04/11/2009 - 8:00
Francisco Longo é conhecido pelos amigos da “quebrada” como Chico “Loco”, mas nunca rasgou dinheiro. Pelo contrário – desde cedo, soube multiplicálo. O apelido talvez venha de seu estilo arrojado e impetuoso de fazer negócios.
Descendente de italianos, nascido e criado no bairro da Penha, zona Leste de São Paulo, Longo conseguiu, em pouco mais de uma década, dar um salto como comerciante, deixando de vender Passat e Voyage de terceira mão para virar um próspero empresário, fundador da Via Italia, grupo que representa oficialmente as marcas Ferrari, Maseratti e Lamborghini no Brasil.
Longo é diferente da maioria dos emergentes: detesta aparecer. Não aceitou ser fotografado pela DINHEIRO em frente à sua loja da Ferrari, nos Jardins, mas aos poucos, sempre lacônico, contou a sua história. De origem pobre, obrigado a ajudar no orçamento da família, começou a trabalhar como feirante na Ceasa, atual Ceagesp, maior central de abastecimento de alimentos do País.
Em 1984, aos 20 anos, deixou o emprego e, com as primeiras economias, comprou um terreno e passou a revender carros. “Eram veículos de segunda, terceira, quarta mão, que eu comprava de amigos e conhecidos”, diz Longo. “Eu era apaixonado por carros e decidi abrir o negócio para me divertir e ganhar um dinheirinho.
Coisa de moleque.” O moleque cresceu e a brincadeira virou um grande negócio. Longo descobriu que possuía um talento incomum como revendedor e não demorou muito para dominar todo o mercado da região, transformando o inóspito terreno em uma loja de verdade. O empresário contou com uma dose de sorte, é verdade. Em 1990, o então presidente Fernando Collor promoveu a abertura do mercado à entrada de produtos estrangeiros.
“A abertura da importação foi muito boa para quem mexia com carro. A demanda era enorme para uma oferta muito pequena, facilitando o nosso trabalho”, conta Longo. Seu prestígio na zona leste cresceu tanto que, em 1995, ele conseguiu algo improvável para um comerciante da região: trazer para a distante Penha uma concessionária BMW. “Havia um preconceito grande contra os chamados ‘boqueiros’, revendedores como eu, que eram tratados à distância pelas grandes marcas”, afirma Longo.
Dois anos depois de virar dono de uma concessionária BMW, Longo justificou a alcunha de louco e partiu para um salto ainda mais ousado, candidatando- se à vaga de representante oficial da Ferrari, a mitológica marca de carros, que procurava um parceiro no País.
O empresário brigou palmo a palmo com grupos maiores e mais capitalizados e, para surpresa do mercado, ganhou a briga. “Eles não queriam alguém com dinheiro, mas gente disposta a trabalhar”, afirma Longo. “Eu tinha experiência em vender carros de alto luxo e, principalmente, um relacionamento e uma credibilidade muito grandes com o cliente, algo que o dinheiro não compra.”
Para um empresário próximo a Longo, que não quis se identificar, a história é outra: Francisco só conseguiu vencer a concorrência por causa de sua amizade com Piero Gancia, primeiro representante do grupo Ferrari no Brasil. Longo deixou de trabalhar com a BMW e hoje dedica todo o seu tempo à marca italiana – passou também a representar a Maseratti, depois que esta foi comprada pela Ferrari, e mais tarde a Lamborghini.
O status alcançado como representante oficial de carros de luxo não foi suficiente para diminuir o preconceito contra ele. Recentemente, ao concorrer ao direito de representar a marca inglesa Bentley, Longo foi colocado, sem muitas explicações, fora da disputa. Segundo pessoas envolvidas no processo, a Via Italia só não foi escolhida porque seu dono não se encaixava no perfil mais “aristocrático” da Bentley.
Longo, que ainda preserva alguns costumes dos tempos de revendedor de usados, às vezes tropeçando no português, não parece abalado. Pretende vender, em 2010, entre 15 e 20 Lamborghinis e aumentar sua fortuna. Apesar da riqueza, o empresário mora com os pais. Coisa de louco.