Nem um, nem dois, nem três. Cinco automóveis elétricos fabricados na China pela JAC Motors foram apresentados aos brasileiros na segunda-feira 16. A extensa gama coloca a montadora presidida no Brasil pelo empresário Sérgio Habib à frente das rivais no que diz respeito à oferta de opções que dispensam tanque de combustível. A estratégia pode significar tanto um reposicionamento virtuoso da marca, alimentado por valores como inovação e sustentabilidade, quanto selar seu descolamento das líderes do mercado. As chances de sucesso dependem do consumidor. Se ele acreditar que o elétrico é vantajoso, mesmo que o preço de compra seja elevado, a JAC terá vencido. Caso haja dúvidas em relação aos benefícios dessa escolha, o cenário pode ser de blecaute.

Para promover sua “virada elétrica”, a JAC inaugura uma concessionária “100% Electric” na Avenida Europa, endereço que concentra as concessionárias de luxo na capital paulista. Faz sentido. Afinal, carro elétrico é, ainda, percebido como artigo de luxo. O hatch compacto iEV20, que começa a ser vendido agora — mas só chega em janeiro — custará R$ 119.900. É o elétrico de menos preço do mercado brasileiro, mas fica caro quando se leva em conta que ele deriva do modelo J2. É verdade que ele passou por um upgrade no visual, com novas lanternas, grade e para-choques.

Além disso, em relação ao J2, o iEV20 tem acabamento interno mais caprichado e uma bela lista de equipamentos, com ar-condicionado automático digital, painel digital, central multimídia e freio de mão elétrico. Mas convencer o consumidor a pagar R$ 120 mil por um carro desse porte é um grande desafio para a JAC Motors no Brasil. Mas não o único. Nenhum dos modelos elétricos da marca vem com o carregador ideal para usar em casa. A JAC o vende em parceria com a empresa EDP por um valor sugerido de R$ 8.500 (há opção de aluguel, por R$ 300 mensais, em contrato de 36 meses) no uso residencial. Com o equipamento, a recarga completa leva cerca de 7 a 8 horas. A autonomia do iEV20, seguindo o fabricante, é de ótimos 400 km no modo low, que limita a velocidade máxima a 65 km/h. Um limite razoável para um carro que nasceu para o uso urbano.

É só ligar na tomada: em sentido horário, a partir da esquerda: o hatch iEV20, baseado no J2, que parte de R$ 119.900; o crossover iEV40, o caminhão elétrico iET 1200 e SUV iEV 60. Abaixo, a picape urbana iEV330P. O preço pode ser um inibidor para o sucesso dos elétricos no Brasil (Crédito:Chris Castanho Fotografia)

RECARGA Os outros modelos elétricos da JAC, no entanto, têm preços bem mais altos. E também suas vantagens: ausência de ruídos e zero emissão de poluentes, isenção do rodízio municipal de veículos na capital paulista e benefícios fiscais. A JAC fez parceira com uma seguradora que garante preços 15% menores que os dos modelos a combustão. Ainda assim, será que o preço da primeira picape 100% elétrica do mundo se justifica? Por R$ 229.900, o modelo apresentado pela JAC chega em abril de 2020 custará mais caro que uma Toyota Hilux topo de linha ou uma VW Amarok V6, mas não vem tão equipada e não tem o desempenho ou capacidade off-road que possam ser comparadas. Com tração apenas traseira e autonomia de 300 km, a picape urbana iEV330P definitivamente não é para trilhas.

“Estamos investindo seriamente numa significativa evolução do nosso modelo de negócio. Manteremos nossa linha de modelos tradicionais, embora a família de elétricos assuma o protagonismo na marca”, diz Sérgio Habib. “A ideia é chacoalhar o mercado e instantaneamente dar várias opções de compras em segmentos diversificados”. Resta saber se a energia que move o empresário será suficiente para dar uma carga de ânimo também no consumidor.