19/09/2007 - 7:00
Em 2003, em plena crise econômica que assolava a Argentina, o jovem empresário Alan Faena fez o que muitos achariam loucura. Com uma idéia na cabeça e uma agenda telefônica recheada de bons contatos, convenceu quatro investidores a colocarem US$ 30 milhões à sua disposição para a construção de um hotel de luxo em Buenos Aires. Fruto de um projeto assinado pelo badalado designer Philippe Starck, nascia o Faena Hotel + Universe. Rapidamente, ele se tornou a maior referência da hotelaria na capital portenha e Alan Faena chamou a atenção por sua obstinação. Pudera: o hotel Faena personificou a audácia em uma época em que o orgulho argentino estava ferido. Agora, com a volta da pujança econômica no país, Faena mostrase mais ambicioso do que nunca. Junto com os mesmos investidores que criaram o hotel que leva o seu nome, ele vai aplicar US$ 300 milhões para transformar Puerto Madero em um bairro para chamar de seu, ou melhor, de Faena Art District. O empresário erguerá edifícios, um centro cultural, praças e um novo hotel. ?Quero transformar Puerto Madero em referência mundial de cultura, negócios, sofisticação e qualidade de vida?, disse Faena à DINHEIRO.
Os parceiros na empreitada são o russo Len Blavatnik, presidente da Access Industries (empresa do setor de energia e minerais), os irmãos Christopher e Robert Burch, do fundo de investimento Red Badge, e nada menos que Austin Hearst, vice-presidente do grupo de comunicação norte-americano Hearst Corporation e neto do lendário magnata William Randolph Hearst, que inspirou Orson Welles na criação do Cidadão Kane. Os edifícios residenciais da nova área continuarão levando a assinatura de Starck, mas o projeto arquitetônico do novo hotel foi feito pelo célebre inglês Norman Foster, o mesmo que desenhou o novo aeroporto de Hong Kong. ?É o arquiteto mais brilhante da modernidade?, diz Faena. ?Só ele pode concretizar minha idéia e deixar algo que transcenda a nossa época.? E prossegue. ?Quero recuperar o espírito que gerou obras como o Teatro Colón e o Congresso Nacional na época do primeiro centenário?, explica Faena. Não é por acaso que sua conclusão está prevista para 2010, o ano do bicentenário da independência argentina.
O complexo será batizado com o nome Aleph, em uma clara alusão à narrativa O Aleph, do escritor argentino José Luis Borges. Assim como a obra de Borges, o complexo quer se tornar um marco na história do país. Primeiro, serão dois edifícios residenciais de cinco e nove andares chamados de La Porteña e La Porteña II. O metro quadrado de um apartamento no local não sairá por menos de US$ 4,5 mil. Há alguns metros de lá encontrase a construção típica da belle époque portenha, Los Molinos. Já degradada pelo tempo, está sendo restaurada e será o centro cultural do complexo. O Aleph, todo projetado por Foster, é a última e mais notável peça do espaço de 130 mil metros quadrados que Faena pretende povoar. Dele, farão parte um hotel de 180 apartamentos, uma área comercial de luxo, um espaço social para eventos e um spa. Considerado louco por uns e visionário por outros, uma coisa sobre Alan Faena é certa: estão investindo US$ 300 milhões para realizar o seu capricho faraônico.