No auge de sua posição de ‘superstar’ do cinema indiano, o ator, realizador e produtor Aamir Khan quer colocar sua fama a serviço de filme de autor, como testemunha sua última produção “Peepli Live” – uma visão tragicômica da realidade da Índia rural contemporânea.

Aos 45 anos, Aamir Khan é hoje um dos homens de mais poder e admirados de Bollywood, a indústria do cinema indiano.

Ator venerado em seu país natal, herói de dois sucessos históricos na Índia, “3 idiots” e “Ghajini”, é também conhecido no exterior por ter produzido e interpretado “Lagaan – Era uma vez na Índia”, filme que levou o público ocidental a descobrir Bollywood e que recebeu a indicação ao Oscar de melhor filme estrangeiro em 2002.

Seus dois seguranças, que o acompanham de dia e de noite, vigiam a entrada da suíte que ocupa num hotel de luxo de Beverly Hills, onde vai promover “Peepli Live”.

E mesmo se não há nenhum risco, em Los Angeles, de aparecer um bando de fãs apaixonadas, o acesso a ele é tão estrito quanto na Índia. Para quem consegue aproximar-se do astro, que usa jeans e camiseta, a impressão é de pessoa muito simpática e afável.

“Quando li o roteiro de +Peepli Live+, senti que seria um desafio para o público indiano”, declarou Aamir Khan à AFP.

“A maior parte dos filmes indianos são, em geral, contos de fadas, musicais desmesurados com heróis, de um romantismo cheio de ação e canções” à imagem de “Lagaan” ou “Devdas”, acrescentou ele. “A apresentação da realidade não é comum num filme indiano”.

Embora o cinema indiano tenha dado numerosos cineastas à história da Sétima Arte — Satyajit Ray, Raj Kapoor ou Guru Dutt — a maior parte da produção é constituída, hoje, de musicais de várias horas, produzidos em série, em estúdios de Mumbai, Chennai ou Hyderabad.

“Peepli Live”, que estreia nesta sexta nos Estados Unidos e na Índia, após a apresentação no último festival de Sundance, está muito longe desse modelo.

Primeiro filme da cineasta Anusha Rizvi, rodado na campanha indiana, conta as aventuras tragicômicas de dois irmãos agricultores, Budhia e Natha, dispostos a tudo para manter sua propriedade, apesar das dívidas, na cidade de Peepli.

Quando tomam conhecimento de que o governo decidiu indenizar as famílias de camponeses que se suicidaram, Budhia convence Natha a pôr fim a seus dias. O “camponês prestes a se sacrificar” e Peepli tornam-se, então, presas da televisão, à procura de uma boa história, em pleno período eleitoral.

“É uma formidável janela sobre a Índia rural de hoje, declarou Aamir Khan, que viveu na cidade durante toda a vida”.

“O filme mostra esse fosso crescente entre a Índia rural e a Índia urbana, e a maneira pela qual a sociedade põe todos os recursos, sua energia, sua riqueza, a serviço das cidades. As aldeias e a Índia rural são completamente esquecidas e tornam-se invisíveis para nós”, lamenta ele.

“De uma certa forma, é um filme sobre a sobrevivência. Os camponenses, os políticos ou a imprensa, cada um de nós, em função do meio ambiente e das circunstância, faz o que deve fazer para sobreviver”, disse ele.

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