16/09/2025 - 8:31
Exército israelense iniciou avanço terrestre para tomar a maior cidade do território palestino, que considera um último bastião do Hamas, em mais uma escalada no conflito que abala o Oriente Médio.O Exército israelense iniciou nesta terça-feira (16/09) uma ofensiva terrestre tendo como alvo a Cidade de Gaza, aproximando-se lentamente da maior cidade do território palestino, que já viu quarteirão após quarteirão serem destruídos na guerra entre Israel e o Hamas. Os bombardeios, que já vinham sendo intensificados nas últimas semanas, foram reforçados ainda mais, e moradores foram avisados de que deveriam sair e seguir para o sul.
A ofensiva marca mais uma escalada em um conflito que abala o Oriente Médio, já que qualquer possível cessar-fogo parece ainda mais fora de alcance, apesar de meses de diplomacia. Embora o Exército não tenha oferecido um cronograma para a ofensiva, a mídia israelense sugeriu que poderia levar meses.
Mais cedo, o ministro da Defesa israelense, Israel Katz, declarou que “Gaza está em chamas”, enquanto especialistas independentes contratados pelo Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas acusaram Israel de cometer genocídio no enclave palestino, juntando-se a um crescente coro internacional de vozes fazendo tais acusações.
A comissão acusa o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, o presidente do país, Isaac Herzog, e o ex-ministro da Defesa Yoav Gallant de “incitarem o genocídio” na Faixa de Gaza e afirma que as autoridades israelenses “não adotaram medidas para punir essa incitação”. Israel rejeitou veementemente a alegação, chamando o relatório dos especialistas de “distorcido e falso”.
A ofensiva militar israelense contra a Faixa de Gaza iniciada em outubro de 2023, já matou cerca de 65 mil pessoas, incluindo mais de 19 mil crianças, segundo dados do Ministério da Saúde de Gaza, ligado ao governo do Hamas. Ela teve início após os ataques terroristas do grupo palestino ao sul de Israel em 7 de outubro de 2023, que deixaram mais de 1.200 mortos, além de outros 251 reféns.
Tanques no centro da cidade
Durante a noite e a madrugada desta terça, os militares desencadearam um bombardeio massivo na Cidade de Gaza, enquanto as tropas israelenses avançam no maior centro urbano do território. “Ontem à noite, passamos para a próxima fase, a fase principal do plano para a Cidade de Gaza… As forças expandiram a atividade terrestre no principal reduto do Hamas em Gaza, que é a Cidade de Gaza”, disse um oficial militar a jornalistas.
“Estamos avançando em direção ao centro” da Cidade de Gaza, disse ele. Os militares israelense estimaram haver “dois mil a três mil combatentes do Hamas” operando na área, acrescentou.
A emissora de rádio israelense Kan relatou durante a noite que tanques do Exército avançaram pela rua Al Jalaa, no centro da capital do território, enquanto fontes de Gaza informaram que os veículos blindados avançavam e recuavam progressivamente da periferia para ganhar terreno.
“O Exército começou a desmantelar a infraestrutura terrorista na Cidade de Gaza”, anunciou o porta-voz em língua árabe das Forças Armadas israelenses, Avichay Adraee, em um comunicado na rede social X. O porta-voz garantiu que Gaza é uma “área de combate perigosa” e alertou sua população: “Permanecer na cidade os coloca em risco”.
“Iniciamos uma poderosa operação na Cidade de Gaza”, anunciou, por sua vez, Netanyahu, antes do início da sessão desta terça-feira de seu julgamento por corrupção, segundo informou o jornal Yedioth Ahronot.
“Não sei quantos dias vamos aguentar. A situação aqui é catastrófica. Podemos morrer a qualquer momento”, disse à agência de notícias EFE um funcionário do Ministério da Saúde de Gaza, também refugiado na capital da Faixa de Gaza.
Junto com o movimento dos tanques, Israel intensificou os bombardeios, usando mísseis, drones, fogo de artilharia e disparos de helicópteros.
Pelo menos 41 pessoas morreram na Faixa após a noite de ataques israelenses, que também se intensificaram no centro do território, matando quatro palestinos. Somente na capital, o Exército israelense matou 37 pessoas.
Cidade abrigava 1 milhão em agosto
Em meados de agosto, a Cidade de Gaza abrigava cerca de 1 milhão de pessoas, embora, desde que Israel anunciou sua intenção de invadir a capital e intensificou os bombardeios contra ela para forçar a saída da população, tenha ocorrido um êxodo de seus cidadãos para o sul.
Embora o Exército israelense afirme que cerca de 350 mil pessoas deixaram a cidade, o Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA) reduziu o número na segunda-feira para cerca de 142 mil.
Segundo a rede de televisão catariana Al Jazeera, que tem repórteres em Gaza, isso se deve ao fato de que muitos dos que deixam a capital são obrigados a voltar por não encontrarem espaço no sul.
O início da ofensiva ocorre um dia após a visita a Israel do secretário de Estado americano, Marco Rubio. Ele ofereceu forte apoio à ofensiva na segunda-feira, ao se encontrar com Netanyahu. Ele disse a repórteres ao deixar Israel: “Acreditamos que temos uma janela de tempo muito curta para que um acordo possa ser fechado. Não temos mais meses, e provavelmente temos dias e talvez algumas semanas pela frente.”
O americano afirmou que uma solução diplomática na qual o Hamas se desmilitariza continua sendo a preferência dos EUA, embora tenha acrescentado: “Às vezes, quando se lida com um grupo de selvagens como o Hamas, isso não é possível, mas esperamos que possa acontecer.”
O secretário de Estado americano se encontrou na segunda-feira em Jerusalém com famílias de reféns em Gaza, reconheceu que o Hamas tinha influência ao mantê-los presos. “Se não houvesse reféns nem civis no caminho, esta guerra teria terminado há um ano e meio”, disse ele no aeroporto Ben Gurion, em Tel Aviv.
Um grupo que representa as famílias dos reféns afirmou estar “aterrorizado” por seus entes queridos depois que Netanyahu ordenou os ataques. “Ele está fazendo de tudo para garantir que não haja acordo e para não trazê-los de volta”, disseram em um comunicado.
Plano para tomar Cidade de Gaza
No começo de agosto, o gabinete de segurança e assuntos políticos de Israel aprovou um plano de Netanyahu para ocupar a Cidade de Gaza. O premiê israelense também afirmou na época que seu governo tem intenção de assumir o controle de todo o enclave palestino e que Israel entregaria então o território a forças árabes que o governariam.
Na ocasião, o governo israelense citou cinco condições exigidas para o fim da guerra: o retorno de todos os reféns israelenses, vivos ou mortos; o desarmamento do Hamas; a desmilitarização da Faixa de Gaza; segurança controlada por Israel na Faixa de Gaza e instalação de um governo civil alternativo que não seja o Hamas ou a Autoridade Palestina.
O plano gerou ampla condenação global, incluindo do Reino Unido, do governo da China, além de representantes da ONU e principais países da União Europeia, além de Turquia, Arábia Saudita e Austrália, entre outros.
Derrubada de grandes prédios
Neste mês, Israel deu prosseguimento à expansão das operações terrestres visando tomar completamente a Cidade de Gaza denominando novas “zonas humanitárias” no sul da Faixa de Gaza, visando “facilitar a evacuação dos habitantes da cidade”.
As ordens de evacuação de Israel intensificaram um movimento de fuga da cidade para campos superlotados no centro e no sul do enclave — um fluxo que jornalistas no local e agências humanitárias consideram insustentável diante da falta de água, alimentos e abrigo.
Além disso, os militares israelenses lançaram uma campanha de bombardeios contra os últimos edifícios altos que ainda se mantinham de pé na capital de Gaza, alegando ter encontrado neles “infraestruturas terroristas”. Em três dias, Israel derrubou três grandes prédios de apartamentos na cidade.
“Parem a carnificina”
O alto comissário da ONU para os direitos humanos, Volker Türk, pediu que Israel pare imediatamente sua ofensiva terrestre contra a Cidade de Gaza. “Só consigo imaginar o que isso significa para as mulheres, para crianças desnutridas, para pessoas com deficiência, se forem novamente atacadas dessa forma. E tenho que dizer que a única resposta possível é: parem com a carnificina”, afirmou.
“Palestinos e israelenses clamam por paz. Todos querem um fim para isso, e o que vemos é uma escalada ainda maior, totalmente e absolutamente inaceitável”, acrescentou. “Apelo a Israel que pare com a destruição indiscriminada de Gaza.”
A União Europeia alertou a ofensiva terrestre aumentará o número de mortes e destruição, além de piorar uma situação humanitária já “catastrófica” no território. Um porta-voz do bloco também destacou que a situação coloca em risco a vida dos reféns israelense.
md/cn (AP, AFP, EFE)