exteriores da Rússia, antes de um encontro entre Trump e o presidente russo Vladimir Putin, em 2018. “Acho que você poderia sugerir ao Putin que Lavrov pode obter informações conversando comigo”, disse ele ao ex-primeiro-ministro da Noruega, Thorbjorn Jagland.
Chmosky e citações a Lula e Bolsonaro
Os emails mostram que Epstein também mantinha contato com Chomsky, o famoso linguista e cientista social. Eles trocavam argumentos acadêmicos e o bilionário chegou a oferecer uma de suas residências para Chomsky, além de, pelo menos em uma ocasião, ajudar o linguista a movimentar valores financeiros.
Trechos publicados pelo portal G1 também mostram que Epstein alegou ter participado de uma ligação com Chomsky na qual estaria também na linha o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, quando ele estava preso em Curitiba, em 2018. À época, o acadêmico havia visitado o petista na sede da PF em Curitiba.
“Chomsky me ligou com o Lula. Da prisão. Que mundo”, escreveu, antes de adicionar ao interlocutor que o ex-presidente Jair Bolsonaro , então candidato à Presidência, “é o cara”.
A Secretaria de Comunicação da Presidência da República negou que uma ligação telefônica com Lula e Epstein intermediada por Chomsky tenha acontecido. Na imprensa, advogados criminais também questionaram a hipótese, apontando que celulares eram proibidos no local em que Lula estava preso.
Associados teriam participado de crime
Os emails também mostram que Epstein manteve uma relação amigável com Larry Summers, que foi secretário do Tesouro do presidente americano Bill Clinton e ex-presidente da Universidade Harvard, trocando comentários sobre a corrida presidencial de 2016 e sobre Trump.
Outros emails também implicam que Epstein possuía pessoas possivelmente implicadas no suposto crime de tráfico sexual. Trechos obtidos pelo The Guardian mostram que o financista discutia sobre “garotas” e viagens com um associado. Em um dos emails, o interlocutor diz que havia “8 garotas de alto nível” em Ibiza e outras “modelos mais incríveis de prontidão” e pedia a Epstein ir ao local para negociar com Jean-Luc Brunel, ex-agente de uma agência de modelos. Brunel foi encontrado morto na prisão, em 2022, quando era investigado por suas relações com Epstein.
gq (Reuters, AP, OTS)
