Ao participar de uma entrevista de emprego, muitos candidatos já vão com respostas prontas para perguntas que costumam ser comuns em processos seletivos. “Qual o seu maior defeito?”, “Por que devo contratá-lo” e “Cite um episódio em que surgiu um desafio inesperado enquanto você trabalhava em uma empresa e como fez para superá-lo” são exemplos dessas perguntas. Embora os candidatos saibam que vão ser questionados sobre esses tópicos, muitas vezes suas respostas parecem acentuar características positivas, mas na verdade têm o resultado oposto, de prejudicá-los.

Além disso, existem certas perguntas e afirmações que simplesmente são totalmente fora de propósito de acordo com especialistas da área. Para identificar o que deve ser evitado durante uma entrevista de emprego, conversamos com alguns especialistas de RH para ajudar quem está em busca de trabalho.

Para Carolina Martins, especialistas em RH com quase 2,2 milhões de seguidores no Linkedin e reconhecida como Top Voice da plataforma, existem algumas frases comuns que não ajudam em nada os candidatos. Uma delas é dizer que “está aberto a negociar”. “Esse tipo de resposta é muito comum quando questionamos sobre a pretensão salarial, mas prejudica o candidato porque passa a impressão de que ele não está atualizado sobre a média salarial do mercado”, afirma a especialista. Outro caso comum, segundo ela, é quando o funcionário, ao ser questionado sobre por que saiu de uma empresa, afirma que “foi demitido por causa de seu chefe”, indicando que existiria uma espécie de perseguição contra ele. “Usar essa justificativa para demissão também é bem comum e prejudicial, pois colocar a responsabilidade e/ou falar mal de chefes antigos é um dos fatores que mais reprova os candidatos nas entrevistas”, aponta Martins, alertando para a falta de profissionalismo embutida na resposta.

Além disso, não se deve dizer que é “workaholic” ou “muito metódico”. “Esse tipo de frase é usado como justificativa para responder a pergunta ‘quais são seus pontos fracos?’ Elas prejudicam os profissionais pois são respostas padrão que facilmente se encontra em uma pesquisa rápida no Google. É importante entender a empresa e se preparar estrategicamente para as entrevistas para não cometer esse tipo de erro. Um profissional dizer que é metódico em uma entrevista para vaga em uma startup cool se desalinha completamente do perfil de profissionais e tende a ser reprovado”, diz Martins.

+ Vigor oferece vagas de emprego em SP e RJ

+ Cate oferece mais de 500 vagas de emprego na capital paulista

+ OIT: desaceleração econômica aumenta empregos de menor qualidade

Em relação a funcionários que são obcecados com aparência e que passam até cinco horas por dia na academia, por exemplo, Martins fala que isso também é levado em conta pelo entrevistador. “No processo seletivo, o recrutador vai procurar entender em que período do dia essas 5h de exercício são realizadas e o quanto essa longa jornada de exercícios pode atrapalhar no desempenho das atividades e acarretar faltas e atrasos. Vale ressaltar que apesar dos candidatos serem avaliados pelas competências a rotina que ele tem também impacta no trabalho e pode contar para a reprovação”, afirma a especialista.

Por outro lado, ela cita algumas características que atualmente são bastante valorizadas pelas empresas: “Preocupações com causas ambientais e sociais são bem vistas pelas empresas, inclusive, é super recomendado que os candidatos incluam experiências voluntárias no currículo. Em relação à política, o ideal é manter-se neutro sempre que possível e evitar qualquer tipo de posicionamento partidário nas entrevistas, nas empresas e também nas redes sociais abertas”, afirma Martins.

A especialista diz que o nervosismo atrapalha bastante o desempenho dos candidatos, sugerindo que eles se preparem para responder algumas perguntas mais frequentes, como por exemplo: “Me fale um pouco sobre você”, “Por que você deseja trabalhar aqui?”, “Quais são seus pontos fortes? E os fracos?”, “Qual é a sua pretensão salarial?”, “Por que você saiu do seu último emprego?”, “Qual foi o maior resultado da sua carreira?” e “Por que eu devo te contratar?”.

Já para Caroline Marcon, consultora organizacional e coach executiva com experiência em transformação cultural, desenvolvimento de times executivos e inovação em gestão de RH, comenta sobre exemplos notórios a serem evitados. Um deles seria perguntar “O que a empresa faz mesmo?” ou algo nesse sentido. “Nunca fiz isto antes, mas me pareceu super interessante” também deve ser evitado, diz ela, porque mostra superficialidade e pouca experiência. “Além disso, dizer ‘quero um emprego novo para ter mais tempo para mim, para fazer as coisas que gosto fora do trabalho’ ou ‘preciso pagar os boletos, se não fosse isso não estaria aqui’ mostra falta de paixão e de compromisso, uma visão utilitarista do trabalho”, diz Caroline, autora do livro O Poder dos times AAA. “Assim como perguntar ‘vocês emendam feriados, etc?’ mostra que você não está interessado no trabalho em si, mas em quanto poderá ficar sem trabalhar e ‘detesto o meu chefe’ ou ‘detesto a cultura da minha empresa atual’ mostra falta de habilidade social e leitura de ambiente”, afirma Marcon.

