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NO FINAL DO ANO PASSADO, durante quase duas horas, o fundador da Tecnisa, Joseph Meyer Nigri, participou de uma conversa com analistas para falar sobre a sua empresa. As informações eram as melhores possíveis. A receita crescia, a margem de lucro encostava nos 25% e a meta de R$ 1 bilhão em lançamentos estava prestes a ser alcançada. Nigri disse que estava ?muito satisfeito? e por meio de um plano ?agressivo? iria alcançar ?novas metas de crescimento?. Nesta quarta-feira 19, Nigri deve apresentar o balanço fechado de 2007. O que chama a atenção, no entanto, é que tamanha empolgação não parece contagiar o mercado. Dias após a conversa do empresário com os analistas, os papéis ON voltaram a cair e fecharam o ano com queda de 22%. A desvalorização do papel só se acentuou em 2008. No acumulado do ano, a perda é de 34% ? o segundo pior desempenho entre todas as 31 empresas abertas do setor da construção. Nessa fase delicada, rumores sobre a possibilidade de venda da empresa ganharam força nas últimas semanas. A DINHEIRO apurou que a hipótese de fusão com duas empresas da área foi avaliada no final do ano passado, mas acabou engavetada. Uma dúvida fica no ar: como pode uma empresa, com resultados positivos, num período de vacas gordas para o mercado de capitais, ser avaliada com tamanha cautela pelos investidores?

?Eu quero dizer a todos que
estou muito satisfeito com o
andamento da empresa?

JOSEFH MEYER NIGRI,
dono da construtora Tecnisa (abaixo),
em resposta a analistas

Quem acompanha os passos da construtora é taxativo na análise: erros passados e poucas perspectivas de mudanças na estratégia do negócio explicam o ceticismo do mercado. ?Os problemas vêm lá de trás e o mercado anda com tolerância zero para com esse setor?, conta um analista de investimentos de um banco estrangeiro. A Tecnisa foi criticada pela falta de transparência ao mercado no ano passado. A reclamação principal é que ela (e não só ela, como outras do segmento também) fez o IPO, engordou o caixa em R$ 750 milhões, e não voltou para prestar informações aos investidores. Três analistas ouvidos pela DINHEIRO fizeram a mesma avaliação.

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A Tecnisa sabe das críticas. Leonardo Paranaguá, o diretor de relações com investidores, recebeu a tarefa de intensificar as reuniões com analistas e roadshows no exterior em 2008. Não é só isso. O mercado acredita que a construtora precisa diversificar a sua área de atuação (ela permanece muito focada em São Paulo) e passar a construir imóveis populares (o tíquete médio tem caído, mas ainda está em R$ 372 mil). O temor é de que ela tenha ovos demais numa mesma cesta. O assunto foi alvo de debate entre Meyer e dois analistas no último encontro para apresentação de resultados. Meyer foi muito claro. ?Eu, pessoalmente, ainda gosto de ficar em São Paulo.? E ponto. Quem ouviu, não gostou.

 

A figura de Meyer é outro ingrediente a mais na formação desse mau humor do mercado. Com fama de centralizador e pouco flexível, o empresário contratou em janeiro Carlos Alberto Júlio, presidente de uma firma especializada em seminários, para o cargo de CEO. A idéia era profissionalizar mais a gestão ? e reverter a queda das ações. Meyer ficou no Conselho de Administração. Isso tem dois meses. ?Vamos ver se dá certo. Ele ainda está usando os seus 100 dias de trégua?, cutuca uma analista. Um último fator pesa nessa conta. A empresa apostou em alguns empreendimentos inovadores, mas de longa maturação, como o New Worker Tower e o projeto Golf Village. O problema é que o investidor não quer saber disso. Ele quer resultados mais imediatos, com geração de caixa robusta. É aí que está o nó. Procurada, a empresa não se manifestou em cumprimento ao período de silêncio que antecede a divulgação de resultados.