Nesta quarta-feira 6, será escrito o mais novo capítulo ? com jeito de epílogo ? de uma das histórias mais espetaculares entre os empreendimentos financeiros da internet. Surgido de um bate-papo na biblioteca de uma universidade argentina, o portal financeiro Patagon se espalhou por oito países, consumiu investimentos de mais de US$ 1 bilhão, mas agora está por um fio. Seu controlador, o banco espanhol Santander, está refazendo as contas sobre a viabilidade do negócio. Segundo fontes ligadas à operação, o banco está prestes a apertar o botão para deletar boa parte do empreendimento.

Hoje, a Patagon funciona em seis países como um portal de serviços financeiros. Ao acessar o site, o internauta recebe informações sobre oportunidades de mercado e pode aplicar seu dinheiro em fundos de investimento. Em outros dois países, Brasil e Estados Unidos, o portal vai além. Também funciona como uma corretora on-line, em que se pode comprar e vender ações pela internet. No auge da bolha das empresas de tecnologia, a Patagon virou um símbolo da nova economia. Foi vendida por US$ 585 milhões para o Banco Santander, em 2000. Com os investimentos feitos em seguida pelos espanhóis, os gastos no site teriam somado US$ 1,3 bilhão ? equivalente ao preço somado dos bancos Sudameris, Mercantil e Cidade.

Embora fosse dono da empresa, o Santander deixava o dia-a-dia das operações nas mãos dos criadores do site, como os argentinos Constancion Larguia e Wenceslao Casares, considerados feras da internet. A Patagon funcionava como uma empresa independente, com sede em Miami e 750 empregados. Há pelo menos quatro meses, o Santander começou a rever sua estratégia. De Madri, o banco enviou uma missão para percorrer as filiais da Patagon e fazer um diagnóstico da situação da empresa. Com base nas informações levantadas nessa viagem, já começaram a ser feitos cortes na empresa. Foram demitidas 150 pessoas. Metade dos 90 funcionários brasileiros foi dispensada em novembro. Esse é só o começo das mudanças. Em Madri, executivos do banco se reuniram, nas duas últimas semanas, para definir o futuro do portal. As perspectivas
não são animadoras.

Banco Patagon. Na filial brasileira, a expectativa é de que sejam fechados escritórios da Patagon em cinco países: Estados Unidos, Argentina, Chile, Venezuela e México. Teme-se pelo futuro da filial brasileira. Seriam mantidos apenas os escritórios mais promissores, da Espanha e da Alemanha. Até meados do ano passado, a empresa tinha planos para abrir bancos com a grife Patagon no Brasil, no México e, talvez, na Argentina. No Brasil, o banco Patagon não seria uma operação apenas virtual, também contaria com pelo menos uma agência, que já estava sendo montada no edifício do grupo Brasilinvest, em São Paulo. O futuro do banco Patagon também será definido esta semana.

 

A reestruturação será realizada porque o Santander decidiu cortar custos depois de ser atingido pela crise na Argentina e por entender que o portal, assim como outras empresas de tecnologia, não têm o futuro tão brilhante como se imaginava. No ano passado, a Patagon deu prejuízo de US$ 13,9 milhões e havia a expectativa de que só começaria a dar lucro depois de 2004. O Santander não quer esperar tanto. Além disso, o diagnóstico feito pelos executivos espanhóis sobre a Patagon foi muito duro. Além da frustração geral com as empresas de internet, o banco encontrou problemas específicos de administração na Patagon. Na viagem que fizeram às filiais do portal, os espanhóis encontraram problemas como gastos excessivos e erros de gestão, como no chamado ?Projeto Inca?.

O Projeto Inca consiste na instalação de um programa de informática para integrar as operações de bancos e corretoras em vários países. Se o projeto desse certo, um cliente americano poderia comprar ações de uma empresa na Venezuela e pagar a operação com recursos de uma conta bancária no Brasil. Em janeiro de 2001, a Patagon contratou a empresa americana de softwares Sanchez para tocar o projeto. Com US$ 20 milhões de orçamento, a Sanchez tinha até junho de 2001 para entregar seu trabalho. Até agora, no entanto, a idéia não saiu do papel e o projeto já consumiu US$ 100 milhões. Em outro projeto muito criticado, a Patagon contratou a consultoria americana Razorfish para redesenhar o design da marca e a página na internet, gastando muito dinheiro, num momento em que as empresas pontocom já começavam a fazer água. ?Foram mudanças supérfluas, desnecessárias naquele momento?, diz um ex-funcionário da Patagon.

Venda de ações. A expectativa é de que os criadores da Patagon deixem a empresa. Boa parte dos funcionários deve ser demitida ou incorporada ao Banco Santander. Todas as atividades da Patagon seriam concentradas na Europa, onde o Santander acredita que o portal tem futuro. A Patagon dá lucro na Alemanha e está perto do equilíbrio financeiro na Espanha. Na América Latina, havia a expectativa de reunir um total de 500 mil clientes. Agora, esse sonho parece uma miragem. Também ficaram para trás os planos para levantar dinheiro no mercado financeiro para custear o crescimento da empresa. O Santander planejava emitir ações da Patagon em Wall Street e arrecadar US$ 1 bilhão. Com o estouro da bolha da Nasdaq e a recessão nos Estados Unidos, a venda das ações da Patagon parece um projeto cada vez mais virtual.