A implantação de ciclofaixas em algumas das principais cidades  brasileiras – São Paulo, a frente – foi objeto de uma bateria de críticas dos mais diferentes setores da sociedade brasileira. A principal delas sustenta que os espaços destinados às bicicletas ficariam praticamente vazias, sem tráfego, justamente pela escassez de ciclistas. 

Do lado dos defensores dessa modalidade de transporte individual, o argumento costuma ser de que, com o tempo, os espaços seriam progressivamente utilizados, à medida que as pessoas passem a acreditar na segurança oferecida por essas vias, a exemplo do que já ocorreu em algumas das maiores metrópoles mundiais.

A julgar pela experiência do mundo dos negócios, esse segundo tipo de concepção parece ser o mais fadado a prevalecer, a longo prazo. Antever e antecipar o futuro é a base da inovação e, justamente por ameaçar o status quo, uma forma ou outra encontra resistências em seu nascimento. 

É o caso, por exemplo, do automóvel. Pouca gente apostava um tostão nele quando o inventor alemão Karl Benz, deu inicio à produção em massa de seus veículos à combustação, em 1888, desafiando a supremacia das carruagens e de todos os demais meios  movidos à tração  animal. 

O mesmo ocorreu, mais recentemente, no início dos anos 1970, quando a japonesa Sony lançou U-matic, o seu primeiro modelo de vídeo cassete. O,u há menos tempo ainda, quando Steve Jobs se antecipou aos desejos e necessidades dos consumidores com produtos revolucionários como o iPod e o iPad.

Essa visão empreendedora, seja do setor privado ou público, também teve seus momentos, no País. Basta ver como se deu o surgimento da televisão brasileira, retratado magistralmente no filme Chatô, o Rei do Brasil, lançado este ano, com duas décadas de atraso. Às vésperas da inauguração da TV Tupi, no dia 18 de setembro de 1950, o paraibano Assis Chateaubriand, o legendário Chatô, maior barão da mídia brasileira no século passado, fundador dos Diários Associados, foi alertado pelo executivo americano Walter Obermuller, diretor da NBC, fornecedora dos equipamentos de transmissão, da existência de um “pequeno problema”: ele iria fazer TV para ninguém, pois simplesmente não havia aparelhos receptores em São Paulo, onde seria instalada sua emissora. Imperturbável, Chateaubriand decidiu importar 200 televisores dos Estados Unidos. 

Diante da informação de que a alfândega atrasaria seus planos em 30 dias, não titubeou. “Então traga de contrabando. Eu me responsabilizo”, disse.“ O primeiro receptor que desembarcar eu mando entregar no Palácio do Catete, como presente meu para o presidente Dutra.” Ao mesmo tempo, Chatô importou  mais 300 aparelhos, colocadas à venda na hoje extinta rede de lojas Cássio Muniz.

Numa bela jogada de marketing, Chatô espalhou  os duzentos aparelhos de TV em locais estratégicos da capital paulista, como a  Praça da República, o Jockey Clube, e os outros pontos , como a sede dos Diários Associados, na rua 7 de Abril, na Praça Ramos, em frente ao Teatro Municipal, e na Praça da Sé. Do lote de 300 televisores expostos na Cássio Muniz, apenas seis haviam sido vendidos até o dia da inauguração da Tupi.

O resto é história. A “aventura” prosperou ao longo das décadas seguintes e deu lugar a duas indústrias fundamentais para o desenvolvimento do País. Por um lado,  a formada por um importante grupo  de empresas, e, na área do entretenimento e da informação, que tem hoje seu maior símbolo na Globo, a principal rede de televisão da América Latina. Por outro, um setor manufatureiro, disputado por marcas globais como Samsung, Sony e LG, entre outros, que fabricou nada menos de 13 milhões de televisores, em 2014. Este ano, por conta da crise, a produção deverá ficar em torno dos 8,4 milhões de unidades.