EMPRESÁRIO GUILHERME Frering, 48 anos, neto do lendário Augusto Trajano de Azevedo Antunes, o pioneiro da mineração no País, resolveu plantar árvores. Não se trata de um repentino surto de consciência ecológica. São negócios. Frering investirá US$ 150 milhões nos Estados de Mato Grosso e Goiás na plantação de 80 milhões de árvores do tipo Tectona grandis, a teca, de origem asiática. No mercado internacional, a madeira serrada da teca tem alto valor, superior ao do mogno. Por ser cultivada, e não extraída da mata nativa, atende às exigências dos certificados do mercado europeu. Serve para a confecção de móveis de alto padrão e de barcos de luxo. Atualmente, o metro cúbico da madeira oscila entre US$ 650 e US$ 2,5 mil, de acordo com a demanda da indústria mundial. O bom da história, para quem está olhando bem à frente, como Frering, é que um único hectare de plantação de teca no Brasil pode gerar 150 metros cúbicos de madeira. Pela cotação mais alta, renderia US$ 375 mil. Pode ser este um negócio melhor do que extrair minério do solo. Para isso, Frering fundou a Companhia Vale do Araguaia, cujo quartel-general é o escritório que ocupava com o irmão Mário, o caçula, na avenida Rio Branco, no centro do Rio de Janeiro, onde funcionava a sede da Caemi, fundada por Azevedo Antunes. Lá, porém, não se tem notícias de Mário. Os irmãos teriam seguido rumos independentes no mundo dos negócios depois da venda da Caemi para o grupo Mitsui& Co, e deste para a Vale.

O caminho traçado por Guilherme Frering é ambicioso: ele pretende plantar 150 mil hectares nos próximos anos (segundo o site www.valedoaraguaia. com.br) e começar a vender madeira a partir de 2013. Para auxiliá-lo nesta empreitada, Frering convocou um time de figurões: o expresidente do Banco Central Francisco Gros é o presidente do conselho de administração da companhia. O executivo Leonardo Pereira, que trabalhou na NET, comanda o dia-adia da empresa. Além disso, a Araguaia conta com o apoio da consultoria global The Blackstone Group e busca, atualmente, um sócio peso pesado capaz de investir na nova aposta de Frering. ?No momento, não podemos dar detalhes das operações e dos planos estratégicos porque buscamos investimentos para a empresa?, disse Leonardo Pereira, o CEO da companhia, à revista DINHEIRO. Um dos possíveis investidores é o International Finance Corporation (IFC), braço financeiro do Banco Mundial. Em comunicado na quintafeira 17, a Companhia Vale do Araguaia afirmou que o IFC ?contempla? a possibilidade de aplicar recursos no Plano de Investimentos de longo prazo da empresa. Os recursos e, sobretudo, o aval do IFC deverão ter impacto expressivo a favor do empreendimento de Frering. A direção da Vale do Araguaia já havia dito que os investimentos no negócio devem se ?dar por meio de Private Placement, que é uma emissão privada de ações.? Esta operação não consiste em uma oferta pública (IPO). No momento, Frering é o principal investidor do negócio. 

Já há operações da Companhia Vale do Araguaia nas cidades de Água Boa, em Mato Grosso, e em Mozarlândia, em Goiás. A empresa investiu R$ 21 milhões em terras nestas regiões e já planta as primeiras mudas de teca. Trata-se de um investimento de médio e longo prazos porque a árvore somente poderá ser cortada depois de seis, 12 ou 17 anos. A companhia pretende chegar a uma produção anual de 325 mil metros cúbicos de madeira serrada. Na Vale do Araguaia, assessores da diretoria procuram minimizar o papel de Frering no dia-adia da empresa. Eles buscam ressaltar que se trata de um negócio gerido de maneira ?profissional? e que a empresa (uma sociedade anônima de capital fechado) pretende no futuro abrir seu capital, de acordo com as regras do Novo Mercado. Neste sentido, a Vale do Araguaia não quer ser identificada como uma empresa familiar. Além dos lucros da venda da madeira, a companhia espera faturar com a venda de créditos de carbonos no mercado internacional.

A COMPANHIA VALE DO ARAGUAIA
JÁ INVESTIU R$ 21 MILHÕES EM TERRAS

A produção no Brasil deverá absorver dez milhões de toneladas de carbono ao final de cada ciclo de plantação, o que poderá ser negociado por meio de Reduções Certificadas de Emissão (RCE). Seja ou não bem-sucedido neste mercado de carbono, o certo é que Frering ingressou em uma atividade lucrativa que é, a princípio, ecologicamente correta. Frering não é o único a avançar sobre esse terreno. Outro empresário de sua geração, Eike Batista, 51 anos, dono de uma fortuna de US$ 6,6 bilhões segundo a revista Forbes, também investe em reflorestamento, com a plantação de eucalipto. O objetivo é produzir carvão mineral para a planta de metálicos de sua empresa de mineração, a MMX. O paralelo entre os dois não termina aí. Ambos são descendentes de duas lendas da mineração no País. Guilherme é neto de Azevedo Antunes, criador da Caemi e da MBR. Eike é filho de Eliezer Batista, o homem que fez da Vale uma das mais poderosas empresas do setor no mundo. Hoje, os negócios dos dois pioneiros estão unidos na Vale. Frering e Eike também construíram nos últimos anos uma imagem de arrojo. Mas, ao contrário de Eike, Frering colheu alguns insucessos no mundo dos negócios. Tanto que, em 2000, foi substituído na presidência do Conselho de Administração da Caemi pelo irmão Mário, depois de uma fase em que a empresa entrou no vermelho. Agora, com a plantação de teca, tem a chance de provar seu talento pessoal de empreendedor e de sair de vez da sombra do império do avô.