Para ela, no entanto, dizer que é “workaholic” pode não ser necessariamente algo negativo. “Vai depender muito da cultura de cada empresa.” “Já ser ‘extremamente metódico’ pode desclassificar muitos candidatos sim, pois o ambiente atual exige flexibilidade. Esta característica será valorizada somente se a posição específica da vaga exigir uma atenção máxima a regras, procedimentos, compliance.”

A especialista também ressalta que outro aspecto avaliado pela empresa é o tempo que a pessoa fica em cada emprego. “Um indício de não adaptação que salta aos olhos é um profissional que muda muito de empresa, acima de uma vez por ano por exemplo. Isto deixa qualquer recrutador de pé atrás”, diz ela.

Ela lista alguns perfis que têm sido valorizados pelas empresas: “Pessoas autodidatas, com habilidade empreendedora ou criativa, capazes de entregar as coisas de um jeito novo e original; pessoas colaborativas, de boa comunicação e capazes de agregar colegas, clientes em torno das suas ideias”.

Além disso, ela também dá dicas de como se comportar em uma entrevista. “É importante expressar na entrevista o seu melhor, quem você é de verdade. Evitar discursos padrão e politicamente corretos apenas para agradar, posicionar-se se for perguntado sobre algum assunto mais polêmico. Sem exagero, sem radicalismo, mas também sem ficar em cima do muro. O mais importante é estar confortável com quem você é e com o que pode oferecer para a nova empresa. Ser natural e mostrar paixão pelo que faz e pelo que poderá vir a fazer se for contratado”, conclui Caroline Marcon.

O que mais reprova os candidatos

Os casos citados por Martins que mais reprovam candidatos fazem parte de um estudo da empresa Robert Half, uma das mais respeitadas no setor de recrutamento e seleção do mundo. De acordo com um estudo publicado em 2019 feito com gestores e líderes de equipes, a companhia criou um ranking com os sete motivos que mais provocam reprovações em entrevistas. Confira:

  1. Mentir no currículo – Aqui vale qualquer tipo de mentira ou omissão. Pode ser o nível de fluência em um idioma, um curso sinalizado como concluído quando ele está paralisado, o motivo de saída de trabalhos anteriores ou outro dado qualquer. Isso porque uma mentira descoberta tende a colocar o recrutador em dúvidas sobre todas as verdades que você disse.
  2. Não ter aderência à cultura e ao clima da empresa – Fica difícil, por exemplo, uma empresa de artigos esportivos acreditar que um candidato avesso a práticas esportivas vá acreditar na companhia e investir esforço para que ela cresça. Assim como comentários com tons de preconceito não serão bem vistos por organizações que valorizam as diferenças entre as pessoas.
  3. Não demonstrar interesse pela vaga – Um dos principais erros dos candidatos é não entrevistar o entrevistador. Fazer perguntas para quem te entrevista faz com que você não fique com dúvidas sobre a vaga ou faça suposições indevidas. Tente entender, por exemplo, o que esperam de você à frente do cargo, qual motivo que fez com que a vaga ficasse em aberto, como é o clima entre os profissionais da companhia.
  4. Falar mal do antigo empregador – Por mais que você sinta mágoas do antigo empregador, procure não fornecer informações sobre ele com base em emoções. Responda o que for questionado sem mentiras, porém com o cuidado de reconhecer as contribuições dele para o seu desenvolvimento como pessoa e profissional. Pode ser, por exemplo, que o temperamento ruim do seu antigo gestor tenha te ensinado a ser mais resiliente.
  5. Não saber se comunicar – Aqui, não estamos falando de pessoas tímidas, pois ninguém precisa se fantasiar de extrovertido para ser aprovado em um processo seletivo. Mas, é fundamental que o candidato consiga apresentar discursos claros e objetivos, sempre com base em fatos e dados.
  6. Não saber ouvir – Procure não interromper o recrutador enquanto ele transmite uma informação e só responda a um questionamento após se certificar de que entendeu a pergunta. Isso facilitará muito o bom andamento da conversa.
  7. Não se preparar para a entrevista – Talvez isso seja um absurdo para você, mas existem pessoas que entram em uma sala de entrevistas sem nem ao menos ter visitado o site da companhia. Isso é muito malvisto pelos recrutadores. Ao receber convocação para um processo seletivo, busque informações sobre a empresa e o posicionamento dela no mercado e diante da concorrência. Se possível, busque também dados sobre a pessoa que vai te entrevistar.