27/05/2009 - 7:00
Os dois comandantes Secches e Furlan na oficialização do casamento: “O tempo da alfinetada acabou. Agora é só amor”
Enquanto a Sadia tem 23 diretores em cargos estratégicos, a Perdigão tem apenas dez. Isso deve mudar em breve
No início da manhã da terça-feira 19, na sede da Sadia, na Vila Clementino, em São Paulo, funcionários da área financeira e administrativa da empresa receberam em sua caixa-postal, uma mensagem eletrônica do grupo. Ela informava sobre a criação da maior empresa de alimen¬tos do País, a Brasil Foods, que havia acabado de se formar numa conturbada fusão com a ex-rival Perdigão, anunciada oficialmente naquele momento.
Cada empregado ainda era chamado a assistir a um vídeo com Luiz Fernando Furlan, o presidente da empresa, que dava boas-vindas aos empregados na nova etapa. Na Perdigão aconteceu exatamente o mesmo. Nildemar Secches, presidente do conselho de administração da companhia, repetia exatamente o mesmo texto aos funcionários em vídeo na intranet da companhia. “Estamos criando um campeão”, anunciou Furlan, na apresentação ao mercado da nova gigante de R$ 25 bilhões em vendas e 110 mil empregados.
Essa proposital sincronia de discursos entre Secches e Furlan ajuda a criar a sensação de tranquilidade na sede dos grupos. Aúnica coisa que as empresas não querem agora é ruídos na comunicação. Já existe uma bolsa de apostas na sede da Sadia, entre empregados da área da gerência, a respeito do tempo que levará para os cortes começarem. “maioria aposta em no máximo seis meses”, desabafa um funcionário de segunda escalão na área financeira, que preferiu não se identificar. Omedo, por lá, é que se repitam na sede da empresa cenas que têm se tornado frequentes nas dezenas de unidades em todo o País.
No Sindicato dos Trabalhadores da Indústria de Alimentos de Toledo, no Paraná, por exemplo, 40 demitidos pela Sadia foram atendidos naquela terça-feira. Para muitos, é só o início de um processo de união de estruturas muitas vezes sobrepostas e que nem sempre falam a mesma língua. “Aquestão é saber apenas qual DNAdeve prevalecer: Sadia ou Perdigão?”, diz Cláudio Tomanini, pro¬fessor de MBAda FGV.
Oficialmente, as companhias informam que permanecerão separadas até a aprovação pelo Cade o que poderia levar até um ano. “Se elas estiverem contando com a aprovação, como parece que estão, vão começar a unir departamentos sim, mas discretamente. Elas precisam desses ganhos de sinergia com urgência”, avalia João Paulo Siqueira, professor da Trevisan Escola de Negócios. As diferenças de gestões e estrutura saltam aos olhos. Enquanto a Sadia mantém 23 diretores em cargos estratégicos, a Perdigão tem apenas dez.
Isso vai mudar. Para analistas, a tendência é de que a estrutura mais enxuta permaneça, com menos executivos na linha de frente. Na Perdigão, menos empregados fazem mais. faturamento por funcionário cresceu 30% em 2008 e foi a R$ 194 mil. Sadia, o valor não passa de 178 mil, um aumento de magros 6% em 2008, em relação ao ano anterior.
Políticas de bônus, participação nos resultados e até mesmo o formato dos planos de carreira são bem distintos. Enquanto na Sadia os bônus passaram anos proporcionais aos salários, na Perdigão, mais profissionalizada, isso sempre teve a ver com resultados. As duas diretorias já trabalham juntas na tomada de decisões estratégicas, como a definição da equipe de advogados para a defesa do acordo no Cade.
Já foram contratados o ex-ministro da Justiça Paulo de Tarso Ramos Ribeiro, o professor de economia da UFRJ Antonio Fagundes, especialista em defesa da concorrência, a advogada Barbara Rosenberg e a advogada Elisabeth Farina, ex-conselheira do Cade.
As duas empresas também aprovaram a nova campanha publicitária com a atriz Marieta Severo, que começou a ser veiculada no último dia 20. “Juvenal (personagem onipresente na campanha da Sadia) vai embora ou vai mudar de foco”, disse Furlan. “tempo da alfinetada acabou, agora é só amor”, brincou Secches